quinta-feira, 26 de maio de 2011

De Tim Maia a Nelson Motta

Sou um leitor compulsivo. Dias atrás, devorei em três dias a biogafia de Tim Maia feita por Nelson Motta. Nelsinho (desculpe a intimidade) é um dos meus heróis no jornalismo e na intelectualidade. Desde o tempo do falecido programa Noites Cariocas, que apresentava com a Scarlet Moon numa emissora de pouca audiência - não sei dizer qual é; acho que era uma daquelas pré-CNT, no Rio -, o acompanho. E sei que, apesar de ser paulista de nascimento, é carioca de corpo e alma.
Aprendi expressões impagáveis durante as (excelentes) entrevistas que ele e Scarlet faziam. Era um talk show que não tinha nada a ver com os xaroposos Jô Soares e Marília Gabriela, que não admitem ceder espaço para os convidados - interrompem o raciocínio do entrevistado, filosofam no meio da conversa, desviam o assunto... enfim, uma chatice. Nelsinho e Scarlet brincavam, deixavam o cara falar, tiravam sarro, criticavam, mandavam recados... Um barato. Pena que, provavelmente, as entrevistas tenham desaparecido para sempre, apagadas para dar lugar a uma bobagem qualquer nas fitas de vídeo.
Lembro especialmente de uma entrevista com Sandro Solviatti, um louco completo, uma figuraça. Ele aparece na biografia de Tim como um guru de meia-tijela que o cantor encontrou em Londres. Para quem não sabe quem é Sandro, é o garçom que atende pelo nome de Prepúcio no filme Bar Esperança, de Hugo Carvana. Foi uma conversa de malucos, com Nelsinho e Scarlet entrando na onda do Sandrão - como era chamado. O cara tinha uma voz de lixa, de deixar Lemmy Kilmister morto de inveja. Só Deus sabe qual era a composição orgânica para aquela voz.
As expressões, ah! as expressões. Nelsinho certa vez, mandando um recado para alguém que não me lembro, disse olhando para a câmera.
"No tempo em que se vendia gente, você era troco!"
Sensacional!
Outra, brilhante, para definir um período de dificuldade:
"Roendo borda de penico."
Maravilhoso.
O livro de Nelsinho é engraçadíssimo, mesmo sendo Tim Maia uma figura peculiar, cheia de histórias e folclore. Mas se batesse nas mãos de alguém que não tivesse a mesma verve, o livro podia sair careta, cansativo. O bom de Nelsinho é que ele deu leveza a um personagem confuso, conturbado, duvidoso.
Já tinha lido antes o Noites Cariocas, que é tão gostoso quanto. Nelsinho agora enveredou pelo caminho da ficção. Não sei se ele é bom na coisa, não li. Mas se não for, ele pode voltar perfeitamente à realidade das histórias de vida, na qual sem dúvida é brilhante.

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