sexta-feira, 27 de maio de 2011

O capitão enlouqueceu

Leio a Dora Kramer, no site do Estadão, e fico sabendo que terça-feira passada Palocci ligou para o vice Michel Temer para dar nele e no PMDB uma "chave de galão". Essa expressão bem carioca representa enquadrar, emparedar outra pessoa. Colocar-lhe a faca no peito, enfim.
Pelo telefone, Palocci transmitiu recado da presidente Dilma, dando conta de que todos os ministros do PMDB seriam demitidos caso o partido votasse contra o governo no Código Florestal. Temer, fleumático, respondeu que isso não seria preciso, pois no dia seguinte todos colocariam os cargos à disposição, independentemente do resultado da votação.
Ou seja: o ministro tratou o vice-presidente como um subordinado. Palocci ate desculpou-se depois, mas o estrago estava feito, sobretudo porque, na ameaçadora conversa, fora especialmente duro com Wagner Rossi, ministro da Agricutura, indicação pessoal de Temer. Um diálogo desses mostra que as coisas estão de cabeça para baixo no governo.
Primeiro porque Palocci está hierarquicamente abaixo de Temer e, se alguma conversa tivesse em nome de Dilma, os termos deveriam ser outros. O vice-presidente foi tratado como um subalterno, alguém do segundo escalão. Isso é impensável e Temer foi até brando no tratamento dado ao ministro, evitando colocá-lo no devido lugar e criar um problema difícil de ser contornado.
Segundo porque a interlocução, neste caso, é da presidente para o vice. Se Dilma não gosta de fazer política de varejo, está na hora de aprender. Existem coisas que somente ela pode fazer, como tratar com Temer a rebeldia do PMDB. Assim mesmo, num tom de voz aceitável, sem tapas na mesa.
Num momento em que Palocci precisa de todo apoio para manter-se respirando, um entrevero com o vice significa entrevero com o PMDB, que representa complicar ainda mais as coisas para o governo. Sobretudo porque a relação entre o partido e o da presidente, o PT, é tempestuosa.
Na minha visão, isso representa o seguinte: a defesa política do ministro está se tornando cara demais para o governo e pode ficar inviável se episódios como este se tornarem comuns.

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