domingo, 5 de junho de 2011

A temperatura continua alta

No post do dia 2, disse que o pronunciamento do ministro Palocci não adiantaria muito coisa. Estava na cara e nem era preciso ser um grande analista para perceber isso. Achei até que ele se saiu bem na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, sexta-feira. Estava seguro, prova de ter sido bem ensaiado. Mas não dissipou as dúvidas em relação à sua decência. Pela simples razão de que a opinião pública já fez seu juízo e está farta de políticos e administradores que podem até ser honestos, mas não parecem.
Palocci se encaixa nessa definição. Mais uma vez se envolvido num episódio nebuloso, ocupando um cargo de relevância. No episódio do caseiro Francenildo, era o avalista do governo Lula: ministro da Fazenda. As provas se avolumaram de tal maneira contra ele que não restou alternativa a não ser sair. Agora, no governo Dilma, é o homem da ligação política e da articulação, o mais importante integrante do ministério. E de novo está na berlinda. De novo vai cair.
O Brasil perdeu a confiança nos seus homens públicos. Há personagens no governo Dilma que negam a existência do mensalão. Se o fazem por convicção, é outra história. Acima de tudo está a sobrevivência política a qualquer custo, mesmo ignorando o óbvio. É tamanha a impunidade que o cidadão descrê que o sujeito esteja falando a verdade, tenha seguido todos os trâmites e que sua fortuna aumentou por causa da competência, não do tráfico de influência. Por isso, Palocci é uma alma penada.
Todos os jornais de hoje afirmam que já se cogita a saída do ministro. As razões vão desde acharem que a entrevista veio tarde demais, à falta de explicações convincentes. Passa pelo desgaste do governo e chega ao fato de que existe o senso comum de que, enquanto Palocci continuar no cargo, a presidente Dilma Rousseff segue sangrando.
Dizem que ela teria perdido a confiança nele. É bem possível, é do feitio dela. Só que não perdeu a confiança agora. Perdeu ao longo da forma inepta como o processo foi tratado. Ela mesma ajudou muito, contrariando a imagem de xerifona e intransigente com supostos (ou não) atos de corrupção dos seus auxiliares. Para quem andou dando ordens ao PMDB, dizendo que não entregaria partes do Estado a alguns tubarões do partido, a tolerância com Palocci a enfraqueceu.
Para piorar a situação, o Palácio do Planalto fica sem interlocutor político. O ministro-chefe da Casa Civil está no papel do "lame duck", do pato manco, e o ministro Luiz Sérgio jamais foi visto com seriedade. Há um hiato que vai ser rapidamente ocupado por alguém, já que, em política, não existe espaço vazio. Que vai se qualificar para ser o substituto de Palocci.
Eu apostaria em José Eduardo Cardozo, já que Dilma não sabe fazer articular e Michel Temer está ocupado demais tentando controlar o PMDB, que quer subir na canoa da crise para agravá-la e aumentar seu cacife.
Quanto a Palocci, deve ser instado a sair. Alegará pressão da família ou qualquer coisa do gênero.

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