quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ai de ti, Brasília

Brasília talvez seja a cidade com maior número de milionários por metro quadrado. É uma profusão de carros sensacionais, gente bonita e bem vestida, uma pujante high society e uma frequencia sem muitos pudores a joalherias e outros templos de consumo, que impressiona quem vem de fora. Exceto por São Paulo, cuja Meca das marcas voltadas para milionários e outras espécies de endinheirados é a combalida Daslu e o Shopping Cidade Jardim, nenhuma outra cidade do Brasil tem um comércio de luxo como Brasília. Numa passada no Shopping Iguatemi, no Lago Norte, lojas como Louis Vuitton, Burberry ou Ermenegildo Zegna oferecem itens que não são disponíveis aos pobres mortais.
As vitrines dessas marcas não deixam dúvidas: nelas, o artigo mais modesto começa em três dígitos, quase quatro. Estão abertas, bem instaladas e funcionando, sinal de que há público consumidor. No estacionamento do shopping, não é raro ver, por exemplo, um Porsche. De onde vem tanto dinheiro é a resposta que poucos ousam dar.
Mas não é tão difícil assim seguir a trilha, que vai dar invariavelmente nos ministérios, nas autarquias, enfim, no governo federal. O do Distrito Federal também contribui com sua parcela de sustento de milionários.
Então, quando o ex-chefe de Gabinete do Ministro dos Transportes ergue uma megacasa, de mais de mil metros quadrados de área construída, ninguém estranha. Vira escândalo quando o nome do sujeito está no olho do furacão que pode apear Alfredo Nascimento, a qualquer momento, do comando da pasta por causa das várias denúncias de corrupção. Também ninguém estranha como o quase ex-ministro tem um filho de 27 anos que é um gênio das finanças, pois conseguiu multiplicar o capital da sua empresa em mais de 80 mil por cento.
Se a revista Veja não tivesse destapado o malcheiroso bueiro cuja tampa é bem no centro do gabinete do ministro, todos estariam calados. Aliás, o mérito da revista é relativo, pois sabe-se que de vários gabinetes ministeriais emana um cheiro insuportável de sujeira. O problema é que, para que a lama comece a escorrer na direção da rua, é preciso um denunciante desonesto, que o faz porque teve algum interesse contrariado. Fora isso, ninguém pergunta como algumas autoridades e ex-autoridades amealham bem móveis e imóveis de alto valor, de maneira meteórica.
Um dono de jornal aqui em Brasília mais parece um funcionário mediano de uma altarquia qualquer, de um banco qualquer. Camisa sempre para fora da calça, cabelo desalinhado, barriguinha de chope, cara comum, andar apressado, sapato sem brilho. A única coisa que chama a atenção para o fato que talvez não seja um cidadão comum é o relógio IWC Ingenieur que leva no pulso. Mas isso ninguém nota. E quem nota, mas não conhece o cidadão, acha que é falsificação.
No entanto, do lado de fora, o Porsche Carrera S preto reluzente denuncia sua condição de endinheirado. Aliás, esse não é o único Porsche que tem em casa, ele que é fã dos carros alemães. A filha tem um Audi novo, o filho um Volvo – vá lá, não é alemão, mas sueco. De qualquer forma, comprados novos, os carros dos meninos não saem por menos de R$ 100 mil. E tenha certeza: foram comprados zero. Os dois jovens seguem a linha do pai: perfil baixo, roupas sem grifes aparentes.
Papai dono de jornal não admite “não” e tira tudo que atravessa o caminho dos seus negócios. Usa o jornal como pé-de-cabra sem a menor cerimônia. Na sua corrente de relacionamento, há empresários e políticos locais e nacionais, inclusive um senador. Essa relação, evidentemente, é lucrativa para todos.
Mas é apenas um exemplo que conheço. Se fizerem uma devassa nas empresas desse homem, pode ser que fique em situação complicada. Só que são poucos os que se arriscam a colocar a mão nesse saco de caranguejos, do qual se um for puxado, agarra-se em pelo menos mais dois – e os três vão juntos para a panela. Como ele, são vários os que gravitam em torno dos governos e em todo o Brasil. O governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho, poderia fornecer a lista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário