quinta-feira, 7 de julho de 2011

Algumas ajudas que só atrapalham

A ministra Ideli Salvatti reapareceu ontem para colocar água na fervura da crise envolvendo a substituição de Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes. Disse que o ex-ministro “vai ajudar” na indicação do seu sucessor, porque "o ministro Nascimento prestou serviços que sempre foram levados em consideração pela presidente”, conforme relata o site da Folha de S.Paulo. Bem, essa declaração é parte do novo figurino diplomático que Ideli teve de assumir para poder negociar com o Congresso. Mas é tão verdadeiro quanto a nota de apoio emitida pela Presidência ao ex-ministro, depois da explosão das denúncias da Veja.
A partir do momento em que a própria presidente afirma que o Ministério ficará com o PR, e sendo Alfredo Nascimento presidente do partido, é evidente que as negociações terão de passar por ele. O preço disso e como vão se entender é outra história. Sobretudo porque sabe-se que Dilma não tem lá tanto apreço assim pelo ex-ministro, com quem, no governo Lula, bateu de frente quando foi acusada da falta de andamento de obras na pasta. Para quem não conhece o episódio, vale à pena relatá-lo.
Nascimento certa vez foi chamado por Lula a explicar porque vários projetos relacionados ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) estavam frios ou cozinhados em fogo brando. O ex-ministro não se fez de rogado: colocou a culpa na Casa Civil, que, segundo ele, impunha inúmeras restrições.
Sabendo que havia sido apontada pelo responsável pelo Ministério dos Transportes de dificultar as coisas, Dilma pediu a Lula que tivessem uma conversa a três. O presidente marcou e, no dia do encontro, lá foi ela com munição de grosso calibre. Quando passaram a esquadrinhar aquilo que supostamente andava lentamente por obra de graça da Casa Civil, Dilma começou a rebater com firmeza as observações de Nascimento.
“E isso aqui, Alfredo?” – perguntava irritada a hoje presidente, apontando para a planilha. “É falta de dinheiro, Alfredo? Não, não é falta de dinheiro.” Dilma fez isso várias vezes, para desgosto de Lula e constrangimento do ex-colega de ministério.
Esse, porém, não é o único episódio em que a presidente deixou evidente que não nutria simpatia alguma pelo ex-titular dos Transportes. Segundo a coluna de Cláudio Humberto de 3 de abril passado, na reunião do Conselho Político havida dias antes, Dilma mostrou que considerava Alfredo Nascimento figura de segunda categoria. Ela deu a palavra a alguns ministros, como Guido Mantega (Fazenda), e quando Alfredo tentou se manifestar, foi admoestado:
“Você, não. Você está aqui como presidente de partido, só isso”.
A caveira de Nascimento já havia sido feita, em maio, pelo governador Cid Gomes quando classificou-o de “inepto, incompetente e desonesto” ao comentar a condição das BRs que cortam o Ceará. A indignação de Cid, inclusive, chegou ao ponto de cobrar da bancada do Estado no Congresso boicote a temas do interesse do Ministério dos Transportes. Não parou aí: tachou a pasta como “antro de roubalheira” e de “laia” sua cúpula dirigente.
Nessa época, por conta da crise envolvendo Antonio Palocci, os ataques passaram quase despercebidos. Houve ainda quem interpretasse que se tratava de mais uma diatribe do governador, por conta da perda de espaço no PSB e por não ter reivindicações atendidas pelo Palácio do Planalto.
Mas vê-se hoje que, há quase dois meses, alguém já chamara a atenção para a atuação de Alfredo Nascimento.

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