sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mais uma decepção a caminho

A ex-ministra Marina Silva disse ontem, ao deixar o PV, que o momento é mais para ser “sonhática” do que “pragmática”. Tirando o trocadilho de péssima qualidade, seria interessante perguntar a ela o que pretende fazer com o capital de votos que amealhou na eleição presidencial passada, quando conseguiu atrapalhar a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. Porque não se justifica que não saiba que rumo vá tomar da vida.
Marina tem tudo para transformar a esperança de que seria um sopro benfazejo na política numa enorme decepção. A saída do partido sem que tenha decidido seu futuro a empurra nessa direção. Quem votou em Marina, ano passado, foi porque recusou veementemente aquilo que Dilma representava, que eram os oito polêmicos anos de Lula, ou a volta de um projeto indefinido, representado por Serra. Marina representou verdadeiramente uma terceira via, um compromisso diferente daquele que torna a hoje presidente e o ex-governador tucano mais parecidos do que imaginam.
Só que a ex-ministra prefere ser “sonhática”, seja lá o que isso represente. O Brasil, definitivamente, não precisa de sonhos. Precisa de gente com capacidade e isenção dfe torná-los realidade. Sonhar por sonhar é coisa de enredo de escola de samba, feito para durar o tempo exato de pouco mais de uma hora de desfile. De Marina espera-se muito mais do que sonhos; espera-se projetos.
Com essa saída espetaculosa do PV, num salto mortal sem rede de proteção embaixo, Marina assume uma decepcionante face aventureira. Briga feio contra um status político estabelecido desde que o Brasil foi descoberto, no qual personagens como ela têm sempre condição de fazer alguma diferença. Não fosse assim, não teria obtido uma bela votação. Sinal de que, na democracia capenga e corrupta do Brasil, os eleitores anseiam por pessoas de bem, diferentes, com programas distintos, que não façam parte da geléia geral que una a ponta da esquerda na direita.
Ela não entendeu o significado dos votos que recebeu. Se uma parte foi de protesto, daqueles que não queriam Dilma e tampouco Serra, a outra foi de pessoas que viram nela um compromisso diferente. Um compromisso com a sociedade, com a retidão, com a decência, com o desempenho, com o engrandecimento do País. Marina levou aqueles votos que, em 2002, foram para Lula, cansados que estavam de oito anos de Fernando Henrique Cardoso e de uma curriola que se imaginava na época que jamais voltaria. Pois o que subiu com Lula foi exatamente igual, senão pior.
O que a ex-ministra vai fazer em 2012? Nem ela sabe. E aqueles que pretendiam atrelar seus projetos políticos à imagem dela, para que na disputa municipal começassem a formar uma corrente que fizesse diferença? Marina relegou todos ao desamparo, ignorando que sua imagem não mais lhe pertence. O símbolo que representa era uma esperança para quem ainda acredita que é possível fazer política com ética.
Ficam todos no ar. O Brasil dispensa solenemente os que têm propostas, mas não têm meios de executá-las. Marina vai voltar a ser somente a voz da floresta, do conservacionismo? Pouquíssimo. Naturalmente que ela não era obrigada a continuar numa legenda que já começa a vestir o figurino do adesismo, mas, ao menos, poderia mostrar para todos que seguiria trilhando um caminho dentro da política que justificaria os milhares de votos que recebeu.
Se Marina tornar-se uma decepção, fica claro que somente os piores sobrevivem às corridas eleitorais. Não é a lei do mais forte, mas a lei do cão.

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