sexta-feira, 8 de julho de 2011

A mesma coisa há mais de 20 anos

O Ricardo Teixeira que está aí, destilando importância na entrevista concedida à revista Piauí, já podia ser percebido em 1989. Cobri para O Globo a eleição da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que o elegeu por unanimidade, na sequência da desastrosa gestão de Octávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid. Depois de uma dupla de trapalhões, o então genro do presidente da FIFA, João Havelange, se credenciava como a pessoa certa para arrumar toda a bagunça reinante.
Já naquela época, a pele de Teixeira tinha a tonalidade Vermelho Johnnie Walker. Entendam como que quiserem essa relação que acabo de fazer. Era respaldado por supostamente todas as pessoas sérias dos clubes e das federações, essas mesmas que apóiam qualquer pessoa desde que regiamente remuneradas. Até o sinistro Eduardo Vianna, o Caixa D’água – incrível como se orgulhava do estranho apelido -, estava com Teixeira. E não era à toa: o diretor de Futebol da CBF, que se elegeu com o novo presidente, era ninguém menos que Eurico Miranda, então vice-presidente do Vasco da Gama e amigo do peito do Caixa.
Ninguém traz Eurico para perto de si sem que algo de muito estranho esteja por trás. Mas, naquela época, final de governo Sarney, com Lula anunciando que iria disputar sua primeira eleição presidencial e um certo governador de Alagoas fazendo saber a todo o Brasil que perseguia implacavelmente os marajás do seu Estado, imaginava-se que o País estava virando uma página cinzenta da sua história. Viu-se depois que a realidade matou a esperança a pauladas.
Uma das promessas de Teixeira era anunciar o técnico da seleção assim que tomasse posse, no começo de 1990, e que levaria o time à Copa da Itália. O então futuro presidente da CBF já havia externado em alto e bom som quem seria: Carlos Alberto Parreira. Parreira, então treinando um time qualquer do mundo árabe, não confirmava nem negava. Creio que acreditava que os xeiques iriam liberá-lo quando Teixeira assumisse. As negociações para isso, aliás, pareciam ir de vento em popa.
Parreira, porém, não veio e a resposta foi dada em cima da hora. O recém-eleito presidente da CBF, nessa época ainda num prédio de portaria apertada na Rua da Alfândega, no Centro do Rio, ficou de saia-justa. Promessa é dívida e a imprensa queria o nome do técnico da seleção na Copa.
Foi um corre-corre, porque, junto com o técnico, também seria anunciada uma lista de 22 jogadores, pré-convocados para o Mundial. Estava lá eu escoltado pelo veterano Jorge Areias, quase dois metros de um mulato educadíssimo. Eu era a impetuosidade, a juventude, e Areias a experiência, a tranquilidade. Deu tudo errado, porque, no meio da confusão, acrescentaram mais quatro nomes aos 22. Avisei a Areias, que, pelo jeito, esqueceu-se. O resultado é que Renato Maurício Prado, nosso chefe na época, deu-nos uma bronca de homéricas proporções. Aliás, isso tem outro nome: um puta esporro. Quase pagamos com nossos empregos.
Enfim, voltando à CBF, nada de o nome do técnico sair. Os veteranos nos corredores da entidade, como Baffinha, Israel Gympel, Cachorrão, Arthur Parahyba, Mário Silva, perceberam que aquela demora era porque algo estava errado. Começou o zum-zum-zum. Depois de alguma tensão, aparece Eurico que, com a cara mais deslavada do mundo, anuncia Sebastião Lazaroni técnico da seleção.
Os meses que se seguiram, com Lazaroni usando expressões que não tinha a menor ideia do que significavam – a ponto de a imprensa, jocosamente, colocar o nome nesse estranho dialeto de “lazaronês” -, mostraram que a CBF não mudara tanto assim. Continuava uma confusão dos diabos e com todos querendo tirar proveito desse reino em que ninguém se entendia.
O resultado disso vocês devem se lembrar: a seleção de 1990 foi um bando em campo, eliminada com justiça pela Argentina de Maradona e Caniggia. Teixeira sobreviveu aos mais variados vendavais, sobretudo a CPI da Bola, em que o notório Eurico – que sabe-se lá como foi eleito deputado federal, prometendo “defender os interesses do Vasco” - rasgou o relatório final na frente das câmeras e disse que apresentaria outro, um “alternativo”. Eurico, aliás, para o bem do futebol, desapareceu e levou junto sua figura esdrúxula e anti- higiênica.
Teixeira ainda não.

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