segunda-feira, 11 de julho de 2011

Na reta final

Era fácil prever que depois do Ministério dos Transportes, a bola da vez seria o do Turismo. O ministro Pedro Novais começou sua gestão com o pé esquerdo: primeiro, jogou na verba de gabinete gastos com farra num motel de São Luís e, mais recentemente, vem irrigando as festas de São João com dinheiro público. Longe de serem eventos culturais, na realidade essas quadrilhas (no bom sentido) servem muito mais para políticos locais se derramarem em proselitismo. O deputado aparece como benfeitor e embolsa os louros obtidos com o forró à custa da União.
A presidente começou a minar Novais de maneira habilidosa: colocou na Embratur o ex-deputado Flávio Dino, desafeto declarado do clã Sarney, ao qual o ministro do Turismo é ligado. A rigor, a autarquia é a única coisa importante do Ministério e está nas mãos do Palácio do Planalto. Pela pasta passará uma boa quantidade de verbas com vistas à Copa e à Olimpíada. E Dilma não é louca de deixar alguém no qual não tem a menor confiança, como Novais, administrando tamanha quantidade de recursos.
A presidente só não dispensa o ministro agora porque seriam crises demais ao mesmo tempo. Na escala de prioridades está a solução do Ministério dos Transportes: o senador Blairo Maggi não aceitou o convite e amanhã Luiz Antônio Pagot vai ao Senado prestar depoimento. Claro que vai ser indagado sobre a questão do DNIT, pois já disse que apenas cumpria ordens.
Aliás, está aí uma situação interessante. Blairo deu entrevista a’O Globo no qual, além de afirmar que não é advogado de defesa de Pagot, negou que ele tenha falado as coisas de maneira que soassem como recados ao governo. No entendimento do senador, seu afilhado disse apenas que, embora fosse diretor de uma das principais autarquias do Ministério, não decidia nada somente pela própria cabeça. No domingo, ao mesmo O Globo, o ministro Paulo Bernardo deu uma entrevista em tom duríssimo, na qual negou que tivesse feito qualquer pedido especial – digamos assim – a Pagot.
Daí porque acredito que a montanha vai parir um rato amanhã. Nos últimos dias, o PR fez circular várias versões de que Pagot iria abrir a boca, que seria um “homem-bomba” etc. e tal. Puro blefe. Por mais que seja verdade, o partido não tem interesse algum de detonar revelações comprometedoras contra quem quer que seja. Usará isso como moeda de troca, embora, como diga o ditado, cão que ladra não morde. No atual estágio da hipocrisia nacional, ninguém enfrenta seu adversário de peito aberto: vaza a informação que lhe interessa para algum veículo de grande circulação.
Além do mais, com a questão do mensalão surgindo no horizonte, o PR e o PT têm que se acertar, porque alguns dos seus integrantes nada ganham com o chumbo trocado. Valdemar Costa Neto está aí na iminência de renunciar mais uma vez ao mandato para forçar seu inquérito do mensalão a voltar para a primeira instância da Justiça. Os demais petistas envolvidos na história são pessoas das quais o Palácio tem mantido equidistância, inclusive José Genoíno, cuja nomeação passou a ser um problema exclusivo do ministro Nelson Jobim.
Assim, com o recesso parlamentar chegando na sexta-feira e todos preocupados em votar o Orçamento, o momento é de meditação para os envolvidos. Dilma não vai precipitar nenhuma limpeza nesse instante, para não colar uma crise na outra. O PR, por sua vez, está sendo instado a procurar alguém que o represente no Ministério dos Transportes, embora a presidente já tenha deixado claro que a futura administração não será como aquela que passou. No Turismo, o Palácio já conseguiu pôr uma cunha na porta que o atrapalhado Pedro Novais mantém aberta. Blairo se recolhe para os bastidores na tentativa de segurar Pagot, que mandou recados, mas não vai confirmá-los.
Ou seja, o primeiro semestre político termina com todos revendo suas posições para os próximos seis meses.

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