quarta-feira, 6 de julho de 2011

O problema está no fundo

A situação do ministro Alfredo Nascimento (Transportes) pode ter se tornado insustentável, mas não será por isso que ele vai cair. E também não será por causa do Partido da República, ao qual é filiado. Ninguém acredita realmente nas ameaças do PR de seguir na direção da oposição. Não tem cacife para isso devido à sua pouca capilaridade, o que o torna refém do poder, esteja com quem estiver. Pode até sair batendo a porta caso deixe a base aliada, mas, com o passar do tempo, será atraído de volta ao poder, como as mariposas são chamadas pela luz.
A questão de fundo é mais complicada e é por isso que a presidente Dilma pisa em ovos ao substituir Nascimento, que já não interessa tanto assim. Há uma questão de fundo que poucos estão levando em consideração: o temor que fica quando a presidente resolve punir os incompetentes. E aí, no rol dos partidos, não sobra ninguém.
Está na cara que o fogo amigo acertou Nascimento. Quem foi, pouco importa. Mas a disposição de Dilma em fuzilar sem piedade os principais auxiliares de Nascimento foi o que acendeu a luz vermelha entre os partidos. Imagine-se, amanhã ou depois, nova denúncia de corrupção contra algum ministro que não seja da preferência da presidente? – e não são poucos, personificados naqueles que herdou de Lula.
O PMDB, por exemplo, tem um problema chamado Pedro Novaes, ministro do Turismo. A presidente não o quer e ele está ali por causa das conexões íntimas com José Sarney. Se amanhã ou depois aparecer alguma denúncia cabeluda contra o ministro, são imensas as possibilidades de ela agir com a mesma inclemência. Pode até não tirá-lo, mas vai cortar-lhe as asas, de maneira que, no seu ministério, fique totalmente isolado.
Os partidos da base estão unidos em torno da sobrevivência e da manutenção do quinhão de cada um. Não é um caso isolado do PR. O ministro dos Transportes perdeu o que lhe era mais precioso: o rol de auxiliares, que o deixava a salvo dos negócios que estavam sendo feitos à sua sombra. Alfredo Nascimento não colocou qualquer das digitais nas trampolinagens das quais são acusados os dirigentes da Valec e do DNIT. Sua função não era essa. Sua função era de deixar a coisa correr frouxa e, depois, se flagrado, fazer cara de surpresa.
O Palácio do Planalto passou a tutelar o ministro dos Transportes e era tudo que o PR não queria. Aliás, não apenas o PR, mas o PMDB, o PT, o PTB e por aí vai. Aos partidos não interessa a interferência direta de Dilma na máquina dos ministérios, indicando auxiliares e fazendo secretários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário