quarta-feira, 6 de julho de 2011

Risco do seis por meia-dúzia

Acreditei que Alfredo Nascimento duraria um pouco mais no Ministério dos Transportes. Mas a reportagem publicada n’O Globo de hoje de que seu filho tornara-se, aos 27 anos, um gênio das finanças, multiplicando em mais de 80 mil por cento o patrimônio da sua empresa, sentenciou-o ao cadafalso. Estava na cara que o pai turbinou a empresa do filho, assim como turbinou outras empresas e contas bancárias de muita gente que vinha atuando junto à Pasta nesses últimos sete anos.
Mas o governo vai trocar seis por meia-dúzia caso mantenha a estrutura que o PR montou no Ministério. O deputado Valdemar Costa Neto (SP) surge como uma espécie de eminência parda, dando as cartas independentemente de quem esteja no comando. Com Alfredo, a relação estava consolidada e qualquer que seja a figura do partido escolhida pela presidente Dilma para ocupar o cargo, Valdemar continuará atuando com desenvoltura.
Prova disso é o vídeo que a revista IstoÉ disponibilizou em seu site, mostrando a intimidade de Valdemar com Alfredo e denunciando que trabalhavam juntos. Ao liberar o pedido de um deputado federal do baixo clero para uma obra no Maranhão, Valdemar fala quase tanto quanto Alfredo, como seu fosse um secretário-executivo, um chefe de gabinete. Enfim, com o despojamento de quem manda na casa.
O ex-ministro ainda brinca: “Rapaz, cê não tá nem no partido e já tá conseguindo arrancar as coisas daqui”. Todos riem. O interessante é que o vídeo parece ser institucional, não somente por causa da qualidade – imagem, som, enquadramento -, mas porque um fotógrafo ao fundo testemunha o encontro. É só observar os flashes.
É o registro pronto e acabado de que perdeu-se a vergonha e que a negociação de dinheiro público para aliciar parlamentares para o PR tornou-se um método que tanto o ministro, quanto Valdemar, consideravam lícito. Além do mais, Valdemar todo o tempo se imiscui na conversa entre Alfredo e o deputado, mostrando o nível de interferência que dispunha no Ministério.
Só que o PR não deve aceitar fazer um ministro fraco, que não manda nos seus subordinados. Se não toma conta da máquina do ministério, por quê comandá-lo? E se aceitar fazer um ministro fraco, vai se juntar à banda dos insatisfeitos no Congresso para impor derrotas ao Palácio do Planalto.
Assim, a questão torna-se ainda mais problemática, pois percebe-se que a febre moralizadora dura pouco. Dura até a imprensa esquecer o assunto e outro escândalo surgir no horizonte ou a base aliada mandar um recado claro à presidente na forma de um resultado que não a agrade.

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