sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Dos males, o maior

“Ficou pior a amêndoa que a sineta”, como supostamente diria o hoje quase esquecido Ibrahim Sued, segundo o também pouco lembrado Sérgio Porto – vulgo Stanislaw Ponte Preta. Porque da mesma forma que o governo Dilma consegue marcar gols de placa, como a faxina no Ministério dos Transportes, faz gols contra bisonhos, como a substituição de Nelson Jobim por Celso Amorim. Até a rima entre os sobrenomes é pobre. O desalento é completo. É o Festival de Besteiras que Assola o País, o Febeapá, em seu grau mais elevado, diria Stanislaw.
Falaram muito sobre a péssima escolha, pelo esquerdismo estúpido de Amorim, embalado pelas loucuras antiamericanas de Samuel Pinheiro Guimarães, seu ex segundo no Itamaraty e com quem tem relações que vão além da afinidade doutrinária – os une também um contraparentesco. Irã, Farc, Venezuela, Cuba, apoio às ditaduras árabes, desprezo pelos direitos humanos, derrotas históricas nas indicações feitas pelo Brasil para organismos internacionais – é grande a lista de fracassos na conta de Celso Amorim nos seus oito anos à frente do Itamaraty. Mas estão deixando passar algumas coisas que não poderiam ficar em segundo plano.
Ao assumir o Ministério da Defesa, o ex-chanceler refaz em parte o eixo diplomático que tinha com Marco Aurélio Garcia. O delirante professor, que acha ainda que o socialismo será a rendição da humanidade, deve ter dado urros de satisfação. Impossível não pensar que, trabalhando juntos, vão desviar o Ministério das Relações Exteriores de um caminho que, se não é o da mais completa correção, pelo menos não é o da total boçalidade.
Com Antônio Patriota, o Itamaraty tomou atitudes coerentes. Logo de cara mostrou aos Estados Unidos de Obama que há entre os dois países muito mais em comum do que imagina nossa vã diplomacia. Afastou dos cachorros loucos de Teerã, assim como colocou Hugo Chávez em sua posição – a de completa irrelevância, sobretudo porque os projetos comuns com a Venezuela ficaram somente a cargo do Brasil. Com esses dois escanteados, Evo Morales e Rafael Correa também passam a se identificar na porta do Palácio do Planalto, bem diferente da época em que subiam direto para o gabinete presidencial sem se anunciar.
Sobre a condenação ao ditador sírio, ainda que a postura do Brasil seja medrosa, é bem mais correta do que no passado. Aquela zona é explosiva demais para sair condenando ou atacando quem quer que seja. Israel mesmo teme que, depois de Assad, sejam os loucos ligados ao Hezbollah os donos do poder em Damasco. O que é ruim pode sempre ficar pior. O Itamaraty não faz nada que os EUA não tenham feito: uma política de omissão, de condenação branda ou de apoio fraco. Pode ter causado imensas insatisfações, mas, fosse em outras épocas, nossa diplomacia teria se jogado gostosamente nos braços do claudicante governo da Síria.
Patriota, inclusive, assume um legado de desastres que levará tempo para desfazer. Mas com Amorim em conexão direta com Garcia, no Palácio do Planalto, e o acesso direto à presidente, são grandes as possibilidades de uma vigorosa oposição se fazer dentro do governo contra as conduções feitas pelo Itamaraty. E isso é péssimo. Como Dilma tem mostrado uma imensa hesitação em alguns momentos, dois lados a lhe soprarem direções diferentes apenas aumentará as dúvidas da presidente.
Por fim, outro aspecto que está passando batido: a da compra dos caças para a Força Aérea Brasileira. Quando Dilma quis rever o processo de escolha desde o começo, deu um duro golpe nos Rafale franceses, que já estavam praticamente embalados para serem trazidos ao Brasil. Pelos militares da FAB, a escolha recai sobre o Gripen NG, que terão oportunidade de desenvolver com os suecos, adaptando o avião às necessidades brasileiras. Porém, há ainda o F-18, uma espécie de sucesso e público e de venda, que os EUA juram que serão entregues a nós sem qualquer restrição tecnológica. Com a volta de Amorim ao cenário, o jogo começa a ser desempatado em favor dos Rafale.
O ex-chanceler foi um dos artífices da escolha do caça francês, a ponto de ter promovido uma imensa gafe ao trazer o presidente Nicolas Sarkozy para participar do Sete de Setembro. Embora Nelson Jobim também fosse um promotor do jato da Marcel Dassault, tinha ao menos o bom senso de entregar a decisão para a tropa, que é quem vai voar neles e sabe de ciência certa o que nos atenderia melhor. No caso de Amorim, será ele quem procurará definir a escolha, não somente pelo seu estilo centralizador, mas pelos compromissos assumidos com os franceses.
A presidente Dilma até que vinha bem. Tinha algumas boas opções para o Ministério da Defesa, como o deputado Aldo Rabelo e até mesmo a interinidade do vice Michel Temer. Preferiu aquela que tem tudo para ser a pior. Deus a ajude e nos proteja.

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