quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sinais trocados

Difícil entender o que o ministro Nelson Jobim realmente pretende com as traulitadas que tem dado no governo. Há quem diga que ele está tentando se cacifar, desde já, como pré-candidato à Presidência em 2014, pelo PMDB. O grande problema é que algumas coisas teriam de acontecer nesse meio-tempo, a principal delas que o governo Dilma fosse um desastre tão completo que sua reeleição seria impraticável. Outra coisa também teria que acontecer para viabilizar uma eventual candidatura Jobim: Lula não querer disputar essa eleição. Em qualquer dos dois casos, o PMDB seguirá colado ao PT, seja com Dilma, seja com Lula.
Jobim, de qualquer forma, morre no final do filme. Assim, sem um objetivo claro, suas declarações não passam de provocações que, evidentemente, não seriam toleradas. O mais curioso é que ele dá sinais dúbios: primeiro, quando abre a boca para criticar e, depois, fazendo juras de amor ao governo, à presidente Dilma, aos ministros. Ele não é um bobo; é suficientemente experimentado para saber que tudo o que disse até agora causaria constrangimento.
Estaria querendo sair? Por que, então, na conversa com a presidente, dias atrás, disse que se tivesse de deixar o Ministério da Defesa, preferia fazê-lo numa eventual reforma ministerial, no final do ano? Não sabia das consequências da entrevista à Piauí, na qual chama Ideli Salvatti de “fraquinha” e acusa Gleisi Hoffman de “não conhecer Brasília”? Por que não falou sobre isso com Dilma, no encontro? E por que desmentir que tenha criticado as duas ministras? Por que não entregou já ali a carta de demissão?
Primeiro foi no aniversário de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando se disse “cercado de idiotas”. Claro que estava mandando um recado ao PT. Os petistas perceberam isso, mas os caciques resolveram não colocar mais lenha na fogueira. Em nome de não fazer marola, preferiram minimizar a crítica.
Depois foi a confissão de que, na eleição presidencial passada, votou em José Serra. Bem, se votou em Serra, por uma questão de coerência não deveria ter aceitado convite para permanecer no ministério. Mais uma vez, todos sorriram amarelo e esforçaram-se para parecerem liberais, afirmando que o voto é livre e que isso não o desqualifica como ministro.
Agora, uma tamancada bem cocoruto de Dilma, Ideli e Gleisi.
Não se justifica o desmentido da Assessoria de Imprensa do Ministério da Defesa, que entrou em bate-boca com a direção da Piauí. Não se justifica que o próprio Jobim, quando indagado sobre o assunto, em Tabatinga (AM), tenha afirmado que se trata de intriga e desejo de derrubá-lo do Ministério. Como ex-parlamentar e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, se há algo que Jobim conhece é justamente Brasília, seus ambientes, suas artimanhas e suas tramas. Exatamente aquilo que acusou Gleisi Hoffman de não saber o que é.
As horas para Jobim estão contadas. Não sairá atirando, é claro, mesmo porque não há razões para isso. Se alguém deu motivos para a saída, foi justamente o (ainda?) ministro da Defesa. Com os dias a gente vai descobrir o que realmente se passou. E certamente não foi apenas a incontinência verbal de Jobim que o levou a esta situação.

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