terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sons para se ouvir no carro V

A gente vai ficando velho e vai admitindo um monte de coisas. Quando eu era mais garoto, não podia sequer me imaginar ouvindo Earth, Wind & Fire. Achava que eles eram a expressão da discoteca mais rastaquera, que acreditava ser música de péssima qualidade. Que bobagem! Fui vendo que os caras tocam pra caramba e que gosto não tem nada a ver com técnica. Resultado dessa minha mudança: adquiri vários discos do EW&F e digo sem medo de errar que eles são excelentes, dos arranjos ao domínio de cada um sobre seu instrumento.
Estou ouvindo um CD chamado "Greatest Hits Live", de 1996. Achei-o perdido numa mesa da redação do Jornal de Brasília, procurei seu dono e ninguém se apresentou. É um CD original, mas carecia da capa, que só descobri agora como é. Improvisei uma para que o bichinho, enjeitado, não tentasse o suicídio. É um discaço, com poucas passagens pelo gênero disco. O funk do EW&F dá a direção, o que quer dizer que o pau quebra todo o tempo.
Maurice White está à frente da banda, mandando ver nos vocais e na kalimba (um instrumentinho africano com teclas de metal), que ele usa em apenas uma música. Verdine, seu irmão, é o alicerce da banda, com seu baixo onipresente. Por ser negrão, poderia se imaginar que buscasse o protagonismo no instrumento, tal como Larry Graham (do Graham Central Station) ou Louis Johnson (do Brothers Johnson), dois dos maiores baixistas do funk. Verdine, porém, joga para o time, embora destile um domínio impecável das quadro cordas.
Como não tenho a capa original, não conseguiria dizer quem forma o restante da banda. Mas alguns caras se sobressaem, como o cantor e percussionista Phillip Bailey (com sua voz feminina), o baterista Sonny Emory (um craque das baquetas) e o sax alto de Scott Mayo (e seus agudíssimos). Com todo o perfeccionismo de times como esses, nem é preciso dizer que os demais são músicos de primeira linha.
Para quem acha que o repertório do EW&F é somente "September" ou "Boogie wonderland", com seus violinos de sintetizador, erra redondamente. Há grandes canções, como "Sun goddess", de autoria de Ramsey Lewis, e "That's the way of the world", que pertencem a trabalhos anteriores à época disco. Também têm baladas encantadoras, como "Reasons", na qual Bailey dá um show de vocal. 
Não conseguiria dizer se este "Greatest hits Live" é melhor que "That's the way of the world - Live in 1975", que foi lançado há poucos anos pela Sony Legacy. Ambos são excelentes, embora o mais antigo seja funk e o recente tenha forte acento pop. De qualquer maneira, este trabalho de 1996 mostra o EW&F em forma grandiosa.
Se tivesse de dar uma nota, daria 10 tranquilamente. É um registro gostoso, que vale a pena, desta que é uma das grandes bandas de funk de todos os tempos. Menos louca que o Parliament Funkadelic, menos pop do que poderia se imaginar, mas com um balanço irresistível. E uma técnica avassaladora.

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