terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ufa, que morra para sempre!

Ideia de jerico a gente deve deixar sair por onde entrou. A volta da CPMF, com um nome mais bonitinho e de peruca loura, morreu antes mesmo de nascer - para o nosso próprio bem. Quem levantou a proposta é uma questão controversa: A) foi o governo, pelo tanto que teve de ministro defendendo a defendê-la, apesar de o ministro Alexandre Padilha, que é da área, não ter emitido um único pio; B) foram os governadores, temerosos em ter de colocar mais recursos na saúde caso a Emenda 29 seja aprovada - seriam obrigados a tirar de outras rubricas que servem para garantir as trocas políticas; e C) foi a própria presidente Dilma, que reconheceu a necessidade política de todas as frentes em dispor de mais dinheiro para o setor, mas queria fazer a coisa sem parecer que estava quebrando uma promessa de campanha.
Acertou quem marcou opção B. Mesmo assim, como ninguém assumiu a paternidade, naturalmente de olho nas eleições de 2012, e a opinião pública reagiu pessimamente ao balão de ensaio, pelo menos por ora a CPMF com botox e megahair foi arquivada.
Mas, se serve de alerta, o governo pode desistir da ideia não por agora, nem pelo ano que vem, mas definitivamente. Ninguém quer pagar mais imposto, sobretudo pelo caminho tortuoso que costuma fazer. O que vai para a saúde acaba irrigando tudo quanto é campo, menos o da saúde. Enquanto a CPMF vigorou, houve dinheiro de sobra para botar hospitais públicos, centros de saúde e etc. nos eixos. Colocou? Não. O governo dispôs como bem entendeu desses recursos, bancando todo tipo de projeto. Mas não era para a saúde? Em tese, sim, só que todos esquecem que estamos no Brasil e aqui sempre há uma brecha, um jeito, de colocar um trem num apartamento de cobertura.
Nem mesmo para combater a corrupção a CPMF serviu. Corrupto é tudo, menos burro. Ninguém mete a mão em cheque ou deposita em conta, dando ciência do rastro do dinheiro. É grana viva, em pacotes, maços iguais ao da Jaqueline Roriz. Quem permite que o dinheiro seja rastreado é o assalariado, que não se importa com certos segredos, mas quer ver empregado direitinho aquilo que paga de imposto. Ao bandido de colarinho branco taxação não assusta.
Se em 2012 a chance de a CPMF voltar é nula, vão deixar para 2013? É sempre bom lembrar que, para um imposto passar a vigorar, deve haver um hiato de um ano. Quer dizer, se aprovada em 2013, passaria a valer em 2014. Alguém vai correr o risco desse desgaste? Em ano eleitoral mesmo é que ninguém quer colocar a mão em cumbuca, mesmo porque a partir de abril o Congresso praticamente fecha as portas e todos passam a se dedicar às campanhas.
Dilma disse que antes de sair criando imposto primeiramente tem que se administrar melhor a saúde. É verdade: verba de sobra num setor mal gerido é poço sem fundo. Podem empregar o quanto quiserem que o dinheiro jamais será suficiente. O Brasil precisa realmente de gestão, de fazer limonadas doces com limões galegos duros. Já passou da hora de gastar direito.
Mas então por quê Dilma não tirou o porrete e o colocou na mesa, avisando que não descumpriria uma promessa de campanha? Pressões, sobretudo em função da Emenda 29. Os governadores não querem botar mais coisa alguma na saúde de seus estados e ficarem com o caixa menor para gastar com os favores políticos e outras gracinhas. Pressionaram suas bancadas, que pressionaram o Palácio do Planalto, que jogou a bola para a sociedade. Que disse não. Além disso, os governadores se desdobraram em eufemismos e ginásticas mentais para fingir que estavam propondo algo que não eram a CPMF. E não ficarem com a conta, que, claro, nós pagaríamos.
Aí a presidente jogou como se deve: ou é CPMF ou não é nada. Claro, vamos parar de frescura e esperteza de empurrar para outro a conta pelo prejuízo. Por mais que concorde com a iniciativa, o governo não quer (nem pode, nem deve) segurar um rojão desses. O Congresso também, já que muitos ali são candidatos a prefeitos no próximo ano. Ou os governadores diziam que a iniciativa era deles, e todos entravam em conjunto e rateavam o desgaste, ou ficava como está. Melhor assim que o excesso de esperteza trabalhou em favor da sociedade.
O único a defender a CPMF foi Sérgio Cabral (sempre ele!), que de bobo alegre disse que o fim do imposto foi um "crime" contra a população. Que crime, governador? O senhor que aprenda a administrar melhor um estado que lhe deu a reeleição.

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