segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A eficiência do grito

Muito se tem falado na reforma ministerial como panaceia para todos os males do governo Dilma. Coloco menos fichas nessa dança das cadeiras, que tem até mês marcado: fevereiro, depois da volta do Congresso. Acho que sairão, sim, alguns dos ministros atuais, como Fernando Haddad e Irini Lopes, porque vão disputar as prefeituras de São Paulo e Vitória, respectivamente; Mário Negromonte, porque perdeu a sustentação da bancada; e Carlos Lupi porque jamais foi figura do agrado da presidente (sem contar que contra ele já se avistam no horizonte as vagas de escândalos no Ministério do Trabalho, que podem engoli-lo antes de o carnaval chegar).
E quanto a Ana de Hollanda (Cultura), Isabella Teixeira (Meio Ambiente) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social)? Eu iria com um pouco mais de calma nesse pano verde de apostas, já que tem muita gente chutando com as duas e com as quatro pernas sobre substituição das três. O que vejo é esse movimento marítimo da falta de notícia e do requentamento de velhas suspeitas, todas elas atendendo a alguém ou a algum grupo.
Acostumou-se no Brasil a acharem que governo bom é governo que se propagandeia. Isso se estende a ministros, secretários e todos aqueles que têm a certeza de que a mídia é uma espécie de massa corrida que disfarça as imperfeições da construção. Quanto mais o sujeito aparece, mais se fixa a ideia de que está trabalhando, fazendo algo, correndo atrás. Exemplos disso foram os governos Lula e José Roberto Arruda, no DF, que ganharam imenso espaço - no primeiro caso, pela obviedade de que qualquer coisa que o presidente da República diga deve ser registrado; no segundo, porque havia a complacência bem remunerada dos veículos de comunicação locais.
Venderam a imagem de gestores modernos, atuantes, que vão onde a ação se passa. Várias vezes Lula botou ministro debaixo do braço para defendê-lo das pesadas acusações que a imprensa fazia. Nesse cabo de guerra com jornais e revistas, acabava sempre ganhando, já que era parte do discurso a satanização dos meios de comunicação, responsáveis por uma suposta (e somente por ele enxergada) tentativa de desestabilizá-lo.
Assim, Lula jamais desceu do palanque e deu sempre a impressão de que estava disputando eleição e trabalhando, ao mesmo tempo. Com Arruda deu-se o mesmo fenômeno, inaugurando obras sem qualquer importância, participando de eventos duvidosos, apresentando plano que ou já tinha saído ou ainda custaria muito a deixar o papel. Enquanto não foi arrastado pela Caixa de Pandora, isso funcionou imensamente, a ponto de ele estar diante de duas excelentes hipóteses de futuro político: concorrer à reeleição ou sair como vice na chapa presidencial de José Serra.
Assim, fica para muitos a imagem de que gestor competente e operante é aquele que está sempre em evidência. Claro que discrição demais prejudica e ajuda a turbinar as críticas, mas parte da imprensa ainda não consegue conectar silêncio à eficiência. Está acostumada a histrionismo, ao populismo, ao discurso verborrágico, ao palanque, à frase de efeito.
Uma tradição que vem do grito de independência de Dom Pedro I, ao erguer a espada às margens do Ipiranga e exortar que aqueles que fossem brasileiros o seguissem.

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