sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Eu e Steve Jobs

Descobri que eu e o Steve Jobs temos algo em comum. Não, não sou gênio como ele, embora me esforce para ter cultura. Não essa cultura enciclopédica, que é uma imensa bobagem. Para mim, não tem valor algum o cara ficar falando sobre os escritores americanos do final do século 19 se não leu nenhum deles. Não os analisou a forma, não percebeu as características sociais dos Estados Unidos passada em cada um daqueles livros, não lhes captou a essência. Falo de cultura como formação do caráter.
Mas, enfim... voltando ao trilho. Li agora no Estadão a lista de discos da preferência de Jobs. Entre os 10 "mais" (se é que algo assim pode existir, de a pessoa ter somente 10 discos do coração) estão American Beauty, do Grateful Dead; Who's Next, do The Who; e Goldberg Variations, por Glenn Gould. Esses três exemplares fazem parte da minha coleção, que não é pequena.
Tempos atrás, dei uma entrevista (sim, já dei uma entrevista!) para um blog fabuloso chamado Collector's Room. Os caras conhecem música, sobretudo rock, a fundo. Têm uma seção chamada Mostre sua Coleção, que foi o que fiz: mostrei meus vinis e CDs, que são  minha maior curtição, à frente dos relógios suíços, meus DVDs de filmes e do squash com meu compadre Marcelo Agner. Só não estão à frente dos meus filhotes Bernardo e Cecília e da minha amada Renata. Pareci pernóstico? Foi mal.
O disco do Dead é da grande fase da banda, junto com Workingman's Dead, Aoxomoxoa, Live/Dead. Depois dessa fase, os únicos que gosto são Shakedown street e Terrapin Station. Até aí, Jerry Garcia e Bob Weir faziam um som de primeiríssima, mas depois, talvez pelos projetos paralelos e algumas trocas de formação, a liga começou a ficar menos consistente.
Sobre Who's Next não há o que dizer. É o melhor disco do Who, disparado. Adoro Quadrophenia e Tommy, mas confesso que cansam. Um disco que tem Baba O'Riley, Behind Blue Eyes e We Won't Get Fooled Again não precisa ser analisado. É perfeito. E tenho dito!
Goldberg Variations ainda é a maior execução de Gould. A obra de Bach, o João Sebastião, foi inicialmente escrita para o cravo e, depois, transposta para o piano, se minha memória/cultura em música erudita não falha. Se ainda não estou enganado, o canadense a gravou inicialmente na década de 50, quando despontou para a genialidade. E se também não estou enganado, voltou a gravá-la nos anos 60. E se não continuo enganado, a segunda fase de gravações é considerada a definitiva, pois Gould estaria não somente no auge da técnica, mas da maturidade. Daí para diante, sobretudo nos anos 70, a esquisofrenia se manifestou com força e ele passou a se apresentar esporadicamente. E, se não falho, não produziu nada que possa ser incluído entre aquilo que vale à pena na sua obra.
Jobs tinha um gosto mais light que o meu. John Lennon ou Bob Dylan só entram na minha coleção pela via de outros artistas. Reconheço-os como grandes compositores, poetas de mão cheia, mas não tenho apreço pela obra individual que nos legaram. O mais perto que passei de um disco de Lennon foram os de Ricardo Xavier, o Rixa, roteirista-chefe do Video Show da Globo e meu ex-colega de colégio. E dos de Dylan, de uma colega cujo nome não me lembro (Simone? Bruna?), também da época do São Vicente, que tentei namorar. Ela ouvia Blood on the tracks sem parar.
Segundo vi, também gostava de Cat Stevens, que também nunca foi da minha simpatia. Lembro, inclusive, que meus amigos Alexandre, Antônio Paulo e André (irmãos) tinham comprado Izitso, um dos últimos álbuns de Cat antes de se tornar Yusuf Islam. Na capa, Cat/Yusuf está brincando com um ioiô. Aliás, para quem não sacou, Izitso é a expressão Is it so? ( tradução: é assim?), pergunta que Cat/Yussuf faz ao brincar com o ioiô. Nunca parei para ouvir esse álbum, nem tenho lembrança se gostei ou não. Mas a voz rouca de Cat/Yusuf até que me agradava.
Enfim, escrevi até aqui não porque quero me comparar a Jobs ou homenageá-lo, embora, de certa forma, o esteja fazendo. Escrevi porque gosto de música e porque, temos sim, algo em comum. Então, se isso é verdade, qual a razão da falsa modéstia?

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