segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Provas concretas

As comportas de esgoto se escancararam com toda violência. São jorros e mais jorros de sujeira, de gente suja que é suja e assume e de gente suja que se faz passar por limpa. Orlando Silva e Agnelo Queiroz têm advogados muito competentes, mas essa história que os envolve só está sendo trazida de volta à tona pela Veja por causa de um único fator: existência de provas concretas. Não acredito que uma revista desse tamanho esteja sem um arsenal de documentos, cabais e irrefutáveis, de tudo que publicou contra o ministro do Esporte e o governador do DF. E tudo rigorosamente verdadeiro, analisado por peritos.
Vale voltar um pouco no tempo e recordar que, pelo menos Agnelo, livrou-se ano passado, quando acusações de teor parecido lhe foram feitas. Eu era coordenador de política do Jornal de Brasília, na eleição passada, quando surgiu um cidadão no programa de TV da Weslian Roriz fazendo acusações gravíssimas ao hoje governador. Dizia que tinha entregado dinheiro a ele; relatou até mesmo que, num dia, Agnelo o aguardava debaixo do prédio em que morava, ansioso para receber o suposto pacote.
Só que tinha um detalhe: o acusador não tinha filmagem, provas, nada. Afirmava que os encontros furtivos se referiam à época de Agnelo à frente do Ministério. E chorava dizendo que estava enfrentando uma máquina que trabalhava para humilhá-lo e desacreditá-lo. Até matá-lo.
Em imprensa, para quem não sabe, a primeira versão é a que fica. Já havia rumores, das hostes de Roriz, que viria uma bomba capaz de danificar profundamente a campanha de Agnelo. Ficamos à espera. Não se tinha a menor indicação do que chegaria, por meio do horário nobre.
O programa era bem-feito, não resta dúvida. Apareciam trechos do depoimento do cidadão, entrecortados por pontuações de um locutor em tom grave, arrematadas com a provocação de um ator, que cobrava explicações de Agnelo - "Pois é, senhor Agnelo. O DF quer saber...".
O acusador fazia bem o papel do sujeito assustado e acuado, que resolveu falar porque corria risco. Olhar entre o preocupado e o desamparado, alternando frases curtas hesitantes e com outras longas e firmes. Gestos nervosos com as mãos. Em alguns  momentos, o choro de desespero, de angústia, de temor.
Mas... tem sempre um mas nessa história. Uma tia dele, que era (ou é) policial militar, foi à TV pelo programa de Agnelo desqualificar as acusações do sobrinho. Em adição, um delegado (hoje deputado distrital) afirmou que o acusador tinha uma folha corrida de boas proporções. A verdade nessa história foi contada pelo vencedor, que conseguiu desmontar a manobra do adversário. Porque, se não conseguisse, estaria sendo investigado pelo Ministério Público.
O hoje governador do DF várias vezes veio a público mostrar que suas contas, à frente do Ministério, haviam sido aprovadas e que investigações abertas contra ele haviam sido arquivadas por falta de provas.
Para desmontar a acusação do programa de Weslian, o contra-ataque foi feito com documentos e testemunhos. Verdadeiros? Havia papeis e pessoas, inclusive da família do acusador, colocando a cara para desconstruir a primeira versão. Do outro lado, somente acusações sem provas materiais de que tudo seria verdade. Se era, ninguém jamais ficará sabendo. Corrupção não preenche protocolo de recebimento.
Como editor, publiquei aquilo que me chegou às mãos. Abri espaço rigorosamente igual para Paulo Fona, que coordenava a campanha de Roriz, e para Lula Costa Pinto, que fazia o mesmo para Agnelo. Enquanto Fona me acusava, e ao jornal, de fazer campanha pró-PT, Lula foi me dando munição de sobra. No horário político, o depoimento do tal cidadão contra Agnelo acabou sendo tirado do ar. Acusavam Agnelo de censura e a mim de partidarismo.
Quando entrevistei Roriz, ainda candidato, no escritório da mansão dele, no Park Way, Fona não me acusou de coisa alguma. Ainda agradeceu - não explicitamente, mas tenho certeza de que o resultado na campanha foi excelente - a página dupla central do caderno que eu editava. Admito que saí impressionado da entrevista e estava convicto da vitória do ex-governador, mas a Lei da Ficha Limpa não quis assim.
Na época, a história passada pela campanha de Weslian não colou em Agnelo - teve até efeito contrário, turbinando-o e fazendo com que a eleição se decidisse com mais facilidade. Mas só há uma justificativa para que o assunto tenha voltado à tona, trazido pela Veja: provas materiais. O acusador está muito tranquilo, garantindo que pode provar tudo o que diz. O ministro e o governador dizem também estarem sossegados.
Que as provas venham à tona. Aguardo-as ansiosamente.

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