sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Uma bandinha meia-boca bem legal

Sempre achei o Bachman-Turner Overdrive uma bandinha meia-boca. Dois gordões que não são grande coisa como músicos, vindos do Canadá, com um jeitão reacionário de caminhoneiros - dizia-se que tinham ligação com a estrada por causa do símbolo do grupo, uma engrenagem -, e outros dois músicos somente medianos formaram um quarteto bem-sucedido. E que por aqui fez imenso sucesso.
Os dois gordões são Randy Bachman (guitarra e voz) e C.F. Turner (baixo e voz). A voz de Bachman, fraca e desafinada, não faz jus ao seu diâmetro. O time que explodiu nas paradas era completado por Blair Thornton (guitarra) e Rob (bateria), irmão de Randy - havia um terceiro irmão, Tim, guitarrista antes de Blair. Quer dizer, um negócio de família acrescentado de um amigo próximo. Dos irmãos, Randy é seguramente o mais talentoso, mesmo que isso não o torne brilhante.
E por que estou falando nesses caras já que, até agora, indiquei que não tenho por eles a menor simpatia? Porque tenho os quatro melhores discos deles - Not Fragile, Four Wheel DriveHead On e Freeways, que comprei terça-feira, por preço de banana, na Livraria Cultura, ao acompanhar minha mulher à noite de autógrafos da Vivian Oswald (enquanto ela aguardava a vez na fila conversando com colegas e conhecidos, fui dar um bordejo pela loja). E começo a entender as razões de uma bandinha meia-boca ter feito tanto sucesso.
Se juntar esses quatro discos, o BTO consegue fazer um disco muito bom. Separadamente, são somente razoáveis, embora ache Freeways, dentre eles, o mais fraco. Mas a razão de terem se tornado queridos, bem sucedidos, enchido estádios e explodido nas rádios está no fato de fazerem hits irresistíveis. Em cada um desses LPs trouxe um sucesso mostruoso: por aqui, era comum ouvir Hey you, Down, down, Not Fragile, Flat Broke Love ou You Ain't Seen Not Yet. Não são rocks pesadíssimos, mas têm uma pegada irresistível, um refrão marcante, um quê que permitiria fazer uma versão bem braba, se alguém quisesse. Fico imaginando se o Black Label Society pegasse uma delas e turbinasse.
Então, estou mudando de opinião - podem pensar vocês, meus escassos leitores. Não, continuo pensando da mesma maneira, com a diferença que passei a achar o BTO simpático. Randy Bachman não é um grande guitarrista, assim com Blair Thornton - são apenas corretos e sem muitas ousadias. C.F. Turner é um baixista fraco e se faz presente por causa do bom vocal, rouco e alto, ao contrário da voz de Randy, que é limitadíssima. Mas o pior dos quatro é Rob Bachman: é um baterista ruim. Suas levadas são básicas e as viradas são quase desastrosas - rulos e rufos, nem pensar. É o tipo do cara que, como se diz, trocou o pneu com o carro em movimento: foi aprendendo a tocar enquanto a banda evoluía.
O curioso é que todos tiveram passagens anteriores por grupos com relativo sucesso, como Brave Belt e Guess Who, sobretudo o segundo. Eram bandas de pop rock, bem ao gosto do Canadá da década de 60, um país conhecido pelo conservadorismo e pelo quase isolamento em relação ao restante do mundo - apesar de fazer parte da Comunidade Britânica e ser um riquíssimo vizinho dos Estados Unidos. Nos anos 70, com o Rush, é que algo começou a mudar lá dentro, com bandas como April Wine, Pat Travers (que se radicou na Inglaterra e depois voltou aos EUA para consolidar o sucesso), e nos anos 80 com Voi Vod, Anihilator ou Anvil. Onde Neil Young entra nisso aí? Não entra. Neil só nasceu lá, mas fez da Califórnia o portal contra a caretice canadense.
Isso aí é o BTO: uma banda papai-e-mamãe, formada por caras simpáticos e que sequer fumavam ou bebiam. Pareciam mórmons sem serem. Tanto que, longe um do outro, não arranjaram coisa alguma. Randy saiu, tentou alavancar o Iron Horse e naufragou. Os outros três levaram a banda com Jim Clench, fizeram dois álbuns sem repercusão alguma (Street Action e Rock'n'roll Nights) e encerraram as atividades.
O BTO voltou anos depois, com Rob malandramente assumindo-o. O pau quebrou em família e Rob se deu por vencido. Randy e C.F. pegaram a banda e voltaram a gravar e excursionar, mas não fizeram coisa alguma digna de nota.

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