terça-feira, 1 de novembro de 2011

Da condição humana

Nunca subestime a estupidez: ela é sempre maior do que a gente imagina. Escrevo isso porque li, na Folha de hoje, que o jornal foi obrigado a barrar comentários de internautas sobre o câncer do presidente Lula. Tinha neguinho exagerando e deixando de lado a condição humana, para a qual Desmond Tutu nos lembrou quando do assassinato de Muamar Kadafi. Definitivamente, aqueles que o mataram desceram ao mesmo patamar do ex-ditador líbio. E quem xingou ou brincou com a doença do ex-presidente foi tão lá embaixo quando os facínoras mais nojentos.
Algumas coisas não se misturam. Podemos detestar quem quer que seja, até achar que a humanidade não ficará mais pobre sem essa pessoa, mas desejar sua morte ou fazer dela motivo de piada é um absurdo. Claro que não vou lamentar o dia em que Fernandinho Beira-Mar morrer, mas não será por causa disso que vou pregar seu assasinato. Ou, quando ele passar desta para pior (alguém duvida disso?), dar gargalhadas de satisfação, fazer ironias ou algo do gênero. Posso não ser o mais evoluído dos mortais, mas não pretendo jamais me nivelar por baixo.
A doença do ex-presidente pegou muita gente de surpresa, gente que, claro, acreditava que ele estava pavimentando a volta em 2014. Pelo jeitão palanqueiro de Lula, ficava fácil acreditar nessa possibilidade. Mesmo porque não são poucos, no governo, no PT e nas hostes aliadas, que não se acostumaram com o estilo Dilma. Preferem a leniência do antecessor da presidente, que cada vez mais vem sendo provada pelo tanto de escândalos desbaratados. Um ministro a cada 24 dias, em média, convenhamos que é inédito no Brasil e em várias partes do mundo. Exceto por Pedro Novais, que foi defenestrado do Turismo, o restante é herança deixada por Lula.
Mas isso nada tem a ver com o câncer de laringe que o afetou. O ex-presidente vai dispor de todos os recursos possíveis, que não são do alcance do cidadão comum, e não devemos odiá-lo por isso. Devemos, sim, lutar para termos as mesmas possibilidades. A doença não pode entrar no debate da discordância política. Já foi o tempo em que os conflitos de opinião eram resolvidos no risco da faca ou a bala. Já foi? Bem, depende de onde nos encontramos. Mesmo em alguns lugares bem perto do Rio de Janeiro não se aceita o dissenso pacificamente.
Estamos, porém, falando de seres humanos normais e seres humanos normais não se regozijam do sofrimento de ninguém, não se comprazem com a doença alheia, não brincam com a dor do outro. Lula pode não ter sido um exemplo de governante, mas vou me colocar sempre no seu lugar quando o assunto for o câncer de laringe que começou a tratar. Me solidarizo com ele e sua família ainda que, se fosse o contrário, ele jamais saberia pelo que eventualmente eu estaria passando. Só que eu jamais cobraria dele isso pela imensa distância que existe entre nós. Lula é Lula, um ícone da política brasileira e mundial, um sujeito que, gostem ou não, escreveu seu nome na história.
Eu? Quem sou eu? Ninguém. Um cidadão-contribuinte-eleitor que tem imenso orgulho de ser apenas isto.

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