quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Para quem é, está de bom tamanho

Carlos Lupi é o típico caso de um inepto que virou ministro. Convenhamos que o fato de vir de baixo (foi jornaleiro e todos sabem disso) não tem nada a ver com o peixe. É inepto porque sempre foi um político obscuro que, de uma hora para outra, ganhou de presente um partido e, ao subir para base de apoio do governo, um ministério.
Leonel Brizola não fez o PDT para a posteridade; fez para ele. Depois da volta ao Brasil, disputou com Ivete Vargas a sigla PTB, pois queria levantar o estandarte de Getúlio e do trabalhismo. A identificação de Brizola com o velho caudilho começava no fato de que eram gaúchos e tinham, de certa forma, a mesma origem política: um fundou o partido para ser sua correia de transmissão no Legislativo; o outro fez a carreira política dentro da legenda, dividindo com Jango o protagonismo depois do tiro que marcou a história.
Ao perder a sigla para Ivete, Brizola fundou um partido à sua imagem e semelhança - embora, se fosse o PTB, seria a mesma coisa. Tinha figuras respeitáveis, como Darcy Ribeiro, Saturnino Braga e Neiva Moreira, com outras que representavam a política de rapinagem. No Rio, conseguia juntar figuras tão díspares quanto o jornalista Sebastião Nery, o cantor Agnaldo Timóteo ou o índio Juruna, com Cláudio Moacir, Paulo Rattes e Brandão Monteiro. Teve até Anthony Garotinho, embora noutra época. Não se podia dizer que tinha um cara de esquerda, tal como o PT daqueles tempos. Centro-esquerda talvez, embora ligado à Internacional Socialista.
O PDT, porém, foi definhando por causa do personalismo de Brizola. Não admitia que alguém o contestasse, ameaçasse sua liderança, riscasse seu protagonismo. Aos poucos, os bons foram saindo, outros foram morrendo e, depois do segundo governo no Rio, a importância reduziu-se ainda mais. No final, o PDT era somente Brizola, com uma representação legislativa fraca e um enorme guarda-chuva para políticos oportunistas, que puxavam caminhões de votos, mas não tinham convicção alguma. Tampouco controle.
No processo de decadência é que entra Lupi. Lá pelas tantas é alçado ao cargo de vice-presidente do PDT, algo que, com Brizola vivo, era quase nada. Mas Brizola morreu. O PDT, que tinha tudo para definhar e ser engolido por uma legenda maior, foi aceitando figuras de caráter político duvidoso. Renasceu capenga, se reagrupou e Lupi teve ao menos a habilidade de não deixar a legenda ser tragada ou tornar-se uma força menor. Só que não escapou de torná-la de aluguel. Vá lá que tenha sido em nome da sobrevivência.
Ainda que os fins justifiquem os meios, o PDT foi chamado para o arco de alianças de Lula porque, ao ex-presidente, interessava isolar PSDB e DEM do outro lado da quadra. A arquitetura feita por José Dirceu foi de um pragmatismo tão hábil quanto assustador: para um projeto de poder de várias décadas, era preciso trazer para baixo do guarda-chuva petista não apenas a esquerda, radical ou não, mas o centro e, se possível, a direita. Acabaram ficando de fora somente os extremos, embora muitos tucanos e democratas tenham sonhado com a possibilidade de embarcar nesse imenso trem do governo.
O Ministério do Trabalho já foi uma pasta de articulação. Mesmo na época em que se juntou com a Previdência, tinha peso político expressivo. Foi sendo esvaziado, diminuído e hoje sobrevive porque faz parte das chamadas "pastas tradicionais" - como Saúde ou Justiça.
Por ter uma certa capilaridade nos estados, ao PDT coube um ministério proporcional à sua importância. E Lupi, que desde a morte de Brizola vinha no comando da legenda, foi aquinhoado. 
É o resumo dessa ópera.
Vocês concordam que Lupi foi até longe demais?

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