quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Listinha de final de ano

Final de ano surgem sempre as listas de 10 mais de qualquer coisa. Dez melhores filmes, 10 melhores liveros, 10 melhores isso e aquilo. Muita coisa entra forçada justamente para completar as 10 escolhas. Mas acho que, para meu gosto, 10 é muita coisa. Assim, vou fazer como Johnny Winter no Second Winter, que gravou músicas suficientes somente para três lados de um LP e o quarto saiu sem nada. Na capa, dentro, bastou justificar dizendo que compor e gravar para completar um álbum duplo seria desonestidade. E a Columbia topou colocar na rua um disco com três lados.
Contada a história, meus 10 melhores CDs de 2011 são somente quatro. E assim mesmo um é relançamento. São eles os dois Black Country Communion, a nova edição do Quadrophenia (The Who) e Guitar Heaven, do Santana. E se tivesse de colocar um no topo da tabela, colocaria o do Who.
Pelo fato de ser uma obra histórica? Não somente por causa disso. As sobras incluídas são fabulosas; estão longe de ser osso para cachorro ao pé da mesa de jantar. A edição dupla que saiu no Brasil é primorosa, embora seja somente parte de uma caixa lançada lá fora. A caixa acho um exagero, mas o CD compilado, não. Fica na medida.
Tem um caderno de fotos tiradas do filme, que também rendeu um álbum duplo. Tudo em preto e branco, e para quem gosta de fotos em preto e branco como eu... já viu. É remasterizado, embora não se perceba assim tanta diferença do LP original. Talvez a sonoridade seja um pouco mais limpa, mas cristalina, o que dá um pequeno ganho. O bonito é que são duas obras complementares, o LP e o CD. Um é o registro de época, em tamanho natural, com direito ao barulho da agulha percorrendo os sulcos. Outro é o som puro, a música em sua plenitude e sem interrupção, adicionada de um material gráfico e sonoro que valoriza o imenso trabalho de estúdio do Who.
O preço nem é proibitivo. Por uns R$ 50,00 você consegue comprar essa edição especial. Uma bobagem: R$ 25,00 cada CD. O prazer dá para ser barato.
Indo adiante, acho que a medalha de prata fica com Santana. Não vou comentar muito o Guitar Heaven por aqui, pois semanas atrás dediquei um post inteiro a ele. Posso dizer, em acréscimo àquilo que já escrevi, que se trata do melhor trabalho do grande guitarrista desde Marathon - que é do final da década de 70. O que veio depois disso foi um pop bem feito, mas pasteurizado, que durou até Freedom. Não fosse Sacred Fire um disco ao vivo (e, portanto, somente de sucessos), diria que da década de 90 para cá Santana fez nada que prestasse.
Redimiu-se, porém, com Guitar Heaven, no qual ele não tem medo de homenagear vários de seus contemporâneos (como Jimmy Page, Ritchie Blackmore, Eric Clapton e Robbie Krieger) ou representantes da geração seguinte, como Angus Young ou Phil Collen. Santana demonstra imensa modéstia ao reconhecer que todos fizeram músicas excelentes e que merecem ser lembrados por parceiros de armas. Somente essa generosidade vale o CD.
Na medalha de bronze coloco o Black Country Communion e seus dois CDs, lançados simultâneamente neste final de ano - o primeiro, porém, é de 2010. Trata-se de um projeto capitaneado fora do palco pelo engenheiro e produtor Kevin Shirley, que ganhou a fama de santo milagreiro ao trabalhar o DVD do Led Zeppelin lançado há poucos anos e, mais recentemente, o Come Taste The Band, último álbum do Deep Purple na década de 70. Mas a lista de trabalhos do rapaz é vasta.
Shirley juntou Glenn Hughes, Joe Bonamassa, Derek Sherinian e Jason Bonham. Com um time desses, o que poderia dar errado? Pois é, deu em parte. O primeiro BCC é somente um bom trabalho, um tanto confuso e com apenas uma música de grande impacto - One Last Soul.
O restante é disperso, a ponto de a banda ressuscitar Medusa, grande hit do Trapeze, e portanto de Hughes. O mega-cantor/baixista disse até que a canção estava no CD porque era uma das prediletas do pai de Jason, John "Bonzo" Bonham. Mas percebe-se que é uma tentativa de fazer do primeiro BCC um trabalho com algum rumo.
Considero o segundo BCC bem superior ao primeiro. Tem um toque mais zeppeliniano, o que não o desmerece. Em muitos momentos percebe-se uma conexão direta com Physical Graffiti, por causa da sonoridade oriental em várias passagens. Além disso, Sherinian entra definitivamente na banda, já que, no primeiro CD, mal é ouvido. Mesmo não sendo um tecladista inesquecível - da envergadura de um Lord, um Wakeman ou de um Emerson -, nota-se que foi chamado a dar opinião em alguns arranjos. BCC 2 finalmente apresenta um quarteto, já que o BCC1 era um trio de quatro.
Os dois discos de Hughes-Bonamassa-Sherinian-Bonham não vão mudar a vida de ninguém, mas são inegavelmente bem produzidos e executados - sobretudo o segundo. E uma junção de músicos de alta categoria não se pode deixar passar despercebida.
Para arrematar essa resenha, colocaria na menção honrosa o relançamento dos discos do Pink Floyd remasterizados e aumentados, em edições de luxo. The Dark Side of the Moon e Wish Were Here são imperdíveis. Considere incluir na lista Meddle, Atom Heart Mother e Animals. Os demais são para fãs de carteirinha.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Últimas reflexões

Não sei dizer se esta será a última postagem do ano. Mas se não for, considerem-a como. É o que de mais profundo vou falar até o dia 31. Se algo escrever mais adiante, em outro post, será sobre música, relógios ou coisas sem qualquer importância.
Esse ano foi hard, duro mesmo. Mas valeu a pena. Dei um passo atrás para dar dois adiante. Poderia ter sido sem dor, mas, quem disse que a gente aprende pelo amor? Nunca. Tem que se levar uma cacetada, cair bem fundo para mudar procedimentos, maneiras de pensar, formas de agir.
Acho que chego ao final de 2011 mais leve e bem-humorado, pretendendo aprender a trafegar numa seara que sempre tratei com desprezo: a da assessoria de imprensa. Achava, com a rotina dura de 25 anos em redações (um pouco mais, se for contar o período de estágio), que assessor de imprensa era uma espécie e come-dorme, que raramente dá ao assessorado a noção da vida que o cerca. Claro, muitos são os que pretendem apenas enxergar uma realidade que de real não tem coisa alguma.
Também comecei a observar a estrutura de governo. Mantenho minha postura crítica, mas acabou aquela ideia errada de que ninguém trabalha e que para cada competente há três incompetentes. Não sou funcionário público (trabalho para uma agência que presta serviço e faz a função de funcionários públicos), mas tem gente que sua a camisa e vira muitas horas de serviço para desengomar o que lhe é incumbido.
Esse arejamento é excelente. Ouvi um grande amigo dizer, do alto (ou debaixo) do seu desprezo, que assessor de imprensa não é profissional de imprensa. Erro, engano, preconceito. Talvez porque se referisse ao trabalho de alguém que conhecia bem de perto, cuja função primordial era vender notinhas insignificantes de jornal ou evitar que coisas de importância relativa saíssem.
Sim, isso passa pela assessoria, mas não são funções pequenas. Aprendi que uma nota bem vendida, numa coluna de peso, tem influência enorme. Ou que uma reportagem que se impediu de publicar tem o efeito de debelar crises.
Desse lado do balcão vi ainda como o jornalista pode ser maldoso, incorreto, desonesto. Matérias e edições forçadas têm o condão de fazer mal e desinformar. Indicam à opinião pública o caminho errado a seguir, atiçam grupelhos interesseiros e ávidos por mais espaço, incendeiam disputas políticas intestinas.
Nem sempre concordei com a postura assumida no combate a esse tipo de "jornalismo" (com todas as aspas possíveis), mas, mesmo nesses momentos, aprendi. Jamais fui bom estrategista e percebi que, apesar da pressão, o desejo de reagir pode levar a um equívoco ainda maior.
Quem acha que assessoria é um eterno jogo na retranca, está enganado. Não sabe nada. Comunicação de governo é difícílimo exatamente porque há uma desconfiança generalizada sobre os dados que são divulgados. O jornalista, um tanto por vezo e outro tanto por arrogância, desacredita. Não é desconfiar, é desacreditar. Acha que é mentira, enganação, cascata. Que no meio daquilo que se pretende passar, tem um percentual alto de inverdade.
Fui e continuo sendo jornalista. E se um dia voltar para uma redação, serei o primeiro a tratar com mais respeito dados e números oficiais, ainda que a tese que venha sendo defendida ao meu redor seja a de derrubar o que está sendo passado.
Prezados: jornalistas têm teorias e fazem de tudo para confirmá-las. Um repórter sai com um sapato número 40 da redação em busca de um pé que se encaixe nele. Se encontrar um que sirva, ótimo, confirmou a tese. Mas se encontrar um de número 45, vai querer colocá-lo dentro daquele calçado de qualquer maneira.
Aí é que está o perigo. A má-fé e a ambição se revelam nesses momentos.
O balanço de 2011 é positivo. Saí da minha zona de conforto, na qual nada de muito interessante estava aprendendo. Dominava a edição, tinha liberdade para fazer aquilo que queria, orientava repórteres, retrabalhava textos... Mais de duas décadas fazendo isso. Caí numa seara completamente diferente, que me obrigou a pensar. Nos primeiros dias foi muito difícil, mas, com as semanas, as coisas se ajeitaram.
Conheci também pessoas competentes, com outras ciências, e delas quis absorver tudo. Não acho que tenha conseguido, mas, ao menos, voltei a ter o gosto pelo conhecimento, pela novidade.
Sempre achei papo-furado essa coisa de que as pessoas gostam de se sentir desafiadas. Não, ninguém gosta. Ninguém dá uma virada na carreira sem ser provocado. Eu tive que dar ou então, percebo hoje, seguia a passos largos para a mediocridade, ao lado de gente "inculta e bela", aqui numa brincadeira com Olavo Bilac. Quantos sabem disso? Bilac?
Espero, sim, um ano menos acidentado em 2012. Tenho esse direito, tenho o direito de ser otimista. Aliás, tenho que ser otimista. Aliás do aliás: me tornei um otimista. Coisas que a gente aprende somente quando toma uma chicotada no lombo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Que mérito, que nada

O café da manhã de ontem de Dilma com os jornalistas que cobrem o Palácio mostrou que o governo começa a fazer a engenharia reversa. Ou seja, quanto mais um assunto é incômodo, mais se insiste na teoria de que nada será feito resolvê-lo. É o caso de Fernando Pimentel: as provas de que fez tráfico de influência são tão grandes ou maiores que as de Antônio Palocci, mas vai continuar tudo como sempre esteve porque a presidente quer aprender a conviver com a pressão de comandar um governo corrupto.
Isso, claro, é péssimo. Para quem diz que é intolerante com malfeitos, Dilma faz o caminho oposto. Prefere manter uma amizade de 40 anos com uma pessoa acusada (acusada, não; as provas estão surgindo aos borbotões) de corrupção do que se dar ao respeito pelos milhares de eleitores que a colocaram lá. A presidente aprendeu o pior do corporativismo.
A menos que a Dilma seja muito esperta e esteja fazendo a política de deixar cair de podre, Pimentel come as castanhas de Natal e bebe o champanha de Ano Novo em frente ao mar de Copacabana, numa cobetura.
Disse ela que o problema é do ministro e não do governo, uma retórica rastaquera de disfarçar que a mão não pertence ao braço. Não se justifica que outros alcançados em flagrante delito tenham deixado a Esplanada pela porta dos fundos e Pimentel não. É claro que o problema era deles, mas é sobretudo do governo quando mantém no cargo alguém suspeito de tráfico de influência.
Talvez fosse mais honesto Dilma dizer que não quer demitir Pimentel porque são camaradas de longa data, em vez de usar eufemismos ridículos. Que somente reforçam a crescente impressão de que o governo pretende tolerar, sim, alguma parcela de corrupção em nome de velhas amizades.
A presidente também falou da reforma ministerial, afirmando que não vai fazê-la. Já não é de hoje que venho dizendo aqui que tinha dúvida de que algumas pessoas, dadas como demissíveis certos, fossem sacadas do governo.
É o típico caso de não mexer no vespeiro: se removesse nomes e mantivesse o confrade Pimentel, a lógica seria quebrada e haveria revolta entre os partidos atingidos pela troca. Ao dizer que não vai mudar coisa alguma, Dilma abre o guarda-chuva e manda todos ficarem sob ele.
A reforma ia sair, mas surgiu um pimentão (perdão: Pimentel) no caminho. Ninguém comenta um assunto com insistência se não houver uma parcela de verdade. Havia a insatisfação com nomes (embora, nesse processo, tenham sido vários os repórteres que se dedicaram à nobre arte de dar chutes no ar), gestões vinham sendo feitas, figurinhas pedidas e sugeridas.
Até que alguém chegou perto demais da presidente. Enquanto se falava na terceira pessoa, Dilma não esquentava a cabeça. Passou a se preocupar à medida que um ministro que ela mesma tirou do bolso do colete não era a figura ilibada que dizia ser. Parou tudo.
Ela voltou até mesmo a se consultar com Lula, que dias atrás a recomendou que, se tivesse de mexer no time, fosse devagar. Esperasse a manifestação dos que vão sair para disputar eleições muncipais, nomeasse o definitivo ministro do Trabalho e parasse por aí. Nem mesmo Mário Negromonte seria removido. Aqueles contra os quais pesa a acusação de ineficiência (Ana de Hollanda, Afonso Florence) seriam aprovados na recuperação.
Até ministérios que seriam suprimidos e secretarias que caminhavam rumo à extinção continuarão a existir. Por questões de prudência, não seria interessante encurtar espaços que são dos partidos, em pleno ano eleitoral. Usarão entes públicos para se cacifarem e jogarem a máquina nas eleições em favor de si mesmos e dos seus.
Vou além: tais pastas servem para abrigar os enjeitados nas urnas, os companheiros vencidos. É um prêmio de consolação que os ajuda a não perder o controle sobre diretórios e zonais.
Dilma, enfim, é rigorosamente igual a Lula e mostra isso ao distribuir presentes de Natal para quem não marece. A meritocracia que a presidente se farta em exaltar não serve para o governo dela.

Um disco impressionante

Enquanto escuto o estupendo álbum quádruplo do Chicago no Carneggie Hall, o Chicago IV, gravado no começo da década de 70, vou me espantando com a sabedoria musical de jovens que mal haviam passado da faixa dos 20 anos de idade. Ainda que, poucos discos depois, a banda se tornasse num grupo pop de qualidade duvidosa, mas indubitavelmente bom, ouvi-la no começo da carreira fazendo uma música de tamanha complexidade faz pensar na formação musical como ensino sério e formal.
O Chicago (que já tinha deixado de ser Chicago Transit Authority por processo judicial movido pelo Departamento de Trânsito da Windy City, berço do blues elétrico e da Chess Records, e palco das vilanias de um certo Alfonse Capone) acompanhava aquela trilha que misturava rock com jazz, sem fazer jazz-rock ou fusion. O rock estava ali, assim como o blues, mas com uma levada diferente, dissonâncias e aspectos da música orquestral. O Blood, Sweat & Tears de David Clayton-Thomas, Bobby Colomby, Al Kooper e Mike Bloomfield fazia algo semelhante e brilhante o suficiente para durar pouco e entrar para a história.
Voltando ao Chicago. Girando em torno do excelente guitarrista Terry Kath (que, reza a lenda, fez Jimi Hendrix babar na gravata), tinha um trio de metais de tirar o chapeu (James Pankow, trombone; Lee Loughnane, trompete; Walt Parazaider, saxes e flautas), um baixista seguro (Peter Cetera), um baterista de bom nível com feedback de jazz (Danny Seraphine) e um tecladista, compositor e cantor que fazia a diferença (Robert Lamm). Quando se ouve composições como Does anybody really knows what time is?, Questions 68 & 69, Begginings ou 24 or 6 to 5, se percebe uma maturidade impressionante. Ainda que estivessem no conservatório de música desde cedo, a criatividade nos arranjos e a estrutura das canções é invulgar.
Os quatro CDs - na verdade três são o show original e o quarto é de sobras da temporada no Carneggie - dão imenso prazer. Boa parte das canções faz parte do repertório ao vivo do Chicago, que as executa ainda hoje com pequenas alterações. Sinal de que não foi preciso atualizá-las por estarem datadas. Muitas bandas fizeram rearranjos com o intuito de buscar novos públicos, penetrar em faixas etárias menores para segurar público. Esse material do Chicago passou no teste do tempo.
Claro que o CD quadruplo não saiu no Brasil. Vi-o certa vez na Fnac, numa caixa luxuosa, que custava mais de R$ 200. Um exagero evidente, que me fez recorrer à pirataria na internet, mas que por alguma estranha razão não materializei em CD. A versão que ouço está no meu pen drive, em MP3, que com um bom fone de ouvido não omite nada (digo isso para terror dos puristas, que, como puristas, são irracionais).
Mas isso pouco importa.
É um disco impressionante, já que a banda consegue reproduzir exatamente aquilo que fizera em estúdio. Sobretudo quando se pensa que, não muito distante desse trabalho, o Chicago passou a escrever música mais fácil, afastando-se da origem jazzística. Não que os discos que vieram a seguir sejam péssimos (ao contrário), mas, musicalmente, empobreceram.
E não digam que a morte de Terry Kath foi a responsável por essa guinada, pois participou dela. Tampouco se pode atribuir a feição pop à entrada do brasileiríssimo e competentíssimo Laudir de Oliveira na percussão. É evidente sua colocação na banda justamente por causa do acento mais palatável que o Chicago assumiu.
Hoje a banda está na enésima formação, mas girando em torno de Lamm, Pankow, Parazaider e Loughnane. Alguns dos integrantes que vieram depois já estão completando quase 20 anos de grupo (como o baterista Tris Imboden ou o baixista e cantor Jason Scheff) ou 30 (como o cantor, guitarrista e tecladista Bill Champlin). Guitarristas foram vários, desde Donnie Dacus (que substituiu Kath logo após sua morte) a Michael Landau, passando Dawayne Bailey.
Dos integrantes originais, Peter Cetera chegou a fazer bem sucedida carreira-solo por conta da boa aparência e a inconfundível voz de falsete. Danny Seraphine formou uma banda de jazz na California e deixou o circuitão. E Laudir, que entrou no grupo ainda com Kath vivo, se encheu dos compromissos pesados do supergrupo: com a boa aposentadoria à base de direitos autorais, voltou para o Rio, onde toca com quem quer e bem entende. É possível vê-lo nos bares da cidade dando aula de ritmo para a moçada mais nova.
Chicago IV marca o fim da primeira fase da banda, que já taxiava rumo ao estrelato.

De Gravatá para esse Brasilzão

O que move as pessoas para a política? Dinheiro e poder, mais nada. Do tubarão branco ao peixe de aquário, todos querem arrancar um pedaço do erário. Esse negócio de bem-estar do povo é pura conversa fiada, embora, no final das contas, a população precise de representantes para tentar pegar as migalhas do trabalho do Executivo ou do Legislativo.
Para quem discorda do que estou falando, veja o documentário Porta a Porta, de Marcelo Brennand, que está entrando em cartaz. Pelo trailer, não só é imperdível como endossa tudo o que falo aqui. O cineasta acompanhou a disputa pela prefeitura de Gravatá, interior de Pernambuco, em 2008, mais um desses inúmeros municípios no qual o principal empregador é o poder público.
Quer dizer: não tem trabalho. Comércio é coisa de parentes, que envolve a família toda, o mesmo acontecendo com lavoura ou gado. Agências do governo estadual ou federal são compostas por concursados, deslocados para o sertão. Bancos seguem a mesma regra. Então, quem sobra para dar emprego a uma população que não para de crescer? A prefeitura.
E mesmo uma prefeitura pobre tem muito a oferecer. Sem receita, vive pendurada nos repasses dos governos estadual e federal. É um saco sem fundo que não vira escola, posto de saúde, hospital ou asfaltamento. Antes, alguém já meteu no bolso o dinheiro que chega. Todos querem fazer isso, direta ou indiretamente, do prefeito aos secretários, do vereador ao cabo eleitoral.
Não se pode cair na tentação de culpar a pobreza por isso, nem o Nordeste. Isso acontece em todo o País, de Norte a Sul, com prefeituras grandes e minúsculas. O roubo é proporcional ao potencial de arrecadação. Não fosse assim, não se estaria discutindo, no âmbito do Governo Federal, como tornar mais transparente a planilha de gastos das prefeituras. Das grandes ainda se controla, mas, e das pequenas? Gravatá tem um site? Talvez tenha, com informações básicas e nenhum dado sobre a aplicação do dinheiro que entra nos cofres públicos. Se alguém quiser conferir, faça o favor.
O documentário é o retrato da política não somente brasileira, mas terceiro-mundista. O cara para se eleger a um cargo público promete, apenas isso. Quando um cidadão diz que quer ter acesso ao gabinete do prefeito para buscar um remédio lá quando precisar, não está sendo ignorante. Todos, se pudéssemos, faríamos o mesmo, já que crescemos sob uma arraigada cultura assistencialista.
Qual a diferença entre o cabo eleitoral de um candidato em Gravatá e o de Lula? Nenhuma. O que os move é a aposta no mercado futuro do emprego nomeado num cargo público.
Nesse negócio, sinceridade é o que menos importa, convicção não está em jogo e honestidade é artigo em falta. Porta a Porta mostra a ferocidade da política, que em alguns desses locais termina em troca de tiro. Ninguém é bonito, tal como o hoje senador Fernando Collor, braço erguido em desafio quando fez campanha presidencial em Niterói, em 1989. A foto é célebre: rosto contraído, boca de berro; parecia um dos 300 de Esparta, indo para a guerra contra os gregos. Falta-lhe, porém, o argumento da defesa do ideal.
Citei Collor, mas poderia ter citado Lula, lançando chorrilhos de perdigotos naqueles que babam por cada uma de suas palavras, debaixo do palanque. Para eles, o monte de asneiras é uma revelação bíblica.
Gravatá é o Brasil paulista e carioca, da capital. Tem lances engraçados no filme, todos provocados pelos diálogos toscos entre os personagens, o vernáculo sendo marretado sem dó pelo analfabetismo. Ninguém tem medo do ridículo. A falta de dentes é tão frequente quanto a de escrúpulos.
Todos querem sangrar o porco gordo da prefeitura, cravar-lhe a faca rasgando o couro e, com a carne ainda quente e trêmula (nada a ver com Almodóvar), arrancar um naco para saciar a fome. E babando saliva e sangue, rir satisfeito.
Não se enoje com a imagem descrita aqui. Política é bárbara por definição. Há os que a fazem com alguma ética, alguma apenas. Porque quando é preciso abater o adversário, atiram da mesma maneira que aqueles que não têm ética alguma.
Churchill disse que a democracia é o pior dos sistemas políticos, excetuando-se, claro, todos os outros. Gravatá está aí para confirmar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cinismo, códigos morais, regências sociais e censura

Leio na coluna da jornalista Eliane Brum,  no site da revista Época, que está circulando pela net um vídeo bizarro: de uma mulher que, em plena agência bancária, defeca, enquanto é filmada (obviamente pelo celular) por outra (ou outro). Não vi o vídeo, nem vou ver. Evidentemente que a mulher que comete o ato de sujar o hall de um local público está fora de si - se permanentemente ou não é outra história. Paira a dúvida sobre a sanidade dessa pessoa. Mas não há qualquer dúvida sobre o cinismo de quem saca um aparelho do bolso e se diverte com a patetice alheia.
Eliane defende que, tanto a mulher que defeca quanto a (ou o) que filma, estão em estado de completa barbárie. Ignoram as regras de convivência em sociedade, atropelam questões morais, embora por razões diferentes. Acho essa questão filosófica demais. Penso que podemos resumir tudo numa pergunta: onde está nossa auto-censura?
Quem não tem auto-censura também está em estado de barbárie. Isso é certo. Mas a net tem estimulado tais coisas. Estamos vivendo a época dos extremos: depois de décadas de repressão, passamos pela fase do vale-tudo. Não há rédeas, não há privacidade. Precisamos achar o quanto antes o ponto de equilíbrio.
Não podemos aceitar a expressões igualmente cínicas, como "vê quem quer" ou "quem procura acha", para justificar esse estado absoluto, quase animal, de liberdade. Censura tornou-se uma palavra maldita, ainda mais nos trópicos. A simples menção desperta reações apaixonadas, esgares de nojo. Mas, o que fazer quando um vídeo de uma mulher defecando numa agência bancária começa a circular na net? Damos as costas e dizemos "vê quem quer"? E nossa responsabilidade?
O "deixar pra lá", a indiferença, é tão bárbara quanto quem caga e quem filma. É igualmente cínica. Temos um compromisso uns com os outros, ainda que não admitamos isso. O site, por dever de ofício, deveria, sim, censurar. Cen-su-rar! Quem perderia se esse vídeo fosse tirado do ar? A liberdade de expressão ou o direito à informação! - dirão os mais exaltados. Que liberdade? Que direito à informação? Desde quando filmar alguém em estado ridículo informa algo? E que liberdade é essa que clama por ver uma mulher desequlibrada entre dejetos?
Não vamos confundir cinismo com liberdade. Não são sequer parecidos os dois conceitos. Quem exibiu, o fez por não saber exatamente o que é compromisso social, embora jamais vá admitir isso - talvez já esteja acostumado com cenas de violência semelhante. Será até capaz dizer que fez um trabalho jornalístico, assim como esses programas que acompanham equipes da polícia em busca de criminosos. Isso não é jornalismo: é curiosidade, mais nada. Jornalismo é muito diferente de mostrar um carro da PM perseguindo bandidos até algemá-los.
Sordidez dá ibope, gera audiência. Quem apresenta programas dessa natureza defende: é jornalismo. Quando confrontado, diz que é liberdade de expressão. E se derrubado mais esse argumento, alega: "vê quem quer".
Voltamos ao marco inicial, o do cinismo e da falta de censura. O vídeo da mulher não vai para a TV pelo mau gosto, mas pode circular livremente pela net. Qual a diferença entre uma e outra, já que as redes se utilizam da rede quando precisam? Talvez seja porque as televisões atingem milhares de lares e a net não. Mas quem disse que códigos morais valem somente para um desses veículos? Não são de comunicação?
E códigos morais não representam alguma espécie de censura, de balizamento? E quem tem menos nesse episódio: a desequilibrada que defeca ou a pessoa que filma, tida como normal?
Pois é.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Do medo à sinistrose

Já faz alguns dias desde meu último post e, se a situação da reforma ministerial mudou (comenta-se que Dilma troca somente os ministros que vão disputar a eleição municipal, mais o novo titular do Trabalho, o que representa que até Mário Negromonte tem chances de ficar), a da Europa vai de mal a pior. Estava zapeando a internet quando me deparei com o artigo de Paul Krugman, que avisa dos riscos de uma guinada à extrema direita se a crise do euro continuar no mesmo diapasão. Leia-se: uma ditadura nos moldes de Hitler, Mussolini, Salazar ou Franco.
Compartilho somente de parte do pessimismo do economista. A direita, seja ela mais moderada ou extremista, jamais desapareceu da Europa. Agora mesmo a Espanha escolheu um governo conservador, já que os conservadores são tidos com controlados e suficientemente corajosos para tomar medidas impopulares. A Itália, depois do vendaval Berlusconi, também tem um governo conservador, sob comando de Mario Monti, que já começa a enfrentar as primeiras resistências por causa do xarope amargo que quer fazer descer goela do povo abaixo.
Esse mesmo conservadorismo é visto na Grécia, no governo do economista Lucas Papademos. O premier belga, Elio di Rupo, que embora tenha origens no partido socialista, tenta fechar uma coalizão com os conservadores. Sarkozy tem uma eleição pela frente na França e, embora esteja atrás do socialista François Hollande na última pesquisa, avançou alguns pontos por causa da participação nas negociações para evitar o naufrágio do euro. A sondagem coloca Marine Le Pen, do abominável Front National, com 17% das intenções de voto.
De alguma forma, a direita vem sendo convocada a dar sua contribuição na busca de uma saída da crise. E é aí que as coisas se enrolam. Não diria que se verá a ascenção de um novo Hitler, mas o discurso racista e discriminatório voltará com força à medida que os conservadores avancem. E terão o endosso dos socialistas, tidos como progressistas, que diante da dimensão do problema terão de aceitar as restrições. Imigrantes de todos os continentes, sobretudo os africanos, os europeus do leste e os muçulmanos de qualquer continente, estarão na lista dos enjeitados preferenciais.
A crise econômica historicamente escolhe bodes expiatórios. Já foram os judeus, como os imigrantes africanos tiveram vez. Depois, os muçulmanos. Ciganos também entraram na dança e foram deportados às carradas da França, meses atrás. Um doido na Noruega saiu atirando em inocentes afirmando que era preciso parar a invasão islâmica. É a velha história de que o imigrante tira o espaço do nativo. A justificativa é idiota e racista, adjetivos, aliás, quase sinônimos.
Mas quem é da terra se recusa a fazer certos serviços, entregues aos que vêm de fora.
Haverá convulsões, sim, mas por razões diferentes. Dos trabalhadores contra o governo, que não vão aceitar reduções de programas sociais e benefícios (como aumento do tempo para se aposentar ou tetos de aposentadoria), por mais anacrônicos que pareçam para uma Europa em crise. Dos trabalhadores contra os trabalhadores imigrantes, que serão acusados de tirar-lhes postos, ignorando que alguns serviços subalternos e insalubres há muito são proibidos por esses mesmos sindicatos de trabalhadores. Dos imigrantes contra o governo, pois não vão aceitar novamente ser bucha de canhão, culpados de uma crise que não construíram. Dos governos contra os governos, pois alguns considerarão (como já consideram) impensável que outro país intervenha na sua economia diretamente, impondo ditames e regras. Da Europa contra Ásia (leia-se China, por mais anacrônico que isso possa parecer), África e América Latina, colocando restrições cada vez mais estúpidas aos produtos que vêm desses continentes, além de impedimento ao trânsito de pessoas.
A tragédia europeia está somente começando, mas a democracia não parece ameaçada. Dessa vez, não há um discurso fácil, capaz de galvanizar uma nação inteira, tampouco oposições fracas e países indiferentes a decisões insensatas. O mundo hoje é um só e a Europa está coladinha na China, ainda que não geograficamente. Eles espirram e nós nos gripamos, coisa que não acontecia na década de 20 ou 30 do século passado, quando a terra era maior e os países mais distantes.
Para sair do atoleiro, os europeus precisam do restante do mundo. Mas a tentação de se fecharem é grande.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Da bobagem ao fato

Entramos entrando na "silly season", a temporada dos bobos. É quando, por falta absoluta de notícias, repórteres e colunistas exercitam a arte do chute. A exemplo da lenda que gira em torno de Zico, que colocava uma camisa no alto do travessão como alvo e cujo perfeccionismo em tentar acertá-la fez dele um exímio cobrador de faltas, muitos acreditam que será assim que vão derrubar ministros e influir nas decisões de governo. Não vão. Para alguém do primeiro escalão cair, a munição tem que ser pesada.
Lupi foi o último, depois de um festival de bravatas e mentiras. Admito que cair agora ou em janeiro, quando haverá a reforma ministerial (única coisa verdadeira nesse universo de chutes a gol), não fazia muita diferença. Já estava ferido de morte, como Mário Negromonte, por enquanto esquecido.
O mais recente a dar entrada na UTI é Fernando Pimentel. Não quer dizer que vá morrer, mas a condição não é das melhores.
A rigor, o titular do MDIC está na mesma situação de Palocci, que desceu do pedestal de primeiro-ministro por consultorias fora de hora. Pimentel também atuou naquele período pré-governo, época em que esteve na campanha de Dilma como um dos coordenadores. Já vimos esse filme em maio: Palocci negou que tivesse havido tráfico de influência até o final, assim como Pimentel está negando. Não funcionou.
* A faxina ética que vem sendo feita pela imprensa (registre-se e ressalve-se: Dilma tem somente atendido à condenação da opinião pública) vai dando imensa munição aos candidatos da oposição a importantes prefeituras. São Paulo é um caso típico: como candidato escolhido pelo PT, Haddad terá dificuldades em se defender contra o ataque adversário. Além do passivo que acumulou à frente do Ministério da Educação, ainda terá de explicar como é fazer parte de um governo que, em 11 meses, demitiu sete ministros, sete deles por envolvimento com corrupção. Não chega a oito porque Negromonte já está com o bilhete azul na mão e sai em janeiro. E não chegará a nove porque o recesso de fim de ano vem aí e Pimentel tem a chance de se manter no cargo. Mas sobrevive em janeiro?
* Esses, porém, são casos claros. Têm os escuros, cuja saída vem sendo pedida não se sabe ao certo por quê. Nessa condição está Ana de Hollanda. Ainda que ela não se ajude muito e dê imensas chances aos seus críticos, do outro lado também atua um time de fascistóides que impressiona pela virulência e falta de conteúdo. Os integrantes dessa charanga se consideram os donos da cultura do país e, como crianças mimadas, acreditam que um governo deve seguir a agenda deles, não a do governo.
Têm conseguido bater bumbo porque a ministra (aliás, não apenas ela, mas todos aqueles que são tidos e havidos como demissíveis por incompetência) optou por uma relação complicada com a imprensa. Disse para um colega que tenho aprendido muito com o mau jornalismo praticado por alguns veículos, que respaldam teses que desenvolvem abrindo espaço para os eternos críticos e insatisfeitos. A balança deles está sempre desregulada e pende para o lado do desejo de fazer onda de qualquer maneira.
* Mal entramos na "silly season". Quando o governo começar a parar, veremos gente chutando com as duas e com as quatro pernas por meio de reportagens sem fontes, repletas de "offs" e com dados requentados, trazidos de matérias que saíram várias vezes nas últimas semanas.
É a  falta de notícia travestida de notícia. Isso só acontece porque o governo é fraco e permissivo. Especulações viram verdades; chutes se tornam fatos. O Palácio deu a pauta. Dilma podia estar preparando, a essa hora, o balanço de 12 meses de gestão, um festival de números que poucos entendem, mas todos engolem. No momento em que divulgar isso, parecerá frio e desprovido de sentido. Porque os jornais já terão colocado na rua uma fileira de lembranças das lambanças (sem jogo de palavras) desse primeiro ano.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Patos mancos

Os comentaristas políticos brasileiros sabem bem o que significa a expressão "lame duck". É o "pato manco", aquele que pode escapar agora da mira do caçador, mas vai morrer logo adiante. Os políticos americanos usam esse jargão como forma de mostrar que fulano não dura muito e que, mais dia, menos dia, vai cair. Pode-se dizer o mesmo de Carlos Lupi.
Fico pensando se tirá-lo agora, como sugeriu a Comissão de Ética, ou daqui a um mês, faz alguma diferença se o cara vai sair mesmo. Creio que, a rigor, não. A reforma ministerial vem aí em janeiro e ele é nome certo para sair na barca dos demitidos. Se não sair, aí é grave, dona Dilma.
Li uma colunista que afirmou tudo isso ser uma imensa palhaçada; que a presidente desautorizou a Comissão. Discordo. A Comissão não fez nada que o Palácio do Planalto não soubesse que faria. Se tivesse liberado o Lupi, achava estranho. O roteiro do ministro está traçado. Passa o Natal e o Ano Novo no cargo por pura brincadeirinha. Até porque, a partir do dia 10, aqui em Brasília, o ritmo é devagar quase parando. Vai tudo funcionar à meia-boca.
Não posso assegurar, mas Lupi deve estar aos poucos limpando as gavetas. E se valer a mesma máxima de Negrão de Lima, tomando cafezinho frio nesse que é seu final de governo. Ali pelo dia 15 segue para o Rio, festeja o final de ano em família e entre amigos e já sabe que não volta. Fará figuração no Ministério até ser comunicado da decisão da presidente. Pelo ritmo de saída, processos importantes já começam a dormitar nas gavetas, esperando a assinatura do próximo titular do Trabalho.
A tal colunista estava indignada. Só passarei a esse estado se a reforma ministerial for transferida para depois do carnaval. Estou indo pelo senso comum de que, em janeiro, as cabeças rolam. Até lá, tem tempo de dona Dilma articular as mexidas que pretende fazer no tabuleiro. Dizem que nem todos os tidos e havidos como demitidos vão sair, mas apenas remanejados de lugar. Até lá, é tempo de sugerir nomes, soltar balões de ensaio para colher as reações e muita, mas muita, especulação.
Tirando a turma que vai se candidatar às prefeituras (Haddad, Iriny), tem o pessoal que foi pego com a boca na botija (Lupi, Negromonte) e o pessoal que não disse a que veio (Ana de Hollanda, Afonso Florence). Em relação aos dois primeiros grupos, percebo que o noticiário os mantêm sob fogo cerrado, mesmo porque as notícias que os envolvem são sólidas. Mas começo a ter dúvida sobre aqueles considerados ineptos.
Lendo ontem um jornalão, numa sub-retranca (para quem não sabe: uma das matérias agregadas à principal), um repórter tratava com muito cuidado a saída de Ana de Hollanda. Colocava vários "se", "pode" e "deve". Não afirmava, não cravava. Dias atrás, o senso geral é de que ela seria uma das primeiras a rodar. Agora, vejo cuidados em relação a esse vaticínio.
Mesmo porque, convenhamos: a ministra tomou muita traulitada, mas foi especialmente feliz quando disse que era a imprensa que a estava tirando, não o Palácio. Não mandou o "Dilma, eu te amo" do estabanado Lupi, mas mostrou que tem intenção de ficar no cargo. E se tem intenção é porque alguém sinalizou que a possibilidade é boa, que tem muito glacê e pouco bolo nas reportagens que estão saindo.
Não existe demissão antecipada, isso é certo. Existe o boato, a conversa à boca miúda, mas aquele negócio de o cara dizer hoje que vai demitir daqui a seis meses é pura balela. É o tipo do negócio que ninguém  anuncia. Ana vai dançar? Tenho minhas dúvidas.
Como se afere a competência quando o assunto é governo? Batendo bumbo? Alardeando os feitos? Mas isso não é marketing? Ah, é justamente o contrário, ficando caladinho e trabalhando em silêncio, igual mineiro? Mas isso não é omissão? Lula conseguiu tal popularidade apenas porque trabalhou ou porque subiu no palanque e berrou seu governo pelo megafone?
Pois é. Nas casas de aposta de Londres, eu botava a mesma quantia na saída e na permanência de alguns nomes tidos como patos mancos.