quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Últimas reflexões

Não sei dizer se esta será a última postagem do ano. Mas se não for, considerem-a como. É o que de mais profundo vou falar até o dia 31. Se algo escrever mais adiante, em outro post, será sobre música, relógios ou coisas sem qualquer importância.
Esse ano foi hard, duro mesmo. Mas valeu a pena. Dei um passo atrás para dar dois adiante. Poderia ter sido sem dor, mas, quem disse que a gente aprende pelo amor? Nunca. Tem que se levar uma cacetada, cair bem fundo para mudar procedimentos, maneiras de pensar, formas de agir.
Acho que chego ao final de 2011 mais leve e bem-humorado, pretendendo aprender a trafegar numa seara que sempre tratei com desprezo: a da assessoria de imprensa. Achava, com a rotina dura de 25 anos em redações (um pouco mais, se for contar o período de estágio), que assessor de imprensa era uma espécie e come-dorme, que raramente dá ao assessorado a noção da vida que o cerca. Claro, muitos são os que pretendem apenas enxergar uma realidade que de real não tem coisa alguma.
Também comecei a observar a estrutura de governo. Mantenho minha postura crítica, mas acabou aquela ideia errada de que ninguém trabalha e que para cada competente há três incompetentes. Não sou funcionário público (trabalho para uma agência que presta serviço e faz a função de funcionários públicos), mas tem gente que sua a camisa e vira muitas horas de serviço para desengomar o que lhe é incumbido.
Esse arejamento é excelente. Ouvi um grande amigo dizer, do alto (ou debaixo) do seu desprezo, que assessor de imprensa não é profissional de imprensa. Erro, engano, preconceito. Talvez porque se referisse ao trabalho de alguém que conhecia bem de perto, cuja função primordial era vender notinhas insignificantes de jornal ou evitar que coisas de importância relativa saíssem.
Sim, isso passa pela assessoria, mas não são funções pequenas. Aprendi que uma nota bem vendida, numa coluna de peso, tem influência enorme. Ou que uma reportagem que se impediu de publicar tem o efeito de debelar crises.
Desse lado do balcão vi ainda como o jornalista pode ser maldoso, incorreto, desonesto. Matérias e edições forçadas têm o condão de fazer mal e desinformar. Indicam à opinião pública o caminho errado a seguir, atiçam grupelhos interesseiros e ávidos por mais espaço, incendeiam disputas políticas intestinas.
Nem sempre concordei com a postura assumida no combate a esse tipo de "jornalismo" (com todas as aspas possíveis), mas, mesmo nesses momentos, aprendi. Jamais fui bom estrategista e percebi que, apesar da pressão, o desejo de reagir pode levar a um equívoco ainda maior.
Quem acha que assessoria é um eterno jogo na retranca, está enganado. Não sabe nada. Comunicação de governo é difícílimo exatamente porque há uma desconfiança generalizada sobre os dados que são divulgados. O jornalista, um tanto por vezo e outro tanto por arrogância, desacredita. Não é desconfiar, é desacreditar. Acha que é mentira, enganação, cascata. Que no meio daquilo que se pretende passar, tem um percentual alto de inverdade.
Fui e continuo sendo jornalista. E se um dia voltar para uma redação, serei o primeiro a tratar com mais respeito dados e números oficiais, ainda que a tese que venha sendo defendida ao meu redor seja a de derrubar o que está sendo passado.
Prezados: jornalistas têm teorias e fazem de tudo para confirmá-las. Um repórter sai com um sapato número 40 da redação em busca de um pé que se encaixe nele. Se encontrar um que sirva, ótimo, confirmou a tese. Mas se encontrar um de número 45, vai querer colocá-lo dentro daquele calçado de qualquer maneira.
Aí é que está o perigo. A má-fé e a ambição se revelam nesses momentos.
O balanço de 2011 é positivo. Saí da minha zona de conforto, na qual nada de muito interessante estava aprendendo. Dominava a edição, tinha liberdade para fazer aquilo que queria, orientava repórteres, retrabalhava textos... Mais de duas décadas fazendo isso. Caí numa seara completamente diferente, que me obrigou a pensar. Nos primeiros dias foi muito difícil, mas, com as semanas, as coisas se ajeitaram.
Conheci também pessoas competentes, com outras ciências, e delas quis absorver tudo. Não acho que tenha conseguido, mas, ao menos, voltei a ter o gosto pelo conhecimento, pela novidade.
Sempre achei papo-furado essa coisa de que as pessoas gostam de se sentir desafiadas. Não, ninguém gosta. Ninguém dá uma virada na carreira sem ser provocado. Eu tive que dar ou então, percebo hoje, seguia a passos largos para a mediocridade, ao lado de gente "inculta e bela", aqui numa brincadeira com Olavo Bilac. Quantos sabem disso? Bilac?
Espero, sim, um ano menos acidentado em 2012. Tenho esse direito, tenho o direito de ser otimista. Aliás, tenho que ser otimista. Aliás do aliás: me tornei um otimista. Coisas que a gente aprende somente quando toma uma chicotada no lombo.

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