terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pior que a riqueza é a pregação moralista

Dando um rolé pela net, cheguei ao site da Veja, que faz uma devastadora crítica de um programa da Band, que foi ao ar segunda à noite chamado "Mulheres Ricas". O nome já diz tudo: cinco miliardárias brasileiras estourando dólares em Miami - assim como Key West, Key Largo... -, refúgio dos nossos concidadãos endinheirados e sem criatividade.
A emissora acertou em cheio se seu plano era chamar a atenção com um reality show de mau gosto e, por que não?, ofensivo para um país de milhões de miseráveis, apesar de ser considerado o 6º PIB mundial. Mas se a Globo tem o Big Brother, um festival explícito de futilidades e nulidades, por qual a razão a Band não poderia ter o seu cirquinho, que mostra (em 10 episódios) dias da vida de madames que nada têm a fazer a não ser gastar?
Não vi o programa, nem vou ver. Vi os comentários, que não me surpreenderam, embora vários sejam repletos de hipocrisia. Aqui não vai qualquer esquerdismo extemporâneo, tampouco pregação de uma sociedade mais igualitária ou coisa do gênero. O capitalismo é, em essência, desigual, mas não conseguiram derrotá-lo. O dito socialismo desembocou em ditaduras crueis, cujas elites (ô palavrinha detestável) não têm pruridos em massacrar para viver bem. Os exemplos estão aí, aos montes.
Voltando à hipocrisia dos comentários, sobretudo no tuíter. Acho engraçado a turma criticar e dizer que estourar dinheiro sem perdão é "cafona" ou "demodé"; que as cinco ricaças são "sem noção" e que um programa desses é a decadência completa da TV.
Essas críticas são de morrer de rir. Primeiro porque, muitos dos que atacam as "madamas", se pudessem arrebentavam o cartão, mesmo que tivessem algo melhor para fazer do que ser bonqeuinha de luxo (desculpe, Audrey!). Dos críticos que li, ninguém ali me parece com tendência a jogar a fortuna para o alto e se juntar a uma tribo de bérberes da Nova Guiné, ou então seguir os passos de São Francisco. Santo Agostinho, nem pensar.
Então, estão reclamando do quê? As donas queimam grana com futilidades porque seus maridos dão aval. Tampouco cobram delas engajamento político, social ou o que seja. Elas são troféus da caçada sexual e social. Algumas delas têm mais de um casamento e, sempre que um acaba, saem tão ricas quanto entraram. Essa é a profissão delas: mulher de nababo. E são bem remuneradas para isso.
Claro que qualquer pessoa com um pingo de bom-senso se sentiria incomodada em ver as senhoritas (uma nem é tanto assim, mas como jura que tem só 40 anos, vá lá) descendo a ripa no dinheiro. Ostentação ofende, sobretudo se a gente compara a vida que elas levam com a nossa.
Mas se incomoda quem quer, quem foi atrás do programa. Eu, por exemplo, não vi; portanto não me senti agredido. Não veria mesmo por uma questão de princípio: detesto reality shows de qualquer tipo. Aqueles que mostram a vida de viciados em drogas ou prisioneiros, que infectam as TVs pagas, são detestáveis. Mesmo os de leilões, de caça a raridades ou de casas de penhores são desinteressantes.
Então, as "Mulheres Ricas" vão passar sem me fazer frio ou calor. Mas, perguntam vocês, por que estou falando nelas? Por causa da reação irada dos comentários no tuíter ou da crítica da Veja. No primeiro caso, desconfio muito da pureza de intenções de quem critica as madames, mas a segunda o faz por dever de ofício. A primeira, gasta indignação de encomenda, irritação estudada; a segunda, tira sarro da situação das moças, quase sempre patética. A primeira expõe preconceito e hipocrisia, como se todas as vestais que atacam as ricaças fossem incapazes de fazer o mesmo se lhes coubesse a honra; a segunda, avalia tecnicamente um programa e o que ele tem a oferecer - ou, sem trocadilho, enriquecer - à TV.
Veja "Mulheres Ricas", estarreça-se à vontade com o desfile das cinco figuras. Mas não se aborreça, nem faça pregação moralista. Você pode estar naquela faixa (majoritária) de cidadão que se fosse político, e pudesse, empregaria os parentes.  E se fosse miliardário, madava descer a loja da Cartier a cada estada em Paris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário