Já disse aqui, não sei quando, que na viagem que fiz à Suíça, ano passado, um parafuso caiu da minha cabeça. Antes de sair daqui, contei ao meu compadre Jorge Eduardo que, se desse, traria um relógio "nacional". Uma noite, depois de um jantar em Basiléia, andando nas proximidades do hotel, encontrei um antiquário de relógios. Me esquematizei para, no dia seguinte, trazer de lá um exemplar. Tudo deu certo e foi o que fiz.
Fui com um e voltei de lá com três exemplares. O terceiro, comprei no freeshop de Munique. Nada tão espetacular assim: dois Tissot, um comprado em Basiléia, outro na Alemanha. Ainda tenho ambos; o relógio que fui, dei para meu irmão - é um honestíssimo Orient.
Pois desde então, eu e meu irmão temos trocado figurinhas sobre relógios. Dei para ele mais dois (um Rado modelo President, suíço [bela marca, diga-se]; e um Festina, modelo Multifunction, alemão de máquina japonesa, que comprei zero bala na Vivara), que hoje já tem uma coleção tão boa quanto a minha. Mas, é claro, temos nossos sonhos. E é gostoso falar sobre isso.
Ele ficou fissurado pelos Omega Railmaster, modelo que, hoje, é difícil de encontrar. Não é barato e alguns chegam a preços exorbitantes. Para quem não conhece, seu rival direto é o Rolex Milgauss, igualmente difícil de achar e, claro, caro (Rolex barato não existe). Hoje mesmo, trocando e-mails, me falou sobre o Omega Ranchero, fabricado durante dois anos apenas, na década de 50. Achei que ele tivesse encontrado um na bacia das almas e fiquei exultante. Não foi dessa vez. Pena...
Falou-me sobre um Omega Seamaster que viu, numa dessas relojoarias meia-boca em Belo Horizonte, onde mora. O estado não deve ser dos melhores, considerando-se o fato de que a tampa traseira não é original (pertenceu a um Technos que deve ter sido canibalizado). Mas como um Omega é sempre um Omega e o preço que o cara pedia era uma bobagem, recomendei-lhe que pegasse. Antes, dei umas dicas para ver se vale à pena. Recuperar bem um relógios desses sempre tem algum custo.
Meu irmão é um fuçador nato. Já correu tudo quanto é feirinha em BH atrás de coisas antigas. Achou um senhor que ajudou-o a devolver vida a duas canetas Parker 51 que tinham sido do meu pai. Muito legal saber que tem gente que curte essas coisas. Em São Paulo, tempos atrás, no shopping Bourbom, vi uma feira de canetas antigas. Estava no final quando cheguei, mas tinha belos exemplares. Alguma coisa está mudando no Brasil.
Parece que estamos começando a dar valor a artigos de excelente qualidade que chegavam aqui, há mais de 40 anos. Tudo bem, simbolizam a nossa ausência de industrialização, mas, depois da II Guerra, quem tinha realmente indústria pujante? O Brasil estava começando apenas a caminhada e, como carros e outros artefatos industrializados, tudo vinha de fora. Canetas e relógios, por exemplo.
Quando o padrinho da minha primeira mulher morreu, o fundo da gaveta dele estava repleto de relógios. Fora ourives e, pelo jeito, aqueles exemplares ficaram com ele para conserto e jamais foram devolvidos aos seus donos, por esquecimento dos dois lados. Entre eles, um Rolex (não saberia dizer o modelo, que nunca mais vi, mas creio ser da década de 50), um Jaeger LeCoultre (a corda, do final dos anos 40, que tenho até hoje e funciona perfeitamente), um Cyma (que nunca mais vi, mas lembro que o fundo era preto), um Eterna Matic (modelo Kontiki, todo em aço, com a máquina estragada pela ferrugem; o antigo dono deve ter ido à praia ou à piscina, a vedação não estava legal e mandou tudo para o saco) e um Seiko, que está na recuperação e - não sabia - vem da década de 60 - pensei sempre que era dos anos 70.
Dei minhas bolas fora também. Perdi um jogo de lapiseira e caneta que foram do meu avô paterno, para chateação do meu pai. Era uma lapiseira Pelican e uma caneta de pena da Parker. Junto, tinha uma Cross de ouro, que fora do meu pai. Vejam meu prejuízo. Tentei deixar o velho menos chateado dando de Natal, ano passado, uma Waterman. Sei que uma coisa não compensa outra, nem era essa a intenção, mas fiquei muito envergonhado com meu desleixo.
Dei para meu sogro um Eterna Matic que comprei no Mercado Livre justamente no dia em que ele me disse que o relógio que tinha havia estragado. Vejam que ironia. Hoje, não tira do pulso. Seu Azor não é a figura mais cuidadosa do mundo, mas acho legal ver aquele Eterna de quase 50 anos funcionando perfeitamente no pulso dele. É isso aí, quanto mais usa, mais funciona.
Enfim, por que estou contando tudo isso? Porque os objetos têm história. Pode não ser a nossa, mas chegaram até nós de algum jeito, estranho ou não. Isso é que é legal. E conservar coisas assim não tem preço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário