sexta-feira, 8 de julho de 2011

O pacote do Pagot

O governo está refém de um homem: Luiz Antônio Pagot, diretor (ainda?) do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o notório DNIT. Em breve conversa com repórteres d’O Globo e da Folha de S.Paulo, deu um tom ameaçador à possibilidade de ser escanteado. Para um, disse que era um cumpridor de ordens e justificou-se com o ditado “manda quem pode e obedece quem tem juízo” para deixar claro que se irregularidades existem, não são endossadas por ele. Para o diário paulistano, Pagot foi mais explícito ao atribuir ao petista Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária e considerado “olheiro” do Palácio do Planalto, a responsabilidade por 90% das obras de DNIT.
Por causa disso é que ontem os parlamentares do PR tinham apelidado Pagot de “homem-bomba”. Isso justifica o cuidado com que o Palácio do Planalto começou a tratar a substituição de Alfredo Nascimento. A presidente, na impossibilidade de emplacar Paulo Sérgio Passos no comando do Ministério dos Transportes, convidou o senador Blairo Maggi (PR-MT) para assumir a pasta. A manobra ficou evidente: Blairo assume e acalma Pagot, que fecha a matraca que ameaça abrir. Só que o senador tem bons motivos para não atender ao chamado: ameaçam abrir uma CPI tão logo assuma, assim como os vários negócios que tem com o governo e sua fama de desmatador o deixam em má situação antes de entrar.
Nesse processo, algumas caravelas já foram queimadas. E caso a presidente volte atrás, consolidará a fama de hesitante com que já a classificam. Na explosão do escândalo, detonado pela revista Veja, Dilma afastou todo o segundo escalão do Ministério, deixando apenas Alfredo, cuja cabeça foi cortada depois. Afastamento significa demissão e não pode ter outra leitura. O presidente da Valec foi exonerado, o ex-chefe de Gabinete de Alfredo também.
Pagot, por sua vez, pagou (sem trocadilho) para ver. Pediu férias e começou a mandar recados, que chegaram ao destinatário. De algumas horas para cá emergiu um temor, explicitado pelos jornais, de que ele pode fazer estragos que não interessam ao governo. Começou, inclusive, a circular o boato de que muitos dos pedidos que atendeu foram de petistas, dentre os quais o mais destacado é o hoje ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Na época, ele estava no Planejamento. Pagot nega essa versão, mas onde há fumaça, há fogo.
Se Bernardo for trazido para a roda, vem junto a ministra-chefe da Casa Civil, sua mulher, Gleisi Hoffman. A versão de que o ministro teria feito várias solicitações ao DNIT foi passada por parlamentares do PR, que, evidentemente, sabem das coisas, tal o nível de atuação do deputado Valdemar Costa Neto no partido e no Ministério. Juntando-se o “manda quem pode e obedece quem tem juízo” declarado por Pagot e a alcunha de “homem-bomba” que recebeu, não é difícil acreditar que a presidente meteu a mão num vespeiro de proporções siderúrgicas.
Esse final de semana será de conversas e articulações. Já se fala em entregar o Ministério dos Transportes ao PMDB e compensar o PR com uma algo menos espinhoso. Os peemedebistas dizem que não querem, mas querem, sim, voltar a uma pasta pródiga em recursos e que já controlaram no passado. Os parlamentares do partido do ex-ministro Alfredo Nascimento dizem que o Ministério é um “pepino”, mas só o fazem agora, depois que a lama ganhou as ruas – do contrário, continuariam colocando esse suculento pepino na salada com a maior tranquilidade. O PR, porém, não admite ser empurrado para uma pasta pouco irrigada de recursos ou sem peso político.
Pergunte se lhes interessa o Ministério da Pesca?

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