Confesso que tenho estado descuidado com meus três seguidores. Nem o Agamenon Mendes Pedreira é tão relapso. Mas as coisas aqui no MinC têm me consumido, sobretudo os textos da Ordem do Mérito Cultural têm demandado tempo. Assim, deixei este encouraçado singrando sem rumo. Sorte minha não ter encalhado ou sua monumental lata ter passado por cima de um inocente barquinho a vela. Mas o capitão está de volta e vamos ao que interessa: falar de rock.
Andei ouvindo no meu carro o último disco do grande Santana, intitulado Guitar heaven (o restante não me atrevo a lembrar, que é grande pra cacete). Posso dizer sem medo de errar: é o melhor disco do nosso querido Carlos em pelo menos 20 anos. Esqueçam aqueles em que ele andou colocando esses nomes menores da música, mas que fazemn um sucesso estrondoso - tipo Shakira, Britney Espinhas e coisas do gênero. Esse é um disco de músicos para músicos.
O grande lance de Guitar heaven é pegar grandes rocks e colocar aquela salerosidad que tornou nosso Carlos uma figura única. Ouvir petardos como Whole lotta love, do Zeppellin, ou Smoke on the water, do Purple, entre timbales, tumbadoras and other assorted percussions é uma experiência espetacular. Santana colocou essa latinidade gostosa, balançada, alegre em músicas tipicamente britânicas ou americanas, de uma gente que não prima muito pela ginga nas cadeiras. E ficou estupendo.
O trio percussivo Dennis Chambers-Karl Perazzo-Raúl Rekow dá um verdadeiro show, com uma levada de bom gosto, sem excessos. Claro que, nisto, entram os arranjos, que procuraram algo único: inovar sem espantar aquele fã mais radical do rock pesado, que abomina percussão. A mistura ficou na medida.
Têm músicas dos Stones, Doors, Hendrix, AC/DC e até do Def Leppard, com uma versão de Photograph que considero muito superior à original. As guitarras estão rasgadas, mantêm o peso dos originais. O baixo de Benny Rietveldt trabalha para o time, fazendo as linhas geralmente simples com imenso peso. O holandês manteve o original, sem slaps, thumbs e outros recursos próprios de baixistas nascidos e criados no fusion.
O restante do time, confesso que não me lembro. Os vocalistas são quase todos convidados e tem gente do calibre de um Chris Cornell (Soundgarden) e de um Joe Cocker. Mesmo a introdução de um rapper (coisa que abomino - desculpe, amigo Kim), NAS, na levada de Back in Black, dos irmãos Angus e Malcolm Young, ficou espetacular.
A única coisa que me incomoda de vez em quando é a onipresença do nosso Carlos. São tantos fills que quase dão no saco. Quando você está querendo ouvir a base, lá vem Santana enfiando a guitarra no meio da música, no fundo do vocal, na ponte, no refrão, no cacete. A gente sabe que é uma característica dele, mas fica parecendo aquela coisa: "Deixa eu dar minha palhetada aqui pro disco não ficar parecendo dos outros". Mas, diante de tudo, é um pecadilho. Tá perdoado, Santana.
Isso quer dizer que Guitar heaven é excelente e merece ser comprado. Diria até mais: que é um dos melhores CDs de rock dos últimos tempos. Ouvi e re-ouvi inúmeras vezes e passou no porta-trecos do meu carro durante todo esse tempo. Só quando dei por ouvido é que encostei-o de volta. Deu prazer. Santana está em forma, o disco não tem excessos (vá lá, só o do nosso Carlos), os arranjos são de primeira, os cantores dentro da medida. Enfim, estupendo.
Se meu amigo Lobão não tivesse me presenteado, teria comprado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário