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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A culpa é do técnico

Assistia a uma discussão ontem, na TV, sobre as razões pelas quais tantos ministros caíram em tão pouco tempo. A certa altura, a pergunta foi feita ao cientista político Murilo de Aragão, que disse ver coincidência na sinistra sequência que enfileirou ministros na direção do olho da rua. Não acredito em lances fortuitos, incumbidos ao destino. Tenho uma explicação própria para tudo isso: trata-se de “fadiga de material”.
O ministério de Dilma é fraco, muito fraco. Ela teve de assumir vários compromissos para ser eleita, que se refletiram na composição do primeiro escalão. Primeiro, vieram os acertos firmados por Lula, com a aquiescência dela, pelo qual vários ministros foram mantidos e outros tantos chegaram. Entre os que vieram, Antônio Palocci e Pedro Novais, um endossado pelo ex-presidente, o outro com a bênção do senador José Sarney. Entre os que foram mantidos, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Nelson Jobim, a pedido de Lula, na composição das alianças que levaram Dilma à vitória.
Em segundo, têm os acordos firmados por ela mesma. Nessa carreira aparecem Ideli Salvatti, Paulo Bernardo e Luiz Sérgio, figuras ligadas ao PT e ao governo anterior, que ascenderam ao ministério no balcão de negócios da campanha eleitoral. E finalmente, em terceiro, aqueles que vieram por indicação, mas que ela apenas ouvira falar. Tal como Ana de Hollanda, guindada à condição de ministra por intermédio de Palocci.
Na reforma ministerial de dezembro, boa parte deles sairia. Mas sairia pela porta da frente, com o currículo imaculado. A presidente faria um cotejo, veria quem se saiu bem e quem se saiu mal e trocaria aqueles que estão na segunda condição. Tudo seria sem atropelo, para que biografias não se tornassem folhas corridas. Haveria uma fofoca aqui, outra ali, mas nada que desabonasse ninguém.
Só que, como diz a Lei de Murphy, nada é tão ruim que não possa ficar pior. Um ministério fraco, vulnerável, daria nisso mesmo. Apesar do fogo amigo petista, que de olho num ministério para chamar de seu jogou no ventilador a questão das diárias de Ana de Hollanda, há a concordância geral de que a ministra da Cultura fez questão de se colocar na janela. E aí, conforme a música de Gonzaguinha, deu aos seus adversários a chance de “passar a mão nela”. Todos sabem o que esta expressão quer dizer.
Cair, não caiu, mas a imprensa ficou atenta e mais receptiva a dossiês. Aqui entra a fadiga de material: muitos dos que vinham do governo anterior perderam o cuidado, tornaram-se imprudentes e, principalmente, tinham a certeza de que Dilma seria tão leniente quanto Lula foi. Juntou-se jornalistas atentos com a falta de vergonha e deu no que deu. A explosão que abateu três ministros – o quarto, Nelson Jobim, saiu porque não conseguiu manter a língua dentro da boca – tem potencial para abater mais um tanto, pelas mesmas razões.
Não creio que o casal Gleisi Hoffman e Paulo Bernardo vá sair por causa da carona do jatinho do empresário que tem negócios com o governo. Mas criou-se novo contrangimento. Isso só mostra que o time é fraco e pouco cuidadoso. Aliás, a prova suprema da dura verdade sobre a mediocridade do primeiro escalão foi a troca de Luiz Sérgio por Ideli Salvatti. Ela estava largada num ministério sem visibilidade e sem importância, o da Pesca, e foi puxada para uma das funções mais importantes do governo, que é a articulação política. Ele estava na articulação política com um desempenho pífio e foi relegado a um ministério sem visibilidade, o da Pesca. Ninguém percebeu o engano antes? Que, neste caso, as funções estavam invertidas? É como se tivessem colocado o zagueiro central de volante e o volante de zagueiro central. A culpa na escalação errada é do técnico.
Consideram um grande feito as trocas que Dilma vem executando. Num país desacostumado com isso, é, de fato, um avanço. Sobretudo depois que ela mostrou imensa hesitação no caso Palocci. Mas é pouco, quase nada. A presidente ainda precisa aprender a treinar sua equipe. Somente sabendo onde cada um vai jogar é que será capaz de escalar direito o time.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sinais trocados

Difícil entender o que o ministro Nelson Jobim realmente pretende com as traulitadas que tem dado no governo. Há quem diga que ele está tentando se cacifar, desde já, como pré-candidato à Presidência em 2014, pelo PMDB. O grande problema é que algumas coisas teriam de acontecer nesse meio-tempo, a principal delas que o governo Dilma fosse um desastre tão completo que sua reeleição seria impraticável. Outra coisa também teria que acontecer para viabilizar uma eventual candidatura Jobim: Lula não querer disputar essa eleição. Em qualquer dos dois casos, o PMDB seguirá colado ao PT, seja com Dilma, seja com Lula.
Jobim, de qualquer forma, morre no final do filme. Assim, sem um objetivo claro, suas declarações não passam de provocações que, evidentemente, não seriam toleradas. O mais curioso é que ele dá sinais dúbios: primeiro, quando abre a boca para criticar e, depois, fazendo juras de amor ao governo, à presidente Dilma, aos ministros. Ele não é um bobo; é suficientemente experimentado para saber que tudo o que disse até agora causaria constrangimento.
Estaria querendo sair? Por que, então, na conversa com a presidente, dias atrás, disse que se tivesse de deixar o Ministério da Defesa, preferia fazê-lo numa eventual reforma ministerial, no final do ano? Não sabia das consequências da entrevista à Piauí, na qual chama Ideli Salvatti de “fraquinha” e acusa Gleisi Hoffman de “não conhecer Brasília”? Por que não falou sobre isso com Dilma, no encontro? E por que desmentir que tenha criticado as duas ministras? Por que não entregou já ali a carta de demissão?
Primeiro foi no aniversário de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando se disse “cercado de idiotas”. Claro que estava mandando um recado ao PT. Os petistas perceberam isso, mas os caciques resolveram não colocar mais lenha na fogueira. Em nome de não fazer marola, preferiram minimizar a crítica.
Depois foi a confissão de que, na eleição presidencial passada, votou em José Serra. Bem, se votou em Serra, por uma questão de coerência não deveria ter aceitado convite para permanecer no ministério. Mais uma vez, todos sorriram amarelo e esforçaram-se para parecerem liberais, afirmando que o voto é livre e que isso não o desqualifica como ministro.
Agora, uma tamancada bem cocoruto de Dilma, Ideli e Gleisi.
Não se justifica o desmentido da Assessoria de Imprensa do Ministério da Defesa, que entrou em bate-boca com a direção da Piauí. Não se justifica que o próprio Jobim, quando indagado sobre o assunto, em Tabatinga (AM), tenha afirmado que se trata de intriga e desejo de derrubá-lo do Ministério. Como ex-parlamentar e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, se há algo que Jobim conhece é justamente Brasília, seus ambientes, suas artimanhas e suas tramas. Exatamente aquilo que acusou Gleisi Hoffman de não saber o que é.
As horas para Jobim estão contadas. Não sairá atirando, é claro, mesmo porque não há razões para isso. Se alguém deu motivos para a saída, foi justamente o (ainda?) ministro da Defesa. Com os dias a gente vai descobrir o que realmente se passou. E certamente não foi apenas a incontinência verbal de Jobim que o levou a esta situação.