O problema das religiões é que criam uma expectativa que não podem confirmar. Jogam no vácuo que existe entre o explicável e o oculto, uma zona cinzenta que para muitos tem elementos concretos, enquanto que para outros tudo não passa de mera fantasia reforçada por séculos. Seus mais proeminentes representantes são redimidos ou seres humanos de natureza muito diferente da nossa, o que em ambos os casos se provaria a força do impalpável.
O papa Francisco tem um passado pecaminoso de omissão ante a ditadura argentina, tal como Bento XVI foi acusado de colaboração com o nazismo. Tais fatos não me surpreenderam, não me surpreendem, nem me surpreenderão jamais. A Santa Madre Igreja, como qualquer instituição - nesse caso religiosa -, tem seus planos próprios, que nem sempre têm a ver com aquilo que preceitua.
Não é nem um pouco estranha tal constatação da minha parte. Não há pureza nas religiões; há pureza nos homens. Pureza na crença, na esperança. Se as revelações se dão na catedral ou na sinagoga, sob minha ótica isso não tem importância alguma.
Disse Jesus: "Vá, tua fé te salvou". Isto é o fundamental.
Ele, que foi um dos profetas da Humanidade, não legou nada ligado a templos, seitas ou algo assim. Atribuiu todos os bens (e males) ao homem, esse que acredita, que medita, que busca.
Na Igreja Católica, há líderes para todas as ocasiões, como existem no islamismo, no judaísmo, para falarmos somente nas religões seculares. Há os homens de guerra e os de paz, os de comércio e os de oferta, os que cobram e os que dão, os que se omitem e os que enfrentam. Acreditar que as instituições purificam, ou que estão acima dos erros daqueles que as compõem, é uma imensa ingenuidade.
Acho justo e certo, aliás, que se busque o homem puro, alguém que represente o melhor da nossa essência. Mas confesso que não espero o surgimento do ser sem mácula.
Se estou descrente na raça humana? Não. Tenho a certeza de que os bons são em maior número que os maus; acredito na vitória dos generosos sobre os miseráveis. Mas procuro dar a dimensão correta ao estabelecimento que representa a Igreja, ou melhor, sobre o que significam as religiões.
Claro que tenho minha fé. Não sou agnóstico, longe disso. Meu templo sou eu mesmo, com meus erros e meus acertos. Como o novo papa, trago pecados e há quem me aponte o dedo, que me condene, que me culpe. Unanimidade não existe. E quando existe, é de se desconfiar - também não acredito no que disse Nélson Rodrigues, que é burra.
O que espero do novo papa é pouco, muito pouco, quase nada. Quero apenas que não desaponte quem acredita na sua santidade, como já fez de vez anterior. E se mais uma vez o fizer, não me surpreenderá. As instituições são maiores e mais poderosas que os homens.
Geralmente fracos. Absolutamente humanos.
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