Conheço o governador Sérgio Cabral Filho de longa data. Sempre foi alguém que buscasse as boas companhias. Entenda-se aqui como "boas" aquelas que podem lhe trazer dividendos. Assim, não fiquei nem um pouco surpreso com a reportagem, no site de O Globo, hoje, dissecando as relações que tem com empresários, cujos negócios passam também por seu governo. Sérgio já mostrava isso nos tempos da antiga Faculdade da Cidade, onde provavelmente se formou jornalista, embora fosse pouco assíduo às aulas. Mas, com o peso do nome, naquela época já podia se dar a esse luxo.
Travamos um breve relacionamento lá para os idos de 1983. Sempre simpático, tentava alavancar sua candidatura a vereador. Creio que conseguiu se eleger, pois minha memória política não vai tão longe. O logotipo da sua campanha tinha sido feito por ninguém menos que Ziraldo Alves Pinto, companheiro de longa data do pai dele nas páginas d'O Pasquim.
Certa vez, peguei uma (temerária) carona com Sérgio para o centro da cidade, saindo da faculdade e indo para meu estágio na falecida Tribuna da Imprensa. Veio falando todo o tempo, nós dois num Gol bolinha que ele tinha, creio que azul marinho. Dirigia tão mal que, num retorno na Lapa, subiu num alto meio-fio. Ou então estava tão excitado com suas próprias palavras que nem prestou atenção na guia da rua. Cheguei a pôr no carro do meu pai o plástico de pára-brisa que me deu, embora votasse em Niterói e, portanto, impossibilitado de dar meu voto a Sérgio.
Tempos depois, estagiário de reportagem geral, encontrei novamente com Sérgio num evento no Museu Histórico Nacional. Nos cumprimentamos efusivamente, ao ponto de ele me apresentar a namorada, que viria a ser sua primeira mulher. Depois, puxou-me pelo braço e disse: "Ela é neta do Tancredo". Tancredo, entenda-se aqui, é o falecido presidente Tancredo Neves.
Os anos se passaram, a carreira de Sérgio decolou. Tinha coluna no jornal O Dia, ajudado pela minha amiga Leila Yousseff, que fizera faculdade comigo. Essa sim ia às aulas e nos formamos no mesmo ano. Hoje ela está muito bem estabelecida na editoria de Política de O Globo, como uma das principais integrantes da seção. Competentíssima, diga-se de passagem.
A penúltima vez que encontrei com Sérgio foi no restaurante Alcaparras, no Flamengo. Era uma espécie de Piantella do Rio, pois reunia a nata do empresariado e da política carioca. Foi num dos vários almoços promovidos por Mariozinho Rolla, então assessor da presidência da Brasif. Sérgio, nesta época, era deputado estadual, mas não lembro se já estava na presidência da Alerj. Precisei ir ao banheiro e encontrei-o ao telefone entre pias e privadas. Não o cumprimentei assim como ele não me cumprimentou. Eu, por timidez e por vê-lo ao celular; ele, talvez porque não reconhecesse em mim coisa alguma. De fato, eu era um Zé Ninguém e minha condição não melhorou muito de lá para cá. Digamos que eu seja um Zé Quase Ninguém nesta cidade de ministros e presidentes da república espalhados pelas mais variadas funções.
Sérgio virou senador, governador duas vezes e tenho certeza de que sua trajetória não terminou. Deve ser pouco mais novo do que eu, que tenho 48 anos. Desde sempre pelo PMDB, um partido inorgânico, que toma a forma do vaso que o contém.
A última vez que o vi foi ciceroneando o presidente Lula, na edição de 2009 da Latin America Aerospace & Defence (LAAD). Eu estava no cercadinho dos repórteres. Esperando uma palavra de Lula sobre o rearmamento das Forças Armadas, até que ele foi espantado por um desses focas bobalhões, que perguntou-lhe sobre o recente resultado do Caged, o Cadastro Geral de Empregos do governo federal. A entrevista acabou ali.
O gaúcho bestalhão ainda insistiu na inconveniência quando gritou para Sérgio algo relacionado a um jogo contra um time do Rio Grande, que o Vasco perdera no final de semana. Sérgio apenas fez um comprimento irônico e deu as costas.
Pela primeira vez concordei com o hoje governador: para alguns idiotas, qualquer resposta é perda de tempo.
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