Vou continuar a saga dos solos de guitarra que mais me arrepiaram ao ouvi-los. Mesmo porque, nesta semana curta e que nada acontecerá (o Congresso praticamente não está funcionando), a política vai ser levada no banho-maria. Senão, vejamos mais cinco.
Tony Iommi - Planet Caravan ("Paranoid", Black Sabbath) - Não vou apresentar o cara. Passou para a história da música - sim, da música, e não do rock apenas - como um grande criador de riffs, como um consolidador de um estilo dentro do rock. Não é um grande solista, até pelas dificuldades físicas - perdeu parte de um dos dedos -, mas tem um bom gosto impressionante. Essa faixa é prova disso. Trata-se de uma espécie de blues lento, no qual valoriza cada nota. Tira um som lindíssimo da Gibson SG em estado puro, elegante, jazzístico. Num LP com tantas cacetadas, tantas faixas importantes e que são de alguma forma tocadas até hoje por ele e por outros, "Planet Caravan" é um oásis de traquilidade. O Pantera fez uma versão idêntica, com muita competência, mas acabou dando em nada porque o disco original do Sabbath está aí, quase 40 anos depois, vendendo muito e com a classificação de clássico.
Don Felder e Joe Walsh - Hotel California ("Hotel California", Eagles) - Não foi à toa que se tornou o grande hit dos Eagles. Além da melodia melancólica, esses dois fazem um solo espetacular, dentro da grande tradição americana de blues. Não há demonstrações gratuitas de velocidade, tão ao gosto atual dos xaroposos guitarristas que pululam as várias categorias do rock pesado, tampouco o nhéco-nhéco que essas bandinhas modernosas de garotos com cara de nerds fazem. Esses dois trazem o melhor de uma escola de guitarra que mistura as raízes da música dos EUA. Cada nota é valorizada, cada toque é sentido como se o dedo da mulher amada encostasse na pele. No vídeo do show, a expressão facial de Walsh se contorce, muda conforme a pergunta de um e a resposta de outro. Os caras estão curtindo, gozando mesmo. No final, ainda brincam, riem. É o prazer que só um intrumento bem tocado proporciona.
Robim Trower - Day of the eagle ("Bridge of sights", Robin Trower) - Quem não se lembra da entrada arrasadora, com palhetadas precisas em comunhão perfeita com baixo e caixa da bateria? Um dos rocks mais pesados de que se tem notícia, curtido pela voz de Jimmy Dewar, um grande cantor, na tradição dos melhores cantores escoceses - como Frankie Miller, Dan McCafferty e, por que não?, Brian Johnson. O melhor desta faixa, porém, está por vir, quando cai num blues superlento. Aí, Robin "gasta" toda sua técnica, abusando de microfonias e sustains. A mesma fórmula ele repetiu em outras faixas, em outros discos, como "For earth below" ou "Long misty days", que vieram na sequência. É uma oportunidade também de se curtir o registro mais grave da Fender Stratocaster, da qual Robin foi um dos seus maiores representantes.
Manny Charlton - This flight tonight ("Loud'n'prod", Nazareth) - Solo, que solo? Pois é. Nessa faixa não tem nada que possa ser considerado como tal, mas Manny fez um arranjo de tamanho bom gosto que tornou uma canção pop de Joni Mitchell num rock pesadíssimo. Ele joga com slide e com os registros mais estridentes da Gibson que fica difícil imaginar algo diferente. Quem ouviu essa versão, considera-a definitiva e melhor que a da própria Joni. Faz lembrar uma observação de Dan McCafferty naquele período em que o Nazareth passava por mudanças, a fim de se adaptar à década de 80, que estava chegando, quando a banda incorporou o excelente Zal Cleminson: "Zal era um grande guitarrista. Tinha uma técnica impecável, era capaz de grandes frases, velozes, inspiradas. Mas Manny tinha 'o' toque, sabia como poucos atingir a nota certa, do jeito certo". Como diriam os britânicos, "say no more".
Warren Haynes - Thirty days in the hole/I don't need no doctor (show do Gov't Mule no Royal Oak Music Theatre, Michigan, em 11 de novembro de 2008) - Esta versão para dois clássicos do Humble Pie não está registrada em disco algum do Gov't Mule. Alguém na platéia gravou com uma câmera e postou no You Tube. Warren está simplesmente brilhante e as puxadas que ele dá no agudo da sua Gibson são simplesmente impressionantes. Os dois amplificadores Soldano e Marshall atrás dele passam a expressão exata da violência e da agressividade do som das Les Paul. Impossível não se emocionar. Considero Warren o maior guitarrista americano da atualidade, um cara que pode tocar qualquer coisa, mas que não abre mão da grande tradição do hard rock e do blues elétrico. Seus fills lembram muito Leslie West, que ainda não foi citado aqui. Por enquanto.
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