Euclides da Cunha descreve os “bikers”, antes de tudo, uns chatos!
Olhem
aqui: eu não ataquei ciclistas coisa nenhuma nem sou contra as
bicicletas. Eu critiquei, sim, os fascistóides que acreditam que podem
parar a Avenida Paulista. Sabia que a reação seria violenta porque já
havia percebido que essa gente acha que pode fazer o que lhe dá na
telha. A agressividade e a falta de humor, no entanto, chegam a ser
surpreendentes. Ah, sim: eu produzo menos carbono do que a maioria. Não
dirijo. Detesto sair de casa. Quase tudo o que me interessa está aqui,
em papel e palavras…
Apóio bicicletas, ciclovias, o que for.
Não apóio fascistas sobre duas rodas. Abaixo, segue um texto inteligente
e engraçado do leitor que se assina “Viva Galt!”. Não é para todos os
ciclistas, claro!, apenas para os ativistas que operam segunda a lógica
dos terroristas: “Temos o direito de impor danos à sociedade para
defender nossas idéias”. Eles são “cicloativistas”, e eu,
“democrático-ativista”; eles são “cicloafetivos”, e eu,
“democrático-afetivo”.
“Viva Galt!” imaginou Euclides da Cunha
descrevendo os “bikers” nos sertões éticos das ruas de São Paulo. Tenham
humor, senhores “bikers”! Venham para a luz!
*
“O cicloativista é, antes de tudo, um chato! Não tem a ranhetice exaustiva dos sinistros neurastênicos da militância global.” (…) É intelectualmente desgracioso, visionariamente desengonçado, torto na ilusão. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica das mafaldinhas e remelentos. O pedalar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação das idéias de jerico desarticuladas. Agrava-o a postura normalmente curvada, a cueca suada, num manifestar de xumbregância que lhe dá um caráter de humildade deprimente. (…). É um homem permanentemente fatigado de tanta pedalada. Combate a preguiça invencível a garrafinha cheia de isotônicos, espantando a dorzinha muscular perene…. Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Naquela organização combalida de cicloativistas operam-se, em segundos, transmutações completas do Tico e do Teco. Basta o aparecimento de qualquer manifestação na Paulista exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se; pega a sua bike e a sua garrafinha bacteriana (…), e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea orgástica, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias: salvarão a humanidade com suas cuequinhas de lycra, seus capacetinhos ridículos, luvinhas furadas e selinzinhos peludos”.
Euclides da Cunha.
*
“O cicloativista é, antes de tudo, um chato! Não tem a ranhetice exaustiva dos sinistros neurastênicos da militância global.” (…) É intelectualmente desgracioso, visionariamente desengonçado, torto na ilusão. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica das mafaldinhas e remelentos. O pedalar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação das idéias de jerico desarticuladas. Agrava-o a postura normalmente curvada, a cueca suada, num manifestar de xumbregância que lhe dá um caráter de humildade deprimente. (…). É um homem permanentemente fatigado de tanta pedalada. Combate a preguiça invencível a garrafinha cheia de isotônicos, espantando a dorzinha muscular perene…. Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Naquela organização combalida de cicloativistas operam-se, em segundos, transmutações completas do Tico e do Teco. Basta o aparecimento de qualquer manifestação na Paulista exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se; pega a sua bike e a sua garrafinha bacteriana (…), e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea orgástica, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias: salvarão a humanidade com suas cuequinhas de lycra, seus capacetinhos ridículos, luvinhas furadas e selinzinhos peludos”.
Euclides da Cunha.
Encerro
Não ligo para os Antônios Conselheiros sobre duas rodas e suas correntes nas redes sociais. Enfrentei autoritários piores aos 16 anos, quando havia uma ditadura no Brasil. E o fiz para que houvesse democracia. Aprendam a se comportar com civilidade, seguindo as regras da democracia, e aí vamos ver se é o caso de levá-los a sério.
Não ligo para os Antônios Conselheiros sobre duas rodas e suas correntes nas redes sociais. Enfrentei autoritários piores aos 16 anos, quando havia uma ditadura no Brasil. E o fiz para que houvesse democracia. Aprendam a se comportar com civilidade, seguindo as regras da democracia, e aí vamos ver se é o caso de levá-los a sério.
Um grande amigo meu, Jorge Eduardo Antunes, certa vez definiu com precisão essa turma: "babakers". Mas acho que babaca é todo aquele que leva a sério demais, sem humor algum, suas reivindicações, protestos, modos de pensar e de viver. O cara que não ri da vida é um idiota.
Cicilista radical bate-boca com cidadã prejudicada pelo protesto em São Paulo |
O agente público tem, sim, imensas falhas, começando pela incapacidade gerencial e pela falta de senso de prioridade. Mas fico imaginando o que seria de áreas como cultura, saúde, educação ou esporte se estivessem entregues aos ongueiros radicais, uma alcateia de farsantes ávida por colocar a mão no cofre da viúva.
O sujeito que pega sua bicicleta e para o trânsito de São Paulo, em suposto protesto, para mim é tão nocivo quando o caminhoneiro grevista que deixa uma cidade seca de combustível. O cara que se acorrenta a um prédio público para mim é tão energúmeno quanto o sem-terra que invade um ministério sob alegação de que quer um pedaço de terreno para produzir. A passeata na orla do Rio pedindo o fim da violência para mim é tão inútil quanto o estudante, com quase 30, anos que chefia uma rebelião na USP em favor da falta de policiamento no campus e o direito de fumar maconha sossegado.
Mas, vejam, não prego aqui que deixem de expressar para todos o quanto são burros e reacionários. Isso eles podem fazer à vontade. Faço como Voltaire:
Não quero é que venham tapar minha boca ou me impedir de discordar.
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