Bem que poderiam ter nos poupado desse CD |
A banda sempre esteve bem próxima da música erudita. Jon Lord escreveu o "Concert for Group and Orchestra", uma obra confusa, mas que mostrava bem a qualidade do quinteto. Teve ainda a "Gemini suite", que só mais recentemente tornou-se disco com a execução pela Mark II (originalmente reuniu vários músicos com alguma relação com o grupo).
Lord ainda elaborou "Windows" e "Sarabande". A explicação para essa fixação era o claro desejo de se igualar aos mestres classicosos de então, Rick Wakeman e Keith Emerson. Embora não faltasse ao tecladista original do Purple categoria, faltava a ele talvez confiança e segurança na própria capacidade.
Ritchie Blackmore também flertava com o erudito. Nos seus solos vivia a citar trechos de Bach e outros compositores barrocos. Enumerava alguns lugares comuns que tinham muito efeito, já que seus contemporâneos de guitarra não pareciam muito interessados nos compositores dos séculos passados.
O problema é que o Purple, com esse disco, resolveu fazer um arremedo de si mesmo. Tais combinações, que não são ineditas, beiram o ridículo. A Royal Philarmonic Orchestra andou fazendo séries de participações (e até discos próprios, como os inacreditáveis "Hooked on...") em discos alheios. Os resultados são duvidosos. O Purple poderia ter tomado como base essa infeliz experiência.
Pior: o quinteto lembrou bobagens classicosas do tipo Franck Pourcell, Caravelle, Ray Conniff, Kenny G., ou como o atual príncipe da cafonalha do gênero, André Rieu.
Uma banda preguiçosa apostando no lugar comum |
Ou por que não fazem releituras semelhantes à de Santana, que recentemente lançou o excelente "Guitar heaven", seu melhor disco em quase duas décadas?
Ou ainda: por que não unificam o repertório (que desde a volta, em 1982, jamais foi executado), levando músicas da Mark III ou Mark IV?
Ou por que não aproveitam que a febre passou e levam seus clássicos em formato acústico?
Alternativas não faltam. Falta a vontade de arriscar. Um Purple que corra riscos, pelo menos para mim, será sempre melhor que esse atado a fórmulas pouco inspiradas. Afinal, foi o próprio Roger Glover quem disse, no documentário "Heavy Metal Pionneers", que "you take chances if you play hard rock".
A preguiça leva a desempenhos bisonhos. Ian Gillan, que se sai maravilhosamente bem quando respeita os limites da sua já desgastada voz, ainda tenta os agudos "de antanho". Sai-se, evidentemente, mal.
Don Airey, que está no Purple há pelo menos uns cinco ou seis anos, é mais um a trafegar somente na zona de conforto. Mesmo as citações que faz em seus solos são o clichê do clichê. Nem mesmo parte da introdução que compôs para "Mr. Crowley", clássico de Ozzy Osbourne, consegue parecer inédito ou eficiente.
Ian Paice é um caso a se estudar. Baterista de mão cheia, um dos inegáveis mestres no seu instrumento, não vai um milímetro além do roteiro que lhe é dado. Entra disco e sai disco e nada se altera - uma pena.
Já Glover eu gostaria de ver noutro contexto: tocando em trio ou quarteto. Dos veteranos, é o que guarda a fleugma de levar adiante uma banda cansada musicialmente.
Steve Morse é o mesmo sempre. Seus solos são previsíveis, pouco criativos. Irrepreensíveis do ponto de vista técnico; no que se refere à criatividade, são fragorosamente reprovados. Faria melhor se ressuscitasse sua Steve Morse Band ou mesmo o Dixie Dregs.
Vou ficando por aqui antes que os fãs desmiolados queiram comer meu fígado. Não tenho elogios a fazer, somente críticas. Nem mesmo o fato de o Purple relembrar "Hard Loving Man" ou "Maybe I'm a Leo", duas canções pouco executadas, melhora o quadro geral. E quem fala aqui é um "purplesista" fanático, um colecionador que tem tudo e mais alguma coisa da banda, tanto na alegria quanto na tristeza.
Que parecem ser os dias atuais do Purple.
Em tempo: por que, então, comprei - perguntarão vocês? 1) estava R$ 29,00 na Livraria Cultura; 2) tenho, como já disse, tudo do Purple; e 3) se não escutasse, não poderia jamais dar minha opinião.
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