Leio na Folha de S.Paulo de hoje que um produtor convidou Marieta Severo para viver o papel de Dilma Rousseff no cinema. Ficarei surpreso se a grande atriz aceitar um convite tão esdrúxulo, não apenas porque é uma bela mulher - para viver o personagem teria de passar por um downgrade, digamos assim -, como também tal proposta trata-se de visível oportunismo. Marieta colocaria sua empatia e seu talento a favor de uma visível peça de propaganda, ela que já viveu na tela personagens de envergadura da mãe do cantor/compositor Cazuza de forma brilhante. Aliás, Lucinha Araújo vem sendo solenemente ignorada pelo governo federal em seus esforços de sustentar a Fundação Viva Cazuza, algo que faz com recursos próprios e da iniciativa privada. Por associação, Marieta não poderia se prestar ao papel de "presidenta".
Não é que Dilma esteja proibida de ser retratada nas telas. Só que não agora. A presidente fez pouco ou quase nada e ainda não conseguiu inscrever-se na história do Brasil. Quem sabe daqui a um tempo e quando estiver bem longe do governo.
A mesma esperteza aconteceu com Lula, que virou o filho do Brasil e naufragou nas salas de cinema. Com justíssima razão foi ignorado e somente os muito serviçais acreditaram que o filme do clã Barreto não seria percebido como trabalho de encomenda. A opinião pública, que repudia farsas com estas, deu de costas à produção, que de tão ruim ainda não virou DVD. Ou se virou, não se encontra nas lojas, tamanha a falta de interesse do público consumidor.
Essa carona que alguns espertos pretendem pegar no bom momento do cinema brasileiro é ranço do velho oportunismo do qual a vida nacional não consegue se livrar. Me impressiona como o dinheiro pelo dinheiro fala mais alto. Dificilmente uma produção sobre Dilma não teria apoio oficial; receberia recursos a rodo, com base nas leis de obtenção de verba. Claro: seria um lobby discretíssimo, com todos os doadores se credenciando a obter as graças do Palácio do Planalto.
E como uma produção não é algo rápido, por uma dessas incríveis coincidências ficaria pronta e seria lançada em 2014, época da corrida da presidente à reeleição. Tal como aconteceu com "Lula, o filho do Brasil", que pode não ter sido fundamental, mas ajudou a aplainar os caminhos de Dilma nas urnas.
Não sei dizer se Marieta aceitará ou não o convite. Mesmo porque, quando o assunto é cultura, a ex-cunhada da grande atriz, a ministra Ana de Hollanda, tem protagonizado episódios que vêm merecendo censura de todos os lados. O mais recente foi a subida de seu produtor musicial para as salas do Ministério, algo que muita gente considerou inadequado. Sem contar as questões envolvendo o Ecad, contra o qual a pasta parece não ter qualquer plano concreto para colocar ordem naquela casa.
Marieta é uma atriz consolidada, um grande nome do teatro e do cinema, com passagens fulgurantes pela TV. Mas sempre fica a dúvida se resistirá. O que a gente (ainda) acredita é que a ombridade seja sempre maior que os brilharecos.
Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões (Graciliano Ramos)
segunda-feira, 27 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
A gente paga caro há tempos
Houve uma gritaria quando o governo conseguiu passar na Câmara o regime diferenciado para contratações de obras para a Copa com o sigilo que, supostamente, seria para as empreiteiras não combinarem preços, tampouco fecharem a cartelização. Concordo plenamente que trata-se de um verdadeiro absurdo, por mais que Dilma Rousseff diga que os órgãos de controle estarão acompanhando os certames com olhos de lince. Olhos, no caso das instituições brasileiras, repletos de cataratas e glaucomas, pois, apesar do "controle", uma obra consegue custar o quádruplo daquilo que foi orçada. São tantas as espertezas, tantos os aditamentos, tantas as dispensas de licitação, tantas as emergências, que a gente sente vergonha de ser honesto, para lembrar Ruy Barboza.
O pior é que o governo estimula. Reportagem recente da revista Veja mostra que o governo é uma espécie de mãe gentil, o que torna ridícula a tese de que com projetos no Congresso pretende impor a moralização. Para quem não leu a matéria, digo aqui o que realmente acontece nas licitações para obras públicas: o governo tem uma tabela cujos preços são muito acima dos praticados no mercado. Exemplifico: se uma saca de 50 quilos de cimento está custando, nas chamadas "melhores casas do ramo", por volta dos R$ 18,00, na tabela do governo paga-se pelo menos R$ 2,00 a mais. Coloquem esses R$ 2,00 de diferença a favor das empreiteiras multiplicado por milhões que se verá o lucro astronômico que elas terão.
Isso acontece com o cimento, com o tijolo, com a brita, com a areia, com a massa corrida, com a tinta, com o gesso, com o vidro, com os conduítes, com os rolos de fio, com as caixas de passagem e tudo o mais que compõe uma obra. Assim, uma construção, uma reforma, já sai da base superfaturada.
A Veja mostrou que um puxadinho no aeroporto Santos Dumont deu um salto astronômico nos custos por causa simplesmente do vidro escolhido para cobri-lo. O projeto previa uma coisa, mas a viabilidade mostrou outra, mais cara. E quem está pagando por tudo isso? Claro que nós, simples cidadãos-contribuintes-eleitores, que ainda podemos ser chamados a dar mais sangue num possível imposto sobre o cheque - que o Palácio do Planalto está doido para reinventar.
Há tempos, ouvi a história de um velho jornalista de que a construção do Maracanã custou duas vezes mais que a prevista. E que o então prefeito do Rio, o general Angelo Mendes de Morais, foi um dos que mais teria faturado nessa brincadeira. Onde ele ganhou? No caminhão de areia. A malandragem é simples e não sei se ainda é feita hoje, de tão escrachada.
No portão do canteiro da obra fica um anotador, um camarada que toma conta de tudo que entra. Chega o caminhão carregado de areia, ele toma nota na lista de presença. Mas, lá dentro, o caminhão não desce a carga. Vai direto para um portão dos fundos, dá a volta e entra mais uma vez na fila dos caminhões de areia. Como as caras dos caminhoneiros são as mesmas, pois fazem dezenas de viagens por dia, o anotador não percebe a fraude. Isso quer dizer que o mesmo caminhão entra com a mesma areia pelo menos duas vezes, mas descarrega apenas uma vez.
Esse golpe, aliás, teria feito a fortuna também de um ex-governador do DF. Não na pessoa dele mesmo, mas do pai, na época da construção de Brasília, cujo cimento e o material de revestimento foi o mais caro do mundo - afinal, vieram de avião das grandes cidades, como Belo Horizonte, Rio ou São Paulo. Colocando-se na ponta do lápis o frete aéreo, a querosene de aviação, a remuneração das tripulações, as taxas de embarque e desembarque, chegaremos à conclusão que Dom Bosco previu tudo, menos quanto custaria para a cidade ser erguida.
Nas visões que teve, ele também não poderia imaginar a desonestidade do ser humano.
O pior é que o governo estimula. Reportagem recente da revista Veja mostra que o governo é uma espécie de mãe gentil, o que torna ridícula a tese de que com projetos no Congresso pretende impor a moralização. Para quem não leu a matéria, digo aqui o que realmente acontece nas licitações para obras públicas: o governo tem uma tabela cujos preços são muito acima dos praticados no mercado. Exemplifico: se uma saca de 50 quilos de cimento está custando, nas chamadas "melhores casas do ramo", por volta dos R$ 18,00, na tabela do governo paga-se pelo menos R$ 2,00 a mais. Coloquem esses R$ 2,00 de diferença a favor das empreiteiras multiplicado por milhões que se verá o lucro astronômico que elas terão.
Isso acontece com o cimento, com o tijolo, com a brita, com a areia, com a massa corrida, com a tinta, com o gesso, com o vidro, com os conduítes, com os rolos de fio, com as caixas de passagem e tudo o mais que compõe uma obra. Assim, uma construção, uma reforma, já sai da base superfaturada.
A Veja mostrou que um puxadinho no aeroporto Santos Dumont deu um salto astronômico nos custos por causa simplesmente do vidro escolhido para cobri-lo. O projeto previa uma coisa, mas a viabilidade mostrou outra, mais cara. E quem está pagando por tudo isso? Claro que nós, simples cidadãos-contribuintes-eleitores, que ainda podemos ser chamados a dar mais sangue num possível imposto sobre o cheque - que o Palácio do Planalto está doido para reinventar.
Há tempos, ouvi a história de um velho jornalista de que a construção do Maracanã custou duas vezes mais que a prevista. E que o então prefeito do Rio, o general Angelo Mendes de Morais, foi um dos que mais teria faturado nessa brincadeira. Onde ele ganhou? No caminhão de areia. A malandragem é simples e não sei se ainda é feita hoje, de tão escrachada.
No portão do canteiro da obra fica um anotador, um camarada que toma conta de tudo que entra. Chega o caminhão carregado de areia, ele toma nota na lista de presença. Mas, lá dentro, o caminhão não desce a carga. Vai direto para um portão dos fundos, dá a volta e entra mais uma vez na fila dos caminhões de areia. Como as caras dos caminhoneiros são as mesmas, pois fazem dezenas de viagens por dia, o anotador não percebe a fraude. Isso quer dizer que o mesmo caminhão entra com a mesma areia pelo menos duas vezes, mas descarrega apenas uma vez.
Esse golpe, aliás, teria feito a fortuna também de um ex-governador do DF. Não na pessoa dele mesmo, mas do pai, na época da construção de Brasília, cujo cimento e o material de revestimento foi o mais caro do mundo - afinal, vieram de avião das grandes cidades, como Belo Horizonte, Rio ou São Paulo. Colocando-se na ponta do lápis o frete aéreo, a querosene de aviação, a remuneração das tripulações, as taxas de embarque e desembarque, chegaremos à conclusão que Dom Bosco previu tudo, menos quanto custaria para a cidade ser erguida.
Nas visões que teve, ele também não poderia imaginar a desonestidade do ser humano.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Estranho como não me surpreendo
Conheço o governador Sérgio Cabral Filho de longa data. Sempre foi alguém que buscasse as boas companhias. Entenda-se aqui como "boas" aquelas que podem lhe trazer dividendos. Assim, não fiquei nem um pouco surpreso com a reportagem, no site de O Globo, hoje, dissecando as relações que tem com empresários, cujos negócios passam também por seu governo. Sérgio já mostrava isso nos tempos da antiga Faculdade da Cidade, onde provavelmente se formou jornalista, embora fosse pouco assíduo às aulas. Mas, com o peso do nome, naquela época já podia se dar a esse luxo.
Travamos um breve relacionamento lá para os idos de 1983. Sempre simpático, tentava alavancar sua candidatura a vereador. Creio que conseguiu se eleger, pois minha memória política não vai tão longe. O logotipo da sua campanha tinha sido feito por ninguém menos que Ziraldo Alves Pinto, companheiro de longa data do pai dele nas páginas d'O Pasquim.
Certa vez, peguei uma (temerária) carona com Sérgio para o centro da cidade, saindo da faculdade e indo para meu estágio na falecida Tribuna da Imprensa. Veio falando todo o tempo, nós dois num Gol bolinha que ele tinha, creio que azul marinho. Dirigia tão mal que, num retorno na Lapa, subiu num alto meio-fio. Ou então estava tão excitado com suas próprias palavras que nem prestou atenção na guia da rua. Cheguei a pôr no carro do meu pai o plástico de pára-brisa que me deu, embora votasse em Niterói e, portanto, impossibilitado de dar meu voto a Sérgio.
Tempos depois, estagiário de reportagem geral, encontrei novamente com Sérgio num evento no Museu Histórico Nacional. Nos cumprimentamos efusivamente, ao ponto de ele me apresentar a namorada, que viria a ser sua primeira mulher. Depois, puxou-me pelo braço e disse: "Ela é neta do Tancredo". Tancredo, entenda-se aqui, é o falecido presidente Tancredo Neves.
Os anos se passaram, a carreira de Sérgio decolou. Tinha coluna no jornal O Dia, ajudado pela minha amiga Leila Yousseff, que fizera faculdade comigo. Essa sim ia às aulas e nos formamos no mesmo ano. Hoje ela está muito bem estabelecida na editoria de Política de O Globo, como uma das principais integrantes da seção. Competentíssima, diga-se de passagem.
A penúltima vez que encontrei com Sérgio foi no restaurante Alcaparras, no Flamengo. Era uma espécie de Piantella do Rio, pois reunia a nata do empresariado e da política carioca. Foi num dos vários almoços promovidos por Mariozinho Rolla, então assessor da presidência da Brasif. Sérgio, nesta época, era deputado estadual, mas não lembro se já estava na presidência da Alerj. Precisei ir ao banheiro e encontrei-o ao telefone entre pias e privadas. Não o cumprimentei assim como ele não me cumprimentou. Eu, por timidez e por vê-lo ao celular; ele, talvez porque não reconhecesse em mim coisa alguma. De fato, eu era um Zé Ninguém e minha condição não melhorou muito de lá para cá. Digamos que eu seja um Zé Quase Ninguém nesta cidade de ministros e presidentes da república espalhados pelas mais variadas funções.
Sérgio virou senador, governador duas vezes e tenho certeza de que sua trajetória não terminou. Deve ser pouco mais novo do que eu, que tenho 48 anos. Desde sempre pelo PMDB, um partido inorgânico, que toma a forma do vaso que o contém.
A última vez que o vi foi ciceroneando o presidente Lula, na edição de 2009 da Latin America Aerospace & Defence (LAAD). Eu estava no cercadinho dos repórteres. Esperando uma palavra de Lula sobre o rearmamento das Forças Armadas, até que ele foi espantado por um desses focas bobalhões, que perguntou-lhe sobre o recente resultado do Caged, o Cadastro Geral de Empregos do governo federal. A entrevista acabou ali.
O gaúcho bestalhão ainda insistiu na inconveniência quando gritou para Sérgio algo relacionado a um jogo contra um time do Rio Grande, que o Vasco perdera no final de semana. Sérgio apenas fez um comprimento irônico e deu as costas.
Pela primeira vez concordei com o hoje governador: para alguns idiotas, qualquer resposta é perda de tempo.
Travamos um breve relacionamento lá para os idos de 1983. Sempre simpático, tentava alavancar sua candidatura a vereador. Creio que conseguiu se eleger, pois minha memória política não vai tão longe. O logotipo da sua campanha tinha sido feito por ninguém menos que Ziraldo Alves Pinto, companheiro de longa data do pai dele nas páginas d'O Pasquim.
Certa vez, peguei uma (temerária) carona com Sérgio para o centro da cidade, saindo da faculdade e indo para meu estágio na falecida Tribuna da Imprensa. Veio falando todo o tempo, nós dois num Gol bolinha que ele tinha, creio que azul marinho. Dirigia tão mal que, num retorno na Lapa, subiu num alto meio-fio. Ou então estava tão excitado com suas próprias palavras que nem prestou atenção na guia da rua. Cheguei a pôr no carro do meu pai o plástico de pára-brisa que me deu, embora votasse em Niterói e, portanto, impossibilitado de dar meu voto a Sérgio.
Tempos depois, estagiário de reportagem geral, encontrei novamente com Sérgio num evento no Museu Histórico Nacional. Nos cumprimentamos efusivamente, ao ponto de ele me apresentar a namorada, que viria a ser sua primeira mulher. Depois, puxou-me pelo braço e disse: "Ela é neta do Tancredo". Tancredo, entenda-se aqui, é o falecido presidente Tancredo Neves.
Os anos se passaram, a carreira de Sérgio decolou. Tinha coluna no jornal O Dia, ajudado pela minha amiga Leila Yousseff, que fizera faculdade comigo. Essa sim ia às aulas e nos formamos no mesmo ano. Hoje ela está muito bem estabelecida na editoria de Política de O Globo, como uma das principais integrantes da seção. Competentíssima, diga-se de passagem.
A penúltima vez que encontrei com Sérgio foi no restaurante Alcaparras, no Flamengo. Era uma espécie de Piantella do Rio, pois reunia a nata do empresariado e da política carioca. Foi num dos vários almoços promovidos por Mariozinho Rolla, então assessor da presidência da Brasif. Sérgio, nesta época, era deputado estadual, mas não lembro se já estava na presidência da Alerj. Precisei ir ao banheiro e encontrei-o ao telefone entre pias e privadas. Não o cumprimentei assim como ele não me cumprimentou. Eu, por timidez e por vê-lo ao celular; ele, talvez porque não reconhecesse em mim coisa alguma. De fato, eu era um Zé Ninguém e minha condição não melhorou muito de lá para cá. Digamos que eu seja um Zé Quase Ninguém nesta cidade de ministros e presidentes da república espalhados pelas mais variadas funções.
Sérgio virou senador, governador duas vezes e tenho certeza de que sua trajetória não terminou. Deve ser pouco mais novo do que eu, que tenho 48 anos. Desde sempre pelo PMDB, um partido inorgânico, que toma a forma do vaso que o contém.
A última vez que o vi foi ciceroneando o presidente Lula, na edição de 2009 da Latin America Aerospace & Defence (LAAD). Eu estava no cercadinho dos repórteres. Esperando uma palavra de Lula sobre o rearmamento das Forças Armadas, até que ele foi espantado por um desses focas bobalhões, que perguntou-lhe sobre o recente resultado do Caged, o Cadastro Geral de Empregos do governo federal. A entrevista acabou ali.
O gaúcho bestalhão ainda insistiu na inconveniência quando gritou para Sérgio algo relacionado a um jogo contra um time do Rio Grande, que o Vasco perdera no final de semana. Sérgio apenas fez um comprimento irônico e deu as costas.
Pela primeira vez concordei com o hoje governador: para alguns idiotas, qualquer resposta é perda de tempo.
Mais voos solo
Vou continuar a saga dos solos de guitarra que mais me arrepiaram ao ouvi-los. Mesmo porque, nesta semana curta e que nada acontecerá (o Congresso praticamente não está funcionando), a política vai ser levada no banho-maria. Senão, vejamos mais cinco.
Tony Iommi - Planet Caravan ("Paranoid", Black Sabbath) - Não vou apresentar o cara. Passou para a história da música - sim, da música, e não do rock apenas - como um grande criador de riffs, como um consolidador de um estilo dentro do rock. Não é um grande solista, até pelas dificuldades físicas - perdeu parte de um dos dedos -, mas tem um bom gosto impressionante. Essa faixa é prova disso. Trata-se de uma espécie de blues lento, no qual valoriza cada nota. Tira um som lindíssimo da Gibson SG em estado puro, elegante, jazzístico. Num LP com tantas cacetadas, tantas faixas importantes e que são de alguma forma tocadas até hoje por ele e por outros, "Planet Caravan" é um oásis de traquilidade. O Pantera fez uma versão idêntica, com muita competência, mas acabou dando em nada porque o disco original do Sabbath está aí, quase 40 anos depois, vendendo muito e com a classificação de clássico.
Don Felder e Joe Walsh - Hotel California ("Hotel California", Eagles) - Não foi à toa que se tornou o grande hit dos Eagles. Além da melodia melancólica, esses dois fazem um solo espetacular, dentro da grande tradição americana de blues. Não há demonstrações gratuitas de velocidade, tão ao gosto atual dos xaroposos guitarristas que pululam as várias categorias do rock pesado, tampouco o nhéco-nhéco que essas bandinhas modernosas de garotos com cara de nerds fazem. Esses dois trazem o melhor de uma escola de guitarra que mistura as raízes da música dos EUA. Cada nota é valorizada, cada toque é sentido como se o dedo da mulher amada encostasse na pele. No vídeo do show, a expressão facial de Walsh se contorce, muda conforme a pergunta de um e a resposta de outro. Os caras estão curtindo, gozando mesmo. No final, ainda brincam, riem. É o prazer que só um intrumento bem tocado proporciona.
Robim Trower - Day of the eagle ("Bridge of sights", Robin Trower) - Quem não se lembra da entrada arrasadora, com palhetadas precisas em comunhão perfeita com baixo e caixa da bateria? Um dos rocks mais pesados de que se tem notícia, curtido pela voz de Jimmy Dewar, um grande cantor, na tradição dos melhores cantores escoceses - como Frankie Miller, Dan McCafferty e, por que não?, Brian Johnson. O melhor desta faixa, porém, está por vir, quando cai num blues superlento. Aí, Robin "gasta" toda sua técnica, abusando de microfonias e sustains. A mesma fórmula ele repetiu em outras faixas, em outros discos, como "For earth below" ou "Long misty days", que vieram na sequência. É uma oportunidade também de se curtir o registro mais grave da Fender Stratocaster, da qual Robin foi um dos seus maiores representantes.
Manny Charlton - This flight tonight ("Loud'n'prod", Nazareth) - Solo, que solo? Pois é. Nessa faixa não tem nada que possa ser considerado como tal, mas Manny fez um arranjo de tamanho bom gosto que tornou uma canção pop de Joni Mitchell num rock pesadíssimo. Ele joga com slide e com os registros mais estridentes da Gibson que fica difícil imaginar algo diferente. Quem ouviu essa versão, considera-a definitiva e melhor que a da própria Joni. Faz lembrar uma observação de Dan McCafferty naquele período em que o Nazareth passava por mudanças, a fim de se adaptar à década de 80, que estava chegando, quando a banda incorporou o excelente Zal Cleminson: "Zal era um grande guitarrista. Tinha uma técnica impecável, era capaz de grandes frases, velozes, inspiradas. Mas Manny tinha 'o' toque, sabia como poucos atingir a nota certa, do jeito certo". Como diriam os britânicos, "say no more".
Warren Haynes - Thirty days in the hole/I don't need no doctor (show do Gov't Mule no Royal Oak Music Theatre, Michigan, em 11 de novembro de 2008) - Esta versão para dois clássicos do Humble Pie não está registrada em disco algum do Gov't Mule. Alguém na platéia gravou com uma câmera e postou no You Tube. Warren está simplesmente brilhante e as puxadas que ele dá no agudo da sua Gibson são simplesmente impressionantes. Os dois amplificadores Soldano e Marshall atrás dele passam a expressão exata da violência e da agressividade do som das Les Paul. Impossível não se emocionar. Considero Warren o maior guitarrista americano da atualidade, um cara que pode tocar qualquer coisa, mas que não abre mão da grande tradição do hard rock e do blues elétrico. Seus fills lembram muito Leslie West, que ainda não foi citado aqui. Por enquanto.
Tony Iommi - Planet Caravan ("Paranoid", Black Sabbath) - Não vou apresentar o cara. Passou para a história da música - sim, da música, e não do rock apenas - como um grande criador de riffs, como um consolidador de um estilo dentro do rock. Não é um grande solista, até pelas dificuldades físicas - perdeu parte de um dos dedos -, mas tem um bom gosto impressionante. Essa faixa é prova disso. Trata-se de uma espécie de blues lento, no qual valoriza cada nota. Tira um som lindíssimo da Gibson SG em estado puro, elegante, jazzístico. Num LP com tantas cacetadas, tantas faixas importantes e que são de alguma forma tocadas até hoje por ele e por outros, "Planet Caravan" é um oásis de traquilidade. O Pantera fez uma versão idêntica, com muita competência, mas acabou dando em nada porque o disco original do Sabbath está aí, quase 40 anos depois, vendendo muito e com a classificação de clássico.
Don Felder e Joe Walsh - Hotel California ("Hotel California", Eagles) - Não foi à toa que se tornou o grande hit dos Eagles. Além da melodia melancólica, esses dois fazem um solo espetacular, dentro da grande tradição americana de blues. Não há demonstrações gratuitas de velocidade, tão ao gosto atual dos xaroposos guitarristas que pululam as várias categorias do rock pesado, tampouco o nhéco-nhéco que essas bandinhas modernosas de garotos com cara de nerds fazem. Esses dois trazem o melhor de uma escola de guitarra que mistura as raízes da música dos EUA. Cada nota é valorizada, cada toque é sentido como se o dedo da mulher amada encostasse na pele. No vídeo do show, a expressão facial de Walsh se contorce, muda conforme a pergunta de um e a resposta de outro. Os caras estão curtindo, gozando mesmo. No final, ainda brincam, riem. É o prazer que só um intrumento bem tocado proporciona.
Robim Trower - Day of the eagle ("Bridge of sights", Robin Trower) - Quem não se lembra da entrada arrasadora, com palhetadas precisas em comunhão perfeita com baixo e caixa da bateria? Um dos rocks mais pesados de que se tem notícia, curtido pela voz de Jimmy Dewar, um grande cantor, na tradição dos melhores cantores escoceses - como Frankie Miller, Dan McCafferty e, por que não?, Brian Johnson. O melhor desta faixa, porém, está por vir, quando cai num blues superlento. Aí, Robin "gasta" toda sua técnica, abusando de microfonias e sustains. A mesma fórmula ele repetiu em outras faixas, em outros discos, como "For earth below" ou "Long misty days", que vieram na sequência. É uma oportunidade também de se curtir o registro mais grave da Fender Stratocaster, da qual Robin foi um dos seus maiores representantes.
Manny Charlton - This flight tonight ("Loud'n'prod", Nazareth) - Solo, que solo? Pois é. Nessa faixa não tem nada que possa ser considerado como tal, mas Manny fez um arranjo de tamanho bom gosto que tornou uma canção pop de Joni Mitchell num rock pesadíssimo. Ele joga com slide e com os registros mais estridentes da Gibson que fica difícil imaginar algo diferente. Quem ouviu essa versão, considera-a definitiva e melhor que a da própria Joni. Faz lembrar uma observação de Dan McCafferty naquele período em que o Nazareth passava por mudanças, a fim de se adaptar à década de 80, que estava chegando, quando a banda incorporou o excelente Zal Cleminson: "Zal era um grande guitarrista. Tinha uma técnica impecável, era capaz de grandes frases, velozes, inspiradas. Mas Manny tinha 'o' toque, sabia como poucos atingir a nota certa, do jeito certo". Como diriam os britânicos, "say no more".
Warren Haynes - Thirty days in the hole/I don't need no doctor (show do Gov't Mule no Royal Oak Music Theatre, Michigan, em 11 de novembro de 2008) - Esta versão para dois clássicos do Humble Pie não está registrada em disco algum do Gov't Mule. Alguém na platéia gravou com uma câmera e postou no You Tube. Warren está simplesmente brilhante e as puxadas que ele dá no agudo da sua Gibson são simplesmente impressionantes. Os dois amplificadores Soldano e Marshall atrás dele passam a expressão exata da violência e da agressividade do som das Les Paul. Impossível não se emocionar. Considero Warren o maior guitarrista americano da atualidade, um cara que pode tocar qualquer coisa, mas que não abre mão da grande tradição do hard rock e do blues elétrico. Seus fills lembram muito Leslie West, que ainda não foi citado aqui. Por enquanto.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Voos solos
Vamos dar uma tonalidade mais leve aos posts do blog. Andei falando muito sobre política e sobre gente que não apenas jamais vai mudar a história da Humanidade, como dentro de mais algum tempo estará esquecida. Alguém tem dúvidas de que Antonio Palocci despontará para o anonimato? Luís Sérgio também experimentará a morte em vida em um ministério inexpressivo. Mas, falando a verdade, será que tem expressão para algo maior? Nem para ministro tem envergadura...
Mas não foi por isso que trouxe vocês até aqui. Tenho uma imensa frustração: não sei tocar qualquer instrumento de corda. Violão, guitarra, cavaquinho, nada, nem aquele contrabaixo de uma única corda que a gente vê nas jug bands de Louisiana. Um cabo de vassoura pregado numa tina de roupa, unido por um arame. Isso, porém, não quer dizer que não tenha sensibilidade para apreciar um bom solo, um toque diferenciado, algo realmente excitante.
Tempos atrás, fiz uma lista de 10 solos de guitarra que deveriam ser ouvidos antes de morrer. A relação seria publicada no Jornal de Brasília, mas, por algum motivo alheio à minha vontade, ficou guardada no meu computador e se perdeu. Enfim, paciência. Mas acho que me lembro de parte dela e se vocês que (não) me leem me permitirem, vou enumerar uns cinco que acho sensacionais. Vale dizer que isso aqui não se destina apenas aos marmanjos e roqueiros de plantão. O mulherio também poderá apreciar, pois, creio, elas saberão entender onde quero chegar.
Antes, porém, de entrar na lista, uma advertência: não se trata de exercícios de virtuosismo paganiniano (existe isso?) ou algo do gênero. É apenas bom gosto, dessas coisas que arrepiam a gente sempre que se ouve. Bem, vamos deixar de papo e passemos à lista. Vocês podem discordar de mim o quanto quiserem. Não vai adiantar nada mesmo.
Santana - Yours is the light (álbum "Welcome") - O grande Carlos, no LP anterior, "Caravanserai", dera uma guinada na direção do jazz. Considero "Welcome" superior e com praticamente o mesmo time: percussões de José Chepito Areas e Armando Peraza, bateria de Michael Schrieve, baixo de Douglas Rauch, teclados de Richard Kermode e Tom Coster, vocais de Leon Thomas e, como convidados especiais, Flora Purim (vocais), Gayle Moran (vocais), Hubert Laws (flauta) e John McLaughlin (guitarra). Bem, com um elenco desses, nada poderia dar errado. A valorizada que Carlos dá na mesma nota, puxando apenas uma variação uma oitava acima, logo no começo do solo, é uma das coisas mais lindas que eu já ouvi.
Mel Galley - Gambler (álbum "Slide it in", Whitesnake) - Mel teve um fim de vida terrível, com uma doença degenerativa que lhe tirou a vida, creio que há dois anos. Sempre foi um cara que flertou com o estrelato, desde os tempos do Trapeze, mas bateu na trave. Quando David Coverdale botou na cabeça que o Whitesnake tinha de ser uma banda de "gatos", chutou o gordinho Bernie Marsden, um dos meus guitarristas prediletos. Chamou Mel para seu lugar, fazendo primeiro dupla com Micky Moody e, depois, com John Sykes - até que o lindíssimo e talentoso Sykes ficou sozinho. Mel, porém, faz um solo inspirado, com poucas notas, todas de uma precisão absoluta. E fecha com uma pequena, mas rápida, sequência, mostrando que se quisesse aumentar a velocidade, poderia tê-lo feito. Não foi preciso.
Wayne Kramer - Teenage lust (álbum "Back in the USA", MC5) - Uma banda de anarquistas, surgida em Detroit, só poderia dar no que deu: uma zona completa, muitas drogas, vida curta e discos memoráveis. Tive um edição original do ao vivo "Kick out the jams", que meu compadre Pelé, então atendente na cantina do São Vicente de Paulo, trocou comigo. Que fim levaram Pelé e o LP, não me perguntem - espero que estejam bem. Wayne, neste solo, brinca com as mesmas notas e faz uma manobra brilhante, que prova que era um tremendo guitarrista, apesar de todo o descompromisso do MC5. Depois passou anos vagando, sem fazer nada de expressivo, o que foi uma pena. Aliás, "Back in the USA" era um disco domesticado, embora seja excelente.
Mick Mars - Doctor Feelgood (álbum "Doctor Feelgood", Motley Crue) - A faixa por si só é uma pancada, contando a história do traficante que se dá mal. De traficante e de cocaína os caras entendem, mas a letra não é piegas nem moralista. Mick simplesmente arrebenta o vibrato da guitarra e quem viu os DVDs percebe que ele mantém a mesma pegada obtida no LP. É sensacional. No meio do solo ele empilha, de maneira até desorganizada, várias notas, algo que estava na moda quando o disco foi lançado. No final, ainda brinca com a técnica do tapping, à Eddie Van Halen, que era obrigatória para 10 entre 10 guitarristas da década de 80. Isso não torna o solo lugar-comum, apenas o deixa datado. E continua estupendo até hoje.
Tommy Bolin - Coming home (álbum "Come taste the band", Deep Purple) - Foi difícil para Tommy calçar os sapatos de Ritchie Blackmore, mas diria que ele fez mais do que dele se esperava. Imaginem se, no Led Zeppelin, tivessem de substituir Jimmy Page? Pois é, sentiram o drama? O Purple estava dando seu canto de cisne e, meses depois, foi enterrado sem honra nem glória - e Tommy morreu quase logo em seguida, de overdose de heroína. Tirando o aspecto trágico, de final de festa, Tommy era brilhante e duvido que Ritchie conseguisse fazer um solo sequer parecido. Tommy balançava, funkeava, tinha humor, o contrário de Ritchie, sempre compenetrado, britânico em excesso, adepto da formalidade. O que Tommy faz nesta faixa é de deixar muito guitarrista enlouquecido e deveria servir de estudo para quem realmente pretende se aventurar na seis cordas. Para minha felicidade, a versão publicada na remixagem especial que chegou no mercado brasileiro no começo do ano, é ainda superior. Foi encontrada e colocada na remontagem do LP original por Kevin Shirley. Tommy, não é por acaso, até hoje é motivo de culto. Ouçam, se puderem, a versão original e a remixada. Se não verterem uma única lágrima de emoção, é porque não sabem apreciar algo tão especial. Ou não escutaram direito.
Mas não foi por isso que trouxe vocês até aqui. Tenho uma imensa frustração: não sei tocar qualquer instrumento de corda. Violão, guitarra, cavaquinho, nada, nem aquele contrabaixo de uma única corda que a gente vê nas jug bands de Louisiana. Um cabo de vassoura pregado numa tina de roupa, unido por um arame. Isso, porém, não quer dizer que não tenha sensibilidade para apreciar um bom solo, um toque diferenciado, algo realmente excitante.
Tempos atrás, fiz uma lista de 10 solos de guitarra que deveriam ser ouvidos antes de morrer. A relação seria publicada no Jornal de Brasília, mas, por algum motivo alheio à minha vontade, ficou guardada no meu computador e se perdeu. Enfim, paciência. Mas acho que me lembro de parte dela e se vocês que (não) me leem me permitirem, vou enumerar uns cinco que acho sensacionais. Vale dizer que isso aqui não se destina apenas aos marmanjos e roqueiros de plantão. O mulherio também poderá apreciar, pois, creio, elas saberão entender onde quero chegar.
Antes, porém, de entrar na lista, uma advertência: não se trata de exercícios de virtuosismo paganiniano (existe isso?) ou algo do gênero. É apenas bom gosto, dessas coisas que arrepiam a gente sempre que se ouve. Bem, vamos deixar de papo e passemos à lista. Vocês podem discordar de mim o quanto quiserem. Não vai adiantar nada mesmo.
Santana - Yours is the light (álbum "Welcome") - O grande Carlos, no LP anterior, "Caravanserai", dera uma guinada na direção do jazz. Considero "Welcome" superior e com praticamente o mesmo time: percussões de José Chepito Areas e Armando Peraza, bateria de Michael Schrieve, baixo de Douglas Rauch, teclados de Richard Kermode e Tom Coster, vocais de Leon Thomas e, como convidados especiais, Flora Purim (vocais), Gayle Moran (vocais), Hubert Laws (flauta) e John McLaughlin (guitarra). Bem, com um elenco desses, nada poderia dar errado. A valorizada que Carlos dá na mesma nota, puxando apenas uma variação uma oitava acima, logo no começo do solo, é uma das coisas mais lindas que eu já ouvi.
Mel Galley - Gambler (álbum "Slide it in", Whitesnake) - Mel teve um fim de vida terrível, com uma doença degenerativa que lhe tirou a vida, creio que há dois anos. Sempre foi um cara que flertou com o estrelato, desde os tempos do Trapeze, mas bateu na trave. Quando David Coverdale botou na cabeça que o Whitesnake tinha de ser uma banda de "gatos", chutou o gordinho Bernie Marsden, um dos meus guitarristas prediletos. Chamou Mel para seu lugar, fazendo primeiro dupla com Micky Moody e, depois, com John Sykes - até que o lindíssimo e talentoso Sykes ficou sozinho. Mel, porém, faz um solo inspirado, com poucas notas, todas de uma precisão absoluta. E fecha com uma pequena, mas rápida, sequência, mostrando que se quisesse aumentar a velocidade, poderia tê-lo feito. Não foi preciso.
Wayne Kramer - Teenage lust (álbum "Back in the USA", MC5) - Uma banda de anarquistas, surgida em Detroit, só poderia dar no que deu: uma zona completa, muitas drogas, vida curta e discos memoráveis. Tive um edição original do ao vivo "Kick out the jams", que meu compadre Pelé, então atendente na cantina do São Vicente de Paulo, trocou comigo. Que fim levaram Pelé e o LP, não me perguntem - espero que estejam bem. Wayne, neste solo, brinca com as mesmas notas e faz uma manobra brilhante, que prova que era um tremendo guitarrista, apesar de todo o descompromisso do MC5. Depois passou anos vagando, sem fazer nada de expressivo, o que foi uma pena. Aliás, "Back in the USA" era um disco domesticado, embora seja excelente.
Mick Mars - Doctor Feelgood (álbum "Doctor Feelgood", Motley Crue) - A faixa por si só é uma pancada, contando a história do traficante que se dá mal. De traficante e de cocaína os caras entendem, mas a letra não é piegas nem moralista. Mick simplesmente arrebenta o vibrato da guitarra e quem viu os DVDs percebe que ele mantém a mesma pegada obtida no LP. É sensacional. No meio do solo ele empilha, de maneira até desorganizada, várias notas, algo que estava na moda quando o disco foi lançado. No final, ainda brinca com a técnica do tapping, à Eddie Van Halen, que era obrigatória para 10 entre 10 guitarristas da década de 80. Isso não torna o solo lugar-comum, apenas o deixa datado. E continua estupendo até hoje.
Tommy Bolin - Coming home (álbum "Come taste the band", Deep Purple) - Foi difícil para Tommy calçar os sapatos de Ritchie Blackmore, mas diria que ele fez mais do que dele se esperava. Imaginem se, no Led Zeppelin, tivessem de substituir Jimmy Page? Pois é, sentiram o drama? O Purple estava dando seu canto de cisne e, meses depois, foi enterrado sem honra nem glória - e Tommy morreu quase logo em seguida, de overdose de heroína. Tirando o aspecto trágico, de final de festa, Tommy era brilhante e duvido que Ritchie conseguisse fazer um solo sequer parecido. Tommy balançava, funkeava, tinha humor, o contrário de Ritchie, sempre compenetrado, britânico em excesso, adepto da formalidade. O que Tommy faz nesta faixa é de deixar muito guitarrista enlouquecido e deveria servir de estudo para quem realmente pretende se aventurar na seis cordas. Para minha felicidade, a versão publicada na remixagem especial que chegou no mercado brasileiro no começo do ano, é ainda superior. Foi encontrada e colocada na remontagem do LP original por Kevin Shirley. Tommy, não é por acaso, até hoje é motivo de culto. Ouçam, se puderem, a versão original e a remixada. Se não verterem uma única lágrima de emoção, é porque não sabem apreciar algo tão especial. Ou não escutaram direito.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Ministro come-e-dorme
O troca-troca entre Luís Sérgio e Ideli Salvatti me deixou estarrecido. Um ocupará o cargo que é do outro. Pode ser uma saída interessante para agradar o PT, mas certamente é uma prova de incompetência, das mais evidentes, passada por Dilma. Por que não se pensou nisso antes? Então Luís Sérgio desde o começo estava na função para ser um reles anotador de recados? E levou-se seis meses para se chegar a tais conclusões? Impressionante.
Evidentemente que colocar juntos Ideli e Palocci era correr risco de curto-circuito. Soube da existência da ex-senadora há alguns anos, na CPI do Banestado. Ainda era gordinha, bem diferente da silhueta esbelta que exibe hoje. Numa audiência, moeu um diretor do banco para que explicasse como é que os dólares cruzavam a Ponte da Amizade, de Foz do Iguaçu para Ciudad del Este. Eu fiquei constrangido pelo tal diretor. Ideli não deu trégua, mas, vale lembrar, naquela época o PT era oposição. E não dava trégua.
Depois, já no senado como líder, Ideli mostrou-se carne de pescoço. Quem costumava brincar com ela era o ex-senador Heráclito Fortes, sujeito bem-humorado que levava na galhofa muitos dos enfrentamentos e reações da ex-senadora. No fundo se gostavam, embora cada um envergasse a camisa do seu time.
Ideli foi parar no Ministério da Pesca sem jamais ter visto, na vida, uma rede, um samburá, um caniço ou um molinete. Não sabe a diferença entre isca viva e artificial. Tornou-se ministra por obra de graça das conexões partidárias e porque acabara de ser derrotada em Santa Catarina. Foi dirigir uma pasta que jamais entrou no mapa, tampouco tem peso político. Mas isso pouco importa.
Esse estranho ministério será ocupado por Luís Sérgio. Vai desaparecer das vistas da presidente, passar um tempo mergulhado (sem trocadilho, pois não falo aqui de pesca submarina) e jogar seu peso nas eleições municipais de Angra dos Reis (RJ), seu reduto eleitoral. No momento em que precisar voltar à disputa pela reeleição a deputado federal, Sérgio abandona o barco (de pesca?).
Ou seja, desde o começo ele foi colocado ao lado de Palocci para não ser coisa alguma. Ou melhor, um menino de recados de luxo. Na maldade da política, apelidaram-no de "garçom", aquele a quem o freguês entrega os pedidos. Só mesmo no governo isso acontece: depois de seis meses, se percebe que o cidadão foi colocado no lugar errado.
Na iniciativa privada, tal erro de montagem, quando acontece, é punido com a demissão do chefe. Claro, é ele que arruma as peças. Ao patrão cabe cobrar que a engrenagem funcione (e bem), seja com um ou com 100 elementos, estejam eles bem encaixados ou não. Mas quem demite Dilma? Nós, evidentemente. Essa colocação de pessoas erradas em lugares errados certamente passará despercebida. Em primeiro lugar, está a dissipação da crise. Mas e daí? Para quem assumiu o governo com a pecha de técnica competente, de tocadora de projetos, é um erro crasso sustentar num ministro come-e-dorme porque quem está ao lado dele tem muito mais capacidade. Ou o cargo era extinto ou seria criado agora, quando passa a ter um verdadeiro titular.
A presidente passa um segundo atestado público de incompetência, em pouquíssimo tempo. Não será o último. Espera-se somente que esse problema não se agrave.
Evidentemente que colocar juntos Ideli e Palocci era correr risco de curto-circuito. Soube da existência da ex-senadora há alguns anos, na CPI do Banestado. Ainda era gordinha, bem diferente da silhueta esbelta que exibe hoje. Numa audiência, moeu um diretor do banco para que explicasse como é que os dólares cruzavam a Ponte da Amizade, de Foz do Iguaçu para Ciudad del Este. Eu fiquei constrangido pelo tal diretor. Ideli não deu trégua, mas, vale lembrar, naquela época o PT era oposição. E não dava trégua.
Depois, já no senado como líder, Ideli mostrou-se carne de pescoço. Quem costumava brincar com ela era o ex-senador Heráclito Fortes, sujeito bem-humorado que levava na galhofa muitos dos enfrentamentos e reações da ex-senadora. No fundo se gostavam, embora cada um envergasse a camisa do seu time.
Ideli foi parar no Ministério da Pesca sem jamais ter visto, na vida, uma rede, um samburá, um caniço ou um molinete. Não sabe a diferença entre isca viva e artificial. Tornou-se ministra por obra de graça das conexões partidárias e porque acabara de ser derrotada em Santa Catarina. Foi dirigir uma pasta que jamais entrou no mapa, tampouco tem peso político. Mas isso pouco importa.
Esse estranho ministério será ocupado por Luís Sérgio. Vai desaparecer das vistas da presidente, passar um tempo mergulhado (sem trocadilho, pois não falo aqui de pesca submarina) e jogar seu peso nas eleições municipais de Angra dos Reis (RJ), seu reduto eleitoral. No momento em que precisar voltar à disputa pela reeleição a deputado federal, Sérgio abandona o barco (de pesca?).
Ou seja, desde o começo ele foi colocado ao lado de Palocci para não ser coisa alguma. Ou melhor, um menino de recados de luxo. Na maldade da política, apelidaram-no de "garçom", aquele a quem o freguês entrega os pedidos. Só mesmo no governo isso acontece: depois de seis meses, se percebe que o cidadão foi colocado no lugar errado.
Na iniciativa privada, tal erro de montagem, quando acontece, é punido com a demissão do chefe. Claro, é ele que arruma as peças. Ao patrão cabe cobrar que a engrenagem funcione (e bem), seja com um ou com 100 elementos, estejam eles bem encaixados ou não. Mas quem demite Dilma? Nós, evidentemente. Essa colocação de pessoas erradas em lugares errados certamente passará despercebida. Em primeiro lugar, está a dissipação da crise. Mas e daí? Para quem assumiu o governo com a pecha de técnica competente, de tocadora de projetos, é um erro crasso sustentar num ministro come-e-dorme porque quem está ao lado dele tem muito mais capacidade. Ou o cargo era extinto ou seria criado agora, quando passa a ter um verdadeiro titular.
A presidente passa um segundo atestado público de incompetência, em pouquíssimo tempo. Não será o último. Espera-se somente que esse problema não se agrave.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
O fantasma do palácio
Que o ministro Luiz Sérgio é um fantasma a vagar pelo Palácio do Planalto, há tempos se sabe. Os prognósticos agora giram em torno do tempo que levará até ser demitido da Secretaria de Assuntos Institucionais. Considerando-se que o caso Palocci ainda não está de todo sepultado, que a ex-senadora Gleisi Hoffman mal assumiu a Casa Civil e que Dilma avalia de que forma ficará sua coordenação política, Sérgio ganha uma sobrevida. Seriam trocas demais, numa mesma área, em pouco tempo. Sinal de que algo estava errado.
Palocci não deu a menor chance para Sérgio. Os contatos eram todos feitos com o ex-ministro, que, inclusive, escolhia quem recebia e quem ouvia. Ninguém utilizava o ministro de Relações Institucionais para nada, sequer para fazer uma ponte, passar um recado. A própria presidente o tratava com certo desprezo, como conta Dora Kramer em sua coluna no Estadão, hoje. Segundo ela, numa reunião com senadores, dias atrás, Sérgio tomou da presidente um "passa, moleque" constrangedor. Situação sobre a qual só resta ao humilhado se levantar da mesa e entregar uma carta de demissão. Mas não estamos falando aqui de homens de caráter firme.
A montagem da coordenação política do governo estava errada desde o início. Palocci vinha da campanha de Dilma, foi seu coordenador. No arco de contatos que fez, agregado ao fato de já ter sido ministro da Fazenda, era óbvio que monopolizaria as interlocuções. Então, pergunta-se, por quê Dilma aceitou a colocação de Sérgio se Palocci tinha esse perfil? Porque, evidentemente, não teve completa autonomia para formar sua equipe. Prova disso é o tanto de ministros que herdou de Lula, que ainda conseguiu emplacar alguns penduricalhos em nome de alas do PT e de amigos queridos. Nesta lista de penduricalhos está Luiz Sérgio.
O ministro das Relações Institucionais pode até não sair agora, mas dificilmente ocupará o lugar que deveria ser seu. Esvaziado desde o início, não será agora que vai se qualificar. A menos que Dilma explicite que, de agora em diante, as coisas serão apenas e tão somente com ele. Pelo tanto de desimportância que devota a Sérgio, fica difícil acreditar nessa hipótese. Ele continuará ali, a dar suas opiniões apenas quando for solicitado. E nunca mais cortará um raciocínio da presidente para não ser constrangido.
Dilma avisou, segundo jornais de hoje, que apenas o substitui quando o PT conseguir se acertar. Ou seja, Sérgio vai ser mandado embora, de um jeito ou de outro. Como falta pouco tempo para o recesso parlamentar, e atestados de incompetência não podem ser emitidos seguidamente - a presidente publicou o primeiro com a demora em debelar a crise envolvendo Palocci -, é de se acreditar que a troca na Secretaria de Relações Institucionais aconteça somente depois da volta do Congresso às atividades.
Palocci não deu a menor chance para Sérgio. Os contatos eram todos feitos com o ex-ministro, que, inclusive, escolhia quem recebia e quem ouvia. Ninguém utilizava o ministro de Relações Institucionais para nada, sequer para fazer uma ponte, passar um recado. A própria presidente o tratava com certo desprezo, como conta Dora Kramer em sua coluna no Estadão, hoje. Segundo ela, numa reunião com senadores, dias atrás, Sérgio tomou da presidente um "passa, moleque" constrangedor. Situação sobre a qual só resta ao humilhado se levantar da mesa e entregar uma carta de demissão. Mas não estamos falando aqui de homens de caráter firme.
A montagem da coordenação política do governo estava errada desde o início. Palocci vinha da campanha de Dilma, foi seu coordenador. No arco de contatos que fez, agregado ao fato de já ter sido ministro da Fazenda, era óbvio que monopolizaria as interlocuções. Então, pergunta-se, por quê Dilma aceitou a colocação de Sérgio se Palocci tinha esse perfil? Porque, evidentemente, não teve completa autonomia para formar sua equipe. Prova disso é o tanto de ministros que herdou de Lula, que ainda conseguiu emplacar alguns penduricalhos em nome de alas do PT e de amigos queridos. Nesta lista de penduricalhos está Luiz Sérgio.
O ministro das Relações Institucionais pode até não sair agora, mas dificilmente ocupará o lugar que deveria ser seu. Esvaziado desde o início, não será agora que vai se qualificar. A menos que Dilma explicite que, de agora em diante, as coisas serão apenas e tão somente com ele. Pelo tanto de desimportância que devota a Sérgio, fica difícil acreditar nessa hipótese. Ele continuará ali, a dar suas opiniões apenas quando for solicitado. E nunca mais cortará um raciocínio da presidente para não ser constrangido.
Dilma avisou, segundo jornais de hoje, que apenas o substitui quando o PT conseguir se acertar. Ou seja, Sérgio vai ser mandado embora, de um jeito ou de outro. Como falta pouco tempo para o recesso parlamentar, e atestados de incompetência não podem ser emitidos seguidamente - a presidente publicou o primeiro com a demora em debelar a crise envolvendo Palocci -, é de se acreditar que a troca na Secretaria de Relações Institucionais aconteça somente depois da volta do Congresso às atividades.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Menos elogios, por favor
Gosto de ver o dia seguinte das ressacas governamentais. Hoje, vários são os analistas que se arriscam em opiniões semi-óbvias, como se tivessem previsto há meses que o governo Dilma tem uma questão moral séria para resolver. Quando Palocci e outros egressos do time de Lula assumiram postos importantes na atual gestão, a única coisa que lembraram é que mudou o treinador, mas o clube continua quase o mesmo. Palocci mesmo foi citado pelo episódio Francenildo. E ponto final. Ninguém se atreveu, por causa da lua de mel, a afirmar que poderia ser um foco de problemas.
Ele não é o único. Edison Lobão tem uma família complicada, com negócios no Maranhão que só não vêm à tona por causa da defesa que lhe faz o senador Sarney. Fernando Haddad passou por um vendaval na educação e a série de reportagens exibidas, dias atrás, pelo Jornal Nacional, acertam-no em cheio. Alexandre Padilha ainda não começou a apanhar duro por causa da Saúde, que é um verdadeiro caos. Enfim, o elenco de Lula herdado (?) por Dilma ainda pode ser um rabo de foguete daqueles bem compridos.
A chegada de Gleisi Hoffman à Casa Civil também deve ser vista com reservas. Afinal, marido e mulher estão no primeiro escalão do governo. E têm pretensões políticas no Paraná. Ano que vem tem uma eleição na qual eles certamente vão jogar pesado. Gleisi mesma tentou a prefeitura de Curitiba e não se deu bem. Quem sabe vai agora, turbinada por uma passagem pela Casa Civil? Ou então, lança alguém, que igualmente será turbinado pela pasta que dirige. Isso sem contar a do marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações.
Quando a briga política paroquial começar a esquentar, algo vai sobrar para o casal de ministros. O PMDB deve ter visto com alguma reserva a senadora ascender à Casa Civil. Afinal, não creio que o senador Roberto Requião tenha desistido de dar as cartas no seu terreiro. E não apenas ele. O PSDB de Beto Richa também deve estar preocupado com a dupla Gleisi-Paulo Bernardo.
Sobre a atuação dela no ministério, será um braço de Dilma, que está mais interessa em tocar projetos do que negociar política. Pode ser que Gleisi assuma essa tarefa também, pois parece ser jeitosa. Sem contar que, nesse primeiro momento, vai contar com a boa vontade dos seus interlocutores. Depois, pegando o jeito, segue em frente.
O certo é que Luiz Sérgio, como interlocutor político, parece carta fora do baralho. Todos se perguntam o que ele faz ali e, nem mesmo nessa troca, houve a mínima menção de que assumirá parte do trabalho de Palocci. Conforme a senadora disse ontem, na primeira entrevista, na qual confirmou que fora chamada (e aceitara) para a Casa Civil, o contato com o Congresso será incumbência dela também. O que Luiz Sérgio fará a partir daí é uma incógnita, mas, pelo jeito, Dilma não está muito preocupada em decifrá-la.
Ele não é o único. Edison Lobão tem uma família complicada, com negócios no Maranhão que só não vêm à tona por causa da defesa que lhe faz o senador Sarney. Fernando Haddad passou por um vendaval na educação e a série de reportagens exibidas, dias atrás, pelo Jornal Nacional, acertam-no em cheio. Alexandre Padilha ainda não começou a apanhar duro por causa da Saúde, que é um verdadeiro caos. Enfim, o elenco de Lula herdado (?) por Dilma ainda pode ser um rabo de foguete daqueles bem compridos.
A chegada de Gleisi Hoffman à Casa Civil também deve ser vista com reservas. Afinal, marido e mulher estão no primeiro escalão do governo. E têm pretensões políticas no Paraná. Ano que vem tem uma eleição na qual eles certamente vão jogar pesado. Gleisi mesma tentou a prefeitura de Curitiba e não se deu bem. Quem sabe vai agora, turbinada por uma passagem pela Casa Civil? Ou então, lança alguém, que igualmente será turbinado pela pasta que dirige. Isso sem contar a do marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações.
Quando a briga política paroquial começar a esquentar, algo vai sobrar para o casal de ministros. O PMDB deve ter visto com alguma reserva a senadora ascender à Casa Civil. Afinal, não creio que o senador Roberto Requião tenha desistido de dar as cartas no seu terreiro. E não apenas ele. O PSDB de Beto Richa também deve estar preocupado com a dupla Gleisi-Paulo Bernardo.
Sobre a atuação dela no ministério, será um braço de Dilma, que está mais interessa em tocar projetos do que negociar política. Pode ser que Gleisi assuma essa tarefa também, pois parece ser jeitosa. Sem contar que, nesse primeiro momento, vai contar com a boa vontade dos seus interlocutores. Depois, pegando o jeito, segue em frente.
O certo é que Luiz Sérgio, como interlocutor político, parece carta fora do baralho. Todos se perguntam o que ele faz ali e, nem mesmo nessa troca, houve a mínima menção de que assumirá parte do trabalho de Palocci. Conforme a senadora disse ontem, na primeira entrevista, na qual confirmou que fora chamada (e aceitara) para a Casa Civil, o contato com o Congresso será incumbência dela também. O que Luiz Sérgio fará a partir daí é uma incógnita, mas, pelo jeito, Dilma não está muito preocupada em decifrá-la.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Caiu de podre
A saída do Palocci talvez seja um começo, ainda que tímido, de descolamento entre a Dilma e Lula. Os jornais de hoje trouxeram que ela havia conversado com o ex-presidente, que lhe recomendara segurar o ministro. Se isso for verdade, por que o ex-titular da Casa Civil jogou a toalha, sobretudo depois que a Procuradoria Geral da República arquivou os pedidos de investigação contra ele?
Primeiro porque não acredito que Dilma atenderia a Lula. Conversou com o ex-presidente pelo simples fato de que era o avalista do ex-ministro, mas não parecia nem um pouco disposta a mantê-lo no cargo. A presidente assumiu falando em transparência e intransigência com os malfeitos, postura diametralmente oposta a do seu antecessor. Segurar Palocci seria romper esta regra com apenas seis meses de governo. Dilma sabe que outras crises virão e serão quase todas de natureza moral. Assim, não pode queimar cartuchos de credibilidade. Vai precisar muito deles futuramente.
Segundo porque Dilma precisa de um interlocutor com o Congresso. Ela detesta fazer política e manter Palocci seria ocupar uma vaga fundamental para o bom entendimento com o Legislativo. A quem caberia esta função se o ministro deixou de ser visto como o homem da articulação? A Luiz Sérgio? Esse também pode estar com os dias contados, já que com a crise envolvendo o ex-ministro da Casa Civil, em momento algum foi trazido ao centro do palco para tentar alguma abertura de diálogo.
Terceiro porque o ministro explicou-se pouco na entrevista que concedeu semana passada. Para piorar, no final de semana a Veja ainda mostrou que Palocci tem uma incrível atração por negócios estranhos e cabeludos. Não foi demitido na segunda-feira por causa da presença de Hugo Chávez, mas já devia saber que não duraria muito. Apesar dos sorrisos, de ter sentando ao lado de Dilma e do apoio (?) do ditador venezuelano, esperava apenas o melhor momento para conversar com a presidente e juntos chegarem a uma solução.
Que foi essa. A volta para casa. Palocci agora pode se dedicar integralmente a Projeto, inclusive mudar-lhe a razão social. Vai continuar transitando no PT, será recebido pelo círculo íntimo de Lula, mas vida pública novamente nunca mais.
Primeiro porque não acredito que Dilma atenderia a Lula. Conversou com o ex-presidente pelo simples fato de que era o avalista do ex-ministro, mas não parecia nem um pouco disposta a mantê-lo no cargo. A presidente assumiu falando em transparência e intransigência com os malfeitos, postura diametralmente oposta a do seu antecessor. Segurar Palocci seria romper esta regra com apenas seis meses de governo. Dilma sabe que outras crises virão e serão quase todas de natureza moral. Assim, não pode queimar cartuchos de credibilidade. Vai precisar muito deles futuramente.
Segundo porque Dilma precisa de um interlocutor com o Congresso. Ela detesta fazer política e manter Palocci seria ocupar uma vaga fundamental para o bom entendimento com o Legislativo. A quem caberia esta função se o ministro deixou de ser visto como o homem da articulação? A Luiz Sérgio? Esse também pode estar com os dias contados, já que com a crise envolvendo o ex-ministro da Casa Civil, em momento algum foi trazido ao centro do palco para tentar alguma abertura de diálogo.
Terceiro porque o ministro explicou-se pouco na entrevista que concedeu semana passada. Para piorar, no final de semana a Veja ainda mostrou que Palocci tem uma incrível atração por negócios estranhos e cabeludos. Não foi demitido na segunda-feira por causa da presença de Hugo Chávez, mas já devia saber que não duraria muito. Apesar dos sorrisos, de ter sentando ao lado de Dilma e do apoio (?) do ditador venezuelano, esperava apenas o melhor momento para conversar com a presidente e juntos chegarem a uma solução.
Que foi essa. A volta para casa. Palocci agora pode se dedicar integralmente a Projeto, inclusive mudar-lhe a razão social. Vai continuar transitando no PT, será recebido pelo círculo íntimo de Lula, mas vida pública novamente nunca mais.
domingo, 5 de junho de 2011
Para-raios de confusão
Existe uma expressão da qual gosto muito para identificar uma passoa enrolada, que quanto menos tenta, mais se enreda em tramas inexplicáveis: para-raios de confusão. O "confusão" aqui é por minha conta, porque, na verdade, dá vez a um palavrão. Mas isso é o de menos e pouco importa. O que importa é a capacidade do ministro Palocci em atrair lambanças.
De inúmeros imóveis em São Paulo, conseguiu alugar exatamente o de um sujeito cujos esbarrões com a Justiça o tornam no mínimo um estalionatário. A firma locadora do apartamento de Palocci não funciona no local dado como seu endereço, já mudou de razão social, sem contar que o dono do imóvel tem um histórico que o liga até mesmo a uma antiga máfia de adulteração de combustíveis. Além disso, incluiu filho e sobrinho nos negócios, manobra própria de quem não pode ter coisa alguma no próprio nome.
Poderão até dizer que Palocci entrou nessa de gaiato, mas fica difícil acreditar. São Paulo é uma cidade com inúmeras imobiliárias, algumas delas imensas, que gostariam de ter o ministro como cliente. Certamente apresentariam outros apartamentos em Moema, com suas ruas de nomes de pássaros. Impressionante o dedo podre do ministro, a atração que tem pelo malfeito, pelo complicado. Ainda que ele tenha todos os comprovantes do aluguel guardados e possa mostrá-los a qualquer momento.
Aqui entra apenas uma ilação da minha parte, mas creio que faz todo o sentido. O ministro, querendo alugar um imóvel de bom porte em Moema, comentou sobre isso com alguém da campanha da presidente Dilma. Alguém incumbido de cuidar da logística - carros, casas, cabos eleitorais, panfletos, banners etc. Geralmente tais imóveis pertencem a gente amiga, que nessas horas vê sempre a possibilidade de alugar (e tirar proveito) por dois xis algo cujo preço de mercado seria apenas xis. Paga mais caro de propósito, porque campanha virou um vetor de enriquecimento de quem nela participa. Arrecadação e sobras já deram até rompimento de amizade no governo Fernando Henrique Cardoso.
Como muita coisa na campanha não se controla, sobretudo a idoneidade das pessoas, Palocci chegou por intermédio de alguém próximo ao apartamento que sua família ocupa hoje. Não há crime algum, apenas a triste constatação de que o ministro mantém conexões com pessoas que têm conexões de natureza suspeita. E isso é péssimo. Não se espera que em campanha política todos sejam coroinhas e filhos de Maria. Ruim é quando isso vem à tona e expõe mais um nervo do ministro, que vai de mal a pior.
De inúmeros imóveis em São Paulo, conseguiu alugar exatamente o de um sujeito cujos esbarrões com a Justiça o tornam no mínimo um estalionatário. A firma locadora do apartamento de Palocci não funciona no local dado como seu endereço, já mudou de razão social, sem contar que o dono do imóvel tem um histórico que o liga até mesmo a uma antiga máfia de adulteração de combustíveis. Além disso, incluiu filho e sobrinho nos negócios, manobra própria de quem não pode ter coisa alguma no próprio nome.
Poderão até dizer que Palocci entrou nessa de gaiato, mas fica difícil acreditar. São Paulo é uma cidade com inúmeras imobiliárias, algumas delas imensas, que gostariam de ter o ministro como cliente. Certamente apresentariam outros apartamentos em Moema, com suas ruas de nomes de pássaros. Impressionante o dedo podre do ministro, a atração que tem pelo malfeito, pelo complicado. Ainda que ele tenha todos os comprovantes do aluguel guardados e possa mostrá-los a qualquer momento.
Aqui entra apenas uma ilação da minha parte, mas creio que faz todo o sentido. O ministro, querendo alugar um imóvel de bom porte em Moema, comentou sobre isso com alguém da campanha da presidente Dilma. Alguém incumbido de cuidar da logística - carros, casas, cabos eleitorais, panfletos, banners etc. Geralmente tais imóveis pertencem a gente amiga, que nessas horas vê sempre a possibilidade de alugar (e tirar proveito) por dois xis algo cujo preço de mercado seria apenas xis. Paga mais caro de propósito, porque campanha virou um vetor de enriquecimento de quem nela participa. Arrecadação e sobras já deram até rompimento de amizade no governo Fernando Henrique Cardoso.
Como muita coisa na campanha não se controla, sobretudo a idoneidade das pessoas, Palocci chegou por intermédio de alguém próximo ao apartamento que sua família ocupa hoje. Não há crime algum, apenas a triste constatação de que o ministro mantém conexões com pessoas que têm conexões de natureza suspeita. E isso é péssimo. Não se espera que em campanha política todos sejam coroinhas e filhos de Maria. Ruim é quando isso vem à tona e expõe mais um nervo do ministro, que vai de mal a pior.
A temperatura continua alta
No post do dia 2, disse que o pronunciamento do ministro Palocci não adiantaria muito coisa. Estava na cara e nem era preciso ser um grande analista para perceber isso. Achei até que ele se saiu bem na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, sexta-feira. Estava seguro, prova de ter sido bem ensaiado. Mas não dissipou as dúvidas em relação à sua decência. Pela simples razão de que a opinião pública já fez seu juízo e está farta de políticos e administradores que podem até ser honestos, mas não parecem.
Palocci se encaixa nessa definição. Mais uma vez se envolvido num episódio nebuloso, ocupando um cargo de relevância. No episódio do caseiro Francenildo, era o avalista do governo Lula: ministro da Fazenda. As provas se avolumaram de tal maneira contra ele que não restou alternativa a não ser sair. Agora, no governo Dilma, é o homem da ligação política e da articulação, o mais importante integrante do ministério. E de novo está na berlinda. De novo vai cair.
O Brasil perdeu a confiança nos seus homens públicos. Há personagens no governo Dilma que negam a existência do mensalão. Se o fazem por convicção, é outra história. Acima de tudo está a sobrevivência política a qualquer custo, mesmo ignorando o óbvio. É tamanha a impunidade que o cidadão descrê que o sujeito esteja falando a verdade, tenha seguido todos os trâmites e que sua fortuna aumentou por causa da competência, não do tráfico de influência. Por isso, Palocci é uma alma penada.
Todos os jornais de hoje afirmam que já se cogita a saída do ministro. As razões vão desde acharem que a entrevista veio tarde demais, à falta de explicações convincentes. Passa pelo desgaste do governo e chega ao fato de que existe o senso comum de que, enquanto Palocci continuar no cargo, a presidente Dilma Rousseff segue sangrando.
Dizem que ela teria perdido a confiança nele. É bem possível, é do feitio dela. Só que não perdeu a confiança agora. Perdeu ao longo da forma inepta como o processo foi tratado. Ela mesma ajudou muito, contrariando a imagem de xerifona e intransigente com supostos (ou não) atos de corrupção dos seus auxiliares. Para quem andou dando ordens ao PMDB, dizendo que não entregaria partes do Estado a alguns tubarões do partido, a tolerância com Palocci a enfraqueceu.
Para piorar a situação, o Palácio do Planalto fica sem interlocutor político. O ministro-chefe da Casa Civil está no papel do "lame duck", do pato manco, e o ministro Luiz Sérgio jamais foi visto com seriedade. Há um hiato que vai ser rapidamente ocupado por alguém, já que, em política, não existe espaço vazio. Que vai se qualificar para ser o substituto de Palocci.
Eu apostaria em José Eduardo Cardozo, já que Dilma não sabe fazer articular e Michel Temer está ocupado demais tentando controlar o PMDB, que quer subir na canoa da crise para agravá-la e aumentar seu cacife.
Quanto a Palocci, deve ser instado a sair. Alegará pressão da família ou qualquer coisa do gênero.
Palocci se encaixa nessa definição. Mais uma vez se envolvido num episódio nebuloso, ocupando um cargo de relevância. No episódio do caseiro Francenildo, era o avalista do governo Lula: ministro da Fazenda. As provas se avolumaram de tal maneira contra ele que não restou alternativa a não ser sair. Agora, no governo Dilma, é o homem da ligação política e da articulação, o mais importante integrante do ministério. E de novo está na berlinda. De novo vai cair.
O Brasil perdeu a confiança nos seus homens públicos. Há personagens no governo Dilma que negam a existência do mensalão. Se o fazem por convicção, é outra história. Acima de tudo está a sobrevivência política a qualquer custo, mesmo ignorando o óbvio. É tamanha a impunidade que o cidadão descrê que o sujeito esteja falando a verdade, tenha seguido todos os trâmites e que sua fortuna aumentou por causa da competência, não do tráfico de influência. Por isso, Palocci é uma alma penada.
Todos os jornais de hoje afirmam que já se cogita a saída do ministro. As razões vão desde acharem que a entrevista veio tarde demais, à falta de explicações convincentes. Passa pelo desgaste do governo e chega ao fato de que existe o senso comum de que, enquanto Palocci continuar no cargo, a presidente Dilma Rousseff segue sangrando.
Dizem que ela teria perdido a confiança nele. É bem possível, é do feitio dela. Só que não perdeu a confiança agora. Perdeu ao longo da forma inepta como o processo foi tratado. Ela mesma ajudou muito, contrariando a imagem de xerifona e intransigente com supostos (ou não) atos de corrupção dos seus auxiliares. Para quem andou dando ordens ao PMDB, dizendo que não entregaria partes do Estado a alguns tubarões do partido, a tolerância com Palocci a enfraqueceu.
Para piorar a situação, o Palácio do Planalto fica sem interlocutor político. O ministro-chefe da Casa Civil está no papel do "lame duck", do pato manco, e o ministro Luiz Sérgio jamais foi visto com seriedade. Há um hiato que vai ser rapidamente ocupado por alguém, já que, em política, não existe espaço vazio. Que vai se qualificar para ser o substituto de Palocci.
Eu apostaria em José Eduardo Cardozo, já que Dilma não sabe fazer articular e Michel Temer está ocupado demais tentando controlar o PMDB, que quer subir na canoa da crise para agravá-la e aumentar seu cacife.
Quanto a Palocci, deve ser instado a sair. Alegará pressão da família ou qualquer coisa do gênero.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
E tudo piorou
Não desapareci porque nada tinha a dizer, como podem pensar meus até agora inexistentes seguidores, mas porque estive ocupado com outras demanadas. Agora que o tempo clareou, posso voltar ao meu passatempo principal, que é o de comentar as andanças da política pátria. E entre o último post e este piorou muito a situação do ministro Antônio Palocci.
Ele já estuda se pronunciar para explicar o vertiginoso aumento patrimonial entre a vitória da presidente Dilma e a posse, em 1º de janeiro. Não creio que um pronunciamento vá ajudá-lo em coisa alguma: vai dar as explicações que tem dado, embora - ressalte-se - pela primeira vez aparecerá para tratar do assunto em público. A menos que explicite a lista dos seus clientes na Projeto, será mais do mesmo. Já se pode até prever as repercussões: os aliados dizendo que o ministro agiu de forma precisa e transparente e os adversários afirmando que não há qualquer novidade naquelas palavras.
A temperatura, portanto, tende a se manter alta. Mesmo porque, já há um grupo de petistas dizendo claramente que Palocci deve pegar o caminho de casa. Por quê? Simples: acham que o ministro está a dar um abraço de afogado no partido, que obrigará a presidente a conceder mais do que concedeu aos aliados para tentar estancar a sangria. Isso, evidentemente, representa diminuição do espaço do PT no governo, embora não ande um único milímetro para trás. Os demais é que andarão para frente.
Quem está achando que Palocci deve ir embora é a corrente Movimento PT, que conta com ilustres figuras, dentre as quais o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e o governador Tarso Genro (RS). Ainda que não seja a facção majoritária no partido, o raciocínio tem alto potencial destrutivo. Afinal, fica claro que os petistas não estão coesos em torno do ministro-chefe da Casa Civil. E se o partido não está, o governo menos ainda.
Estudou-se até a hipótese de Palocci convocar uma coletiva, algo que acho para lá de improvável. Seria colocar o capuz na cabeça à espera do empurrão alçapão abaixo. O ministro, que desde o episódio Francenildo, evita a imprensa como o gato evita a água, ficaria diante de um pelotão de repórteres ávidos por perguntas que ele não conseguiria responder. Tática suicida costuma dar péssimos resultados e Palocci não tem vocação para kamikaze.
A oposição, por sua vez, mais uma vez parece deitada em berço esplêndido. Somente aqueles que esperneiam é que continuam na incansável tarefa de desgastar o ministro. Outros, como o senador Aécio Neves, teria dito a interlocutores de Dilma que aos adversários do governo não interessa a queda de Palocci. Falou por si mesmo, certamente, pois tal observação vai na direção oposta à convocação do chefe da Casa Civil, em manobra urdida pelo DEM, na Câmara dos Deputados.
Por fim, também de pouco adianta a presidente emitir sinais de que não deseja tirar Palocci de onde está. Essa decisão não pertence mais a ela. Com a situação piorando e com a iminência de o ministro não falar nada sobre coisa alguma, a pressão continuará subindo e a temperatura da fritura também. E quando chegar ao ponto de ebulição, as circustâncias dirão à presidente que é hora de rifá-lo. Porque estará em jogo a preservação do governo.
Ele já estuda se pronunciar para explicar o vertiginoso aumento patrimonial entre a vitória da presidente Dilma e a posse, em 1º de janeiro. Não creio que um pronunciamento vá ajudá-lo em coisa alguma: vai dar as explicações que tem dado, embora - ressalte-se - pela primeira vez aparecerá para tratar do assunto em público. A menos que explicite a lista dos seus clientes na Projeto, será mais do mesmo. Já se pode até prever as repercussões: os aliados dizendo que o ministro agiu de forma precisa e transparente e os adversários afirmando que não há qualquer novidade naquelas palavras.
A temperatura, portanto, tende a se manter alta. Mesmo porque, já há um grupo de petistas dizendo claramente que Palocci deve pegar o caminho de casa. Por quê? Simples: acham que o ministro está a dar um abraço de afogado no partido, que obrigará a presidente a conceder mais do que concedeu aos aliados para tentar estancar a sangria. Isso, evidentemente, representa diminuição do espaço do PT no governo, embora não ande um único milímetro para trás. Os demais é que andarão para frente.
Quem está achando que Palocci deve ir embora é a corrente Movimento PT, que conta com ilustres figuras, dentre as quais o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e o governador Tarso Genro (RS). Ainda que não seja a facção majoritária no partido, o raciocínio tem alto potencial destrutivo. Afinal, fica claro que os petistas não estão coesos em torno do ministro-chefe da Casa Civil. E se o partido não está, o governo menos ainda.
Estudou-se até a hipótese de Palocci convocar uma coletiva, algo que acho para lá de improvável. Seria colocar o capuz na cabeça à espera do empurrão alçapão abaixo. O ministro, que desde o episódio Francenildo, evita a imprensa como o gato evita a água, ficaria diante de um pelotão de repórteres ávidos por perguntas que ele não conseguiria responder. Tática suicida costuma dar péssimos resultados e Palocci não tem vocação para kamikaze.
A oposição, por sua vez, mais uma vez parece deitada em berço esplêndido. Somente aqueles que esperneiam é que continuam na incansável tarefa de desgastar o ministro. Outros, como o senador Aécio Neves, teria dito a interlocutores de Dilma que aos adversários do governo não interessa a queda de Palocci. Falou por si mesmo, certamente, pois tal observação vai na direção oposta à convocação do chefe da Casa Civil, em manobra urdida pelo DEM, na Câmara dos Deputados.
Por fim, também de pouco adianta a presidente emitir sinais de que não deseja tirar Palocci de onde está. Essa decisão não pertence mais a ela. Com a situação piorando e com a iminência de o ministro não falar nada sobre coisa alguma, a pressão continuará subindo e a temperatura da fritura também. E quando chegar ao ponto de ebulição, as circustâncias dirão à presidente que é hora de rifá-lo. Porque estará em jogo a preservação do governo.
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