terça-feira, 9 de abril de 2013

Quanto mais gritaria, mais Feliciano gosta

O deputado Marco Feliciano conseguiu uma projeção que jamais imaginou, com suas posições discutíveis e opiniões esdrúxulas. A mais recente é que John Lennon e os Mamonas Assassinas foram mortos por ira de Deus. Lendo assim, sem anestesia, é claro que parece um absurdo. Mas não é se partirmos de alguns princípios dogmáticos. Tal como: Deus tem o dom da vida, é ele quem dá e retira, e por razões que aos simples mortais não é dado saber. A bala de um louco com Mark Chapman ou a montanha no caminho do teco-teco da banda são apenas os vetores do cumprimento de um roteiro pré-determinado para cada um.

Para tanto, há que se acreditar na reencarnação e que não cai uma folha sequer sem Deus saiba. Há que se crer também que passamos por dores que serão nossa redenção pelos graves erros do passado. A forma da morte, diante de uma espiritualidade incomensurável e que antes de mais nada trabalha para a evolução de cada alma que vive neste mundo de provas e expiações, é o que menos importa. Afinal, todos nós estaremos amparados pelos obreiros da luz, seja qual for nosso grau de elevação.

Tudo isso, porém, são conceitos. Muitos veem neles uma imensa bobagem, mais uma dessas explicações pseudo-filosóficas que tentam explicar a existência. Outros tantos pensam exatamente como Feliciano, no Deus de ira, severidade e intolerância com deslises. É outro conceito, que a mim cabe apenas estabelecer o quanto discordo dele.

O deputado-pastor, porém, não vem proferindo supostas asneiras e adotando surpreendentes posturas por acaso. Marqueteiro de si mesmo, Feliciano busca a provocação. Quer que desçam-lhe tacape e borduna sem dó, tachando-o de medieval, tosco, tacanho. Quanto mais graves forem as críticas, maior será a cisânia. Mais aumentará a temperatura do confronto.

Feliciano não é perigoso por aquilo que diz, mas pela projeção que dão às suas palavras. Quando sobe ao púlpito nas pregações, mostra a uma legião de pessoas que pensam como ele que, ao tentarem cassar-lhe a palavra, buscam impor o silêncio a outros tantos que o escutam, entendem e o apóiam. Nas entrelinhas, exorta-os a não se deixarem esmagar; que os fieis em Cristo e em Deus são a verdadeira maioria; que com eles está a palavra divina; que são os escolhidos; que juntos estabelecerão os ditames preconizados pelo verbo superior.

Esse é o princípio da guerra santa. Feliciano tornou-se, por intransigência e incompreensão dos adversários desse jogo perigoso, um referencial religioso. De obscuro chefe de seita, hoje se ombreia e conta com apoio de figuras de peso do movimento neopentecostal. O deputado foi catapultado a uma altura tal que seu partido já fala em lançar candidato à Presidência da República. Bravata? Pode ser, mas até semanas atrás, quando a projeção do pastor era traço na escala de popularidade, seu PSC se dava por satisfeito em fazer parte da bancada governista, alegre participante de uma política amesquinhada.

Os ultraconservadores, que até então careciam de um líder, agora têm um. E que assusta seus inimigos. O discurso da intransigência só se torna forte quando prestam atenção nele e pretendem combatê-lo longe da seara das ideias. Feliciano saboreia cada inconsistência que diz, amplificada imediatamente pela imprensa. Se farta com a condenação dos modernos, grupelho sempre à espera da salvadora caroninha que lhes retirará o mofo da obscuridade.

Até a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ajudou a dar importância às palavras de Feliciano. E errou quando disse que ele vem incitando à violência e ao ódio. Não, não. Seus adversários é que querem tirá-lo da presidência da comissão à base de tapas.

O deputado-pastor Marco Feliciano é um reacionário de ocasião, um oportunista religioso que, como já disse aqui antes, ganhou envergadura por palavras que soaram como intoleráveis provocações a grupos que pensam de forma diametralmente oposta. Agora, tudo que falar será com o intuito de, pela via do fustigamento, tirar seus adversários do sério - e ganhar mais projeção.

A última coisa que Feliciano quer nesse exato instante é o silêncio, dele e dos que o elegeram como inimigo. Quanto mais gritaria, mais ele se diverte, mais ganha musculatura, mais espaço recebe.

A sandice está dando uma goleada do bom-senso.

PS - aos caçadores de ideias alheias. Não posso impedi-los tomá-las para si, mas, ao menos, não fazia mal dar a mim os créditos de conceitos que defendi antes que se dessem conta da atual situação.

Um comentário:

  1. Se você ainda não percebeu, quando concede entrevista ele força a boca para não rir. Ou seja, tudo o que ele quer.

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