segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Veneno antiignorância

Parecia combinação. E já explico a razão.

Na madrugada de domingo, vi um filme ótimo, "Flor do Deserto", sobre uma somali que se tornou modelo de sucesso internacional. Ela, porém, escondia o segredo de ter sido emasculada, seguindo a brutal tradição de alguns povos africanos, que laceram a genitália feminina em nome de uma suposta instrução sagrada do Corão.

Na manhã do mesmo domingo, vejo na capa da Revista de Domingo, do Globo, uma imensa vagina, negros pelos pubianos à farta. Uma pintura de Courbet, exposta no Louvre para que todos a admirem (mesmo crianças e adolescentes), ilustrando uma excelente matéria sobre definições e limites do erotismo.

Impressionante como nosso conservadorismo e nossos compromissos religiosos, incutidos na cultura e na sociedade, nos leva a uma discussão que há muito deveria estar superada. Pelo menos para mim, claro, que gosto da arte erótica e aprecio a pornografia dentro de certos limites.

(Que limites? Os de que somente homens e mulheres adultos estejam envolvidos na exposição. Tudo que foge disso, abomino, critico e denuncio - sobretudo se há crianças envolvidas.)

A religião nos ensinou que o sexo é impuro e a vagina perigosa. Não foi o catolicismo, apenas. Todas as formas de professar a fé, principalmente entre as seculares, têm algum problema com as mulheres. As diminui, as reprime, as considera vetores da loucura humana. O homem, está nos principais livros sagrados, perde o rumo da "moral" quando se submete aos desejos e à sedução femininos.

É grande a dificuldade de se falar de sexo com adolescentes, principalmente meninas. Dá um apagão e, geralmente, os homens transferem a tarefa para as mães. Que são tão ou mais travadas que os pais! Envergonhamo-nos de tratar de um aspecto natural da nossa existência. Existência não apenas do ponto de vista da reprodução, mas do prazer.

O sexo é uma experiência sensacional, maravilhosa, intensa. O melhor dos esportes. Não se inventou ainda algo capaz de dar tanto bem-estar quanto o contato entre dois corpos.

E temos problemas em falar sobre isso. Ora, que pai não sabe que sua filha terá experiências sexuais? Sabe mas não admite. Estranho isso: por que não admitir? De onde virão os netos que ele tanto sonha? Todos sabemos como funciona o processo.

Deveríamos nos orgulhar da normalidade das nossas vidas e dos nossos corpos, não condená-la. Sociopatia nada tem a ver com sexo, por mais que tentem ligar as duas coisas. O fazem não por ignorância, mas por um conservadorismo pautado por preceitos baseados em pilares religiosos.

O desejo não é impuro, o prazer não é pecaminoso.

Quero consumir e falar sobre erotismo e pornografia. E de tratá-las com a normalidade que merecem.

Afinal, a normalidade é o maior antídoto contra a ignorância.
 

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