quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Fadiga de material

Tocou o "barata voa" nas hostes petistas. Pelo jeito, o partido vai abocanhar pouquíssimo na próxima eleição. Claro que isso é um complicador para o futuro: primeiro, porque diminuem as chances de um bom desempenho nas eleições de 2014; segundo, porque fica mais complicado colocar Dilma na parede. Do jeito que as coisas estão se processando, ela chega para a reeleição na interessnate condição de depender pouco do PT. O PT é que vai precisar dela. Muito.

Só que, do lado de tucanos e democratas, as coisas estão igualmente pretas. Em São Paulo, não há garantia alguma de que José Serra vá ao segundo turno com Celso Russomano. E se for, as pesquisas dizem que não ganha.

Não é muito difícil assim entender o que está acontecendo. O eleitor se encheu de uma coisa e de outra. Em Belo Horizonte, está quase reelegendo Márcio Lacerda porque ele nem é PT, tampouco PSDB. Em Recife, Eduardo Campos deve fazer o prefeito, condição que, assim como na capital mineira, representa uma novidade, uma alternativa.

O que o Serra vai dizer do Russomano? Nada, ou melhor, pouco. Mas abriu fogo pesado contra o PT ao conectar Fernando Haddad ao mensalão. Não que ex-ministro da Educação tenha alguma ligação com o episódio, mas seu partido... Isso já é handicap suficiente.

Como ficar contra a opinião pública, que vem batendo palmas para cada relatório do ministro Joaquim Barbosa? Como ficar contra o cidadão que acredita, com as condenações que o Supremo vem decretando, que estamos atravessando o rubicão da sujeira e da impunidade?

Sobretudo, o discurso adotado pelo PT contra o julgamento no STF é rechaçado pelo cidadão. Caso façam uma pesquisa de opinião perguntando se a mais alta corte do País está errando na dose, não tenho dúvidas de que a resposta será um rotundo e sonoro "não".

Ninguém leva a sério a baboseira de acusar os ministros de não julgarem tecnicamente, mas de acordo com aquilo que foi sugerido pelos formadores de opinião - e que, em tese, contaminou as impressões da sociedade. Pior: o eleitor não admite tal teoria conspiratória. Por isso está dizendo não ao PT, como já disse ao PSDB e ao DEM.

A questão é fadiga de material. Chega um momento em que o desgaste de tanto tempo de poder cobra o preço. O processo é bonito exatamente por causa disso: apodreceu, bota outro no lugar. E apesar dos inúmeros erros e vícios do nosso processo eleitoral, considero que seja mais arejado do que nas grandes democracias: nos Estados Unidos, ou é democrata ou é republicano, na Inglaterra ou é conservador ou trabalhista, na França ou é direita ou esquerda. O maniqueísmo reduz as possibilidades.

Vai dar Russomano em São Paulo? Pode ser. Vai ser ruim? Vai trabalhar com os bispos da Universal? Pode ser também. O fato é que ele é uma opção, uma nova opção. Ou aí alguém tem alguma ingenuidade de que, para atingir o patamar que atingiu, não estará carreando votos também de ex-petistas desapontados ou de ex-tucanos decepcionados?

Não é o voto da ignorância, do despreparo, como muitos querem acreditar. Ora, por que desqualificar uma escolha legítima dessa forma? Trata-se do mesmo voto que já botou de Jânio a Erundina. Então, teria mais qualidade se o voto fosse em Haddad ou em Serra?

Isso é preconceito próprio do messianismo que algumas figuras da política invocam para si mesmos. O povo não é esse ente tacanho e desinteressado que muitos acreditam; não é essa massa manipulável que muitos atribuem. Tal classificação é dada por elites intelectuais que, na falta de argumento melhor para qualificar seus candidatos, bota a culpa no alheio.

Depois me contem se Russomano, caso vença as eleições em São Paulo, ganhou apenas na periferia, nas zonas mais modestas.

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