Não tenho tido muito saco para ficar comentando política. Admito que está sem grandes assuntos e, aí, não me sinto muito à vontade de ficar dando pitaco em coisas que me demandariam profundidade para trazer um ângulo diferente. Assim sendo, para esfriar a cabeça e não encher a de vocês, vamos falar de rock! E de dois discos diametralmente opostos, embora em sequência: Never Say Die e Heaven and Hell, ambos do Black Sabbath.
Começando pelo segundo, vou relatar um episódio. Estava eu uma tarde na casa de meu compadre Velório, ouvindo o programa de rock que tinha sábado à tarde na Rádio 98, quando entrou a guitarra: pesadaça, bem na cara.
"Carajo, que porra é essa Velório?"
Continuamos ouvindo. Ele para mim:
"Parece o Ronnie James Dio cantando..." Confesso que, nessa época, conhecia pouco o Rainbow e não estava familiarizado com a voz do grande Dio. No final, o locutor anunciou: "Black Sabbath, Lonely is the world".
Silêncio. "Carajo" em únissono.
Seguiram-se dias de fome no São Vicente de Paulo para, ao final de uma semana, correr na Center Sound, do bravo Zé, perguntar sobre o disco que tinha essa música. Era o Heaven and Hell, que estava acabando de sair. Tive esse vinil até pouco tempo atrás e não sei se o passei para meu irmão ou para meu compadre Antônio Vicente. Mas o bicho ficou fino de tanto ouvir e com a contracapa branca, belíssima, encardida de tanto levá-lo para cima e para baixo.
Começa com um porradão, Neon Knights. Segue com Children of the sea, Lady Evil e fecha o lado um com Heaven and Hell. O lado dois não perde a pressão e termina com Lonely... Espetacular.
Dio, claro, estava cantando o fino. Tony Iommi e Geezer Butler inspiradíssimos e acho que a nota destoante é o simpático Bill Ward. Sempre o achei limitado, apesar de todo o esforço; as mesmas viradas, levadas, pratadas etc. Para quem começou ouvindo John Bonham e aprendeu a tocar bateria por causa do Ian Paice, Bill está longe de entrar para a lista dos heróis. Mas, concordemos: Bill não deixa a peteca cair. E acho-o uma figura simpatissíssima. Depois, falo de um disco solo que fez tempos atrás e que é excelente.
O legal de H&H é a sonoridade totalmente diferente dos discos anteriores do Sabbath, que seguiam certo padrão. Claro que é por causa de Dio: a voz poderosa modulou-se de outra maneira aos riffs de Tonny e Geezer, fazendo com que a banda se tornasse mais pesada e, para mim, menos sombria. Tinha passado a época dos morcegos, bruxas, diabinhos, cemitérios e coisas do tipo. Era hora de agregar outro fabulário, com guerreiros, cenários medievais, batalhas épicas, que Dio levou para a carreira-solo.
Mas esse som diferente era em parte, também, pela produção de Martin Birch, que passou a ser o cérebro por trás do Iron Maiden. São bem características, têm uma sonoridade própria, adquirida nos tempos do Rainbow e potencializada. Não foi por acaso que, com a saída de Dio, Martin vendeu sua capacidade para outros músicos.
O Sabbath, enfim, tinha assumido nova roupagem, tão fabulosa quanto a anterior. O chato é que isso não foi mantido a partir da saída de Dio, embora os discos que vieram fossem sempre corretos, para dizer o mínimo.
Mas vamos dar um passo atrás e falar de Never Say Die. Disco sensacional e acho que é uma despedida de Ozzy Osbourne em grande estilo. A faixa-título é fabulosa, pena que pouco executada. O restante do trabalho segue aquela linha evolutiva assumida pelo Sabbath desde Sabotage. Techincal Ecstasy dá uma leve decaída, mas sobe novamente em Never. Eu estava lá na turnê de 10 anos do Sabatth, cuja abertura foi de ninguém menos que o Van Halen - e que a galera no Kilburn State Gaumont deu a mínima.
De início, confesso que não entendi Never direito. Lembro que eu tinha um colega, apenas colega, que fazia o tipo chato e que, por gostar somente dos discos do Sabbath até o Sabbath Bloody Sabbath, ficava se amarrando para emprestar o Never. Quando emprestou, desceu quadrado, não sei se por causa do dono babaca ou pelo disco mesmo. Fato é que só fui aprender a apreciá-lo muito tempo depois.
Dizem que Ozzy o detesta, mas acho detestar um verbo forte demais. Talvez não esteja entre os prediletos pelas más recordações - foi sacado da banda; foi substituído por Dave Walker; voltou mas o clima entre ele e Tony já estava ruim; estava atolado na birita e na cocaína -, mas desprezível, definitivamente, não é.
Se alguém perguntar minha ordem de preferência dos discos do Sabbath com Ozzy, é essa: 1) Sabbath bloody/Volume 4; 2) Sabotage; 3) Never Say Die; 4) Techical Ecstasy; 5) Paranoid/Master of Reality; e 6) Black Sabbath. Vocês podem discordar à vontade, porque gosto não se discute. Mas tenho boas razões para que a lista seja esta, com dois discos dividindo o 1º e o 5º lugar.
Em Never, o Sabbath ousa tanto quanto em Sabotage, usando naipe de metais, gaita, Bill Ward nos vocais, sintetizadores de Don Airey. Claro que assusta: espera-se sempre que elementos como esses de alguma forma não se ajustem ao todo. Mas fica espetacular, sobretudo porque Rick Wakeman (o famoso Spock Wall) estava ajudando a banda nos arranjos. Em Sabotage, para quem não se lembra, havia coro, percussão sinfônica e outras coisas pouco comuns.
O que eu gostava no Sabbath era essa evolução, essa mistura com outros elementos, mas sem perder a característica. Considero Tony Iommi um dos mais brilhantes guitarristas e arranjadores do rock, que embora não tivesse a técnica de um Jimmy Page, era mais arejado do que um Ritchie Blackmore - para falarmos de dois contemporâneos. Não é por acaso que está até hoje aí, enquanto os outros dois estão semi-aposentados.
Never, para mim, é um dos grande discos de metal. Até o Bill Ward está bem, embora dentro das limitações que já relatei. É o tipo do disco que é preciso gostar muito do Sabbath para entendê-lo.
Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões (Graciliano Ramos)
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Sons para se ouvir no carro... (sei lá que número)
Confesso que tenho estado descuidado com meus três seguidores. Nem o Agamenon Mendes Pedreira é tão relapso. Mas as coisas aqui no MinC têm me consumido, sobretudo os textos da Ordem do Mérito Cultural têm demandado tempo. Assim, deixei este encouraçado singrando sem rumo. Sorte minha não ter encalhado ou sua monumental lata ter passado por cima de um inocente barquinho a vela. Mas o capitão está de volta e vamos ao que interessa: falar de rock.
Andei ouvindo no meu carro o último disco do grande Santana, intitulado Guitar heaven (o restante não me atrevo a lembrar, que é grande pra cacete). Posso dizer sem medo de errar: é o melhor disco do nosso querido Carlos em pelo menos 20 anos. Esqueçam aqueles em que ele andou colocando esses nomes menores da música, mas que fazemn um sucesso estrondoso - tipo Shakira, Britney Espinhas e coisas do gênero. Esse é um disco de músicos para músicos.
O grande lance de Guitar heaven é pegar grandes rocks e colocar aquela salerosidad que tornou nosso Carlos uma figura única. Ouvir petardos como Whole lotta love, do Zeppellin, ou Smoke on the water, do Purple, entre timbales, tumbadoras and other assorted percussions é uma experiência espetacular. Santana colocou essa latinidade gostosa, balançada, alegre em músicas tipicamente britânicas ou americanas, de uma gente que não prima muito pela ginga nas cadeiras. E ficou estupendo.
O trio percussivo Dennis Chambers-Karl Perazzo-Raúl Rekow dá um verdadeiro show, com uma levada de bom gosto, sem excessos. Claro que, nisto, entram os arranjos, que procuraram algo único: inovar sem espantar aquele fã mais radical do rock pesado, que abomina percussão. A mistura ficou na medida.
Têm músicas dos Stones, Doors, Hendrix, AC/DC e até do Def Leppard, com uma versão de Photograph que considero muito superior à original. As guitarras estão rasgadas, mantêm o peso dos originais. O baixo de Benny Rietveldt trabalha para o time, fazendo as linhas geralmente simples com imenso peso. O holandês manteve o original, sem slaps, thumbs e outros recursos próprios de baixistas nascidos e criados no fusion.
O restante do time, confesso que não me lembro. Os vocalistas são quase todos convidados e tem gente do calibre de um Chris Cornell (Soundgarden) e de um Joe Cocker. Mesmo a introdução de um rapper (coisa que abomino - desculpe, amigo Kim), NAS, na levada de Back in Black, dos irmãos Angus e Malcolm Young, ficou espetacular.
A única coisa que me incomoda de vez em quando é a onipresença do nosso Carlos. São tantos fills que quase dão no saco. Quando você está querendo ouvir a base, lá vem Santana enfiando a guitarra no meio da música, no fundo do vocal, na ponte, no refrão, no cacete. A gente sabe que é uma característica dele, mas fica parecendo aquela coisa: "Deixa eu dar minha palhetada aqui pro disco não ficar parecendo dos outros". Mas, diante de tudo, é um pecadilho. Tá perdoado, Santana.
Isso quer dizer que Guitar heaven é excelente e merece ser comprado. Diria até mais: que é um dos melhores CDs de rock dos últimos tempos. Ouvi e re-ouvi inúmeras vezes e passou no porta-trecos do meu carro durante todo esse tempo. Só quando dei por ouvido é que encostei-o de volta. Deu prazer. Santana está em forma, o disco não tem excessos (vá lá, só o do nosso Carlos), os arranjos são de primeira, os cantores dentro da medida. Enfim, estupendo.
Se meu amigo Lobão não tivesse me presenteado, teria comprado.
Andei ouvindo no meu carro o último disco do grande Santana, intitulado Guitar heaven (o restante não me atrevo a lembrar, que é grande pra cacete). Posso dizer sem medo de errar: é o melhor disco do nosso querido Carlos em pelo menos 20 anos. Esqueçam aqueles em que ele andou colocando esses nomes menores da música, mas que fazemn um sucesso estrondoso - tipo Shakira, Britney Espinhas e coisas do gênero. Esse é um disco de músicos para músicos.
O grande lance de Guitar heaven é pegar grandes rocks e colocar aquela salerosidad que tornou nosso Carlos uma figura única. Ouvir petardos como Whole lotta love, do Zeppellin, ou Smoke on the water, do Purple, entre timbales, tumbadoras and other assorted percussions é uma experiência espetacular. Santana colocou essa latinidade gostosa, balançada, alegre em músicas tipicamente britânicas ou americanas, de uma gente que não prima muito pela ginga nas cadeiras. E ficou estupendo.
O trio percussivo Dennis Chambers-Karl Perazzo-Raúl Rekow dá um verdadeiro show, com uma levada de bom gosto, sem excessos. Claro que, nisto, entram os arranjos, que procuraram algo único: inovar sem espantar aquele fã mais radical do rock pesado, que abomina percussão. A mistura ficou na medida.
Têm músicas dos Stones, Doors, Hendrix, AC/DC e até do Def Leppard, com uma versão de Photograph que considero muito superior à original. As guitarras estão rasgadas, mantêm o peso dos originais. O baixo de Benny Rietveldt trabalha para o time, fazendo as linhas geralmente simples com imenso peso. O holandês manteve o original, sem slaps, thumbs e outros recursos próprios de baixistas nascidos e criados no fusion.
O restante do time, confesso que não me lembro. Os vocalistas são quase todos convidados e tem gente do calibre de um Chris Cornell (Soundgarden) e de um Joe Cocker. Mesmo a introdução de um rapper (coisa que abomino - desculpe, amigo Kim), NAS, na levada de Back in Black, dos irmãos Angus e Malcolm Young, ficou espetacular.
A única coisa que me incomoda de vez em quando é a onipresença do nosso Carlos. São tantos fills que quase dão no saco. Quando você está querendo ouvir a base, lá vem Santana enfiando a guitarra no meio da música, no fundo do vocal, na ponte, no refrão, no cacete. A gente sabe que é uma característica dele, mas fica parecendo aquela coisa: "Deixa eu dar minha palhetada aqui pro disco não ficar parecendo dos outros". Mas, diante de tudo, é um pecadilho. Tá perdoado, Santana.
Isso quer dizer que Guitar heaven é excelente e merece ser comprado. Diria até mais: que é um dos melhores CDs de rock dos últimos tempos. Ouvi e re-ouvi inúmeras vezes e passou no porta-trecos do meu carro durante todo esse tempo. Só quando dei por ouvido é que encostei-o de volta. Deu prazer. Santana está em forma, o disco não tem excessos (vá lá, só o do nosso Carlos), os arranjos são de primeira, os cantores dentro da medida. Enfim, estupendo.
Se meu amigo Lobão não tivesse me presenteado, teria comprado.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Meeting Johnny Winter
Vi uma boa quantidade de shows na minha não tão larga vida. Tive a chance de ver o Deep Purple renascido, com Gillan e Morse, com Turner e Blackmore, mas por poucos dias perdi o do Led Zeppelin. Vi o Black Sabbath com Ozzy Osborune e vi o Black Sabbath travestido de Heaven & Hell, com Ronnie James Dio. Vi a grande formação do Jethro Tull (Anderson, Barre, Barlow, Glascock, Palmer e Evan) e outra nem tão glamurosa assim (Anderson, Barre, Palmer, Vettesse e Perry). Até dormi num show do Renaissance. Mas nenhum show foi tão fantástico quanto o de Johnny Winter.
Meu primeiro disco desse que para mim é o maior guitarrista de blues elétrico em todos os tempos (respeito todos, de Clapton a Gallagher, dos Kings [BB, Albert e Freddie] a Guy, e deles tenho vários discos) foi Austin: Texas, uma reedição de The Progressive Blues Experiment. E quando o vi, foi exatamente no local em que gravou este disco histórico: o Vulcan Gas Company, que era uma espécie de casa de shows, exatamente em Austin, capital do progressista estado de Tejas. O nome se explica porque ali funcionava uma companhia de gás liquefeito de petróleo que foi incorporada, creio, pela Gulf & Western. Removidas algumas paredes, o prédio baixo acabou servindo a um restaurante popular de manhã e uma boate de música ao vivo, à noite. Que rapidamente tornou-se o templo do blues texano.
Quando aconteceu o show, Johnny estava consolidando a nova banda. Floyd Radford, segunda guitarra, deu lugar a Pat Rush; Richard Hughes abriu a vez para Bobby Torello na bateria; e Jon Paris entrou no lugar de Randy Jo Hobbs no baixo, agregando ainda a gaita. Exceto por Radford, Johnny vinha tocando com Hobbs e Hughes há séculos.
Quem nunca viu Johnny se assusta com o tipo físico: magérrimo, branco feito neve, cabelos ralos e branquíssimos, estatura pelo metro e setenta; parece que vai ser levado ao menor pé de vento. Fez das Gibson Firebird "invertidas" sua marca registrada. Tiver a oportunidade de pegar uma certa vez: é pesada, de madeira sólida, até um pouco incômoda. Outras Gibson que segurei são um pouco mais leves. Mas o que importava a Johnny era a sonoridade única das Firebird, que se destaca das SG, das Explorer, das Les Paul, até mesmo das Firebird "straight".
Naquela noite, Johnny tocou com duas: uma toda branca e uma de madeira avermelhada e escudo preto. Lindas! Vê-lo executar o slide é uma verdadeira aula de destreza e de bom gosto. Não tem nota perdida, show de técnica gratuita. A mão de Johnny desliza acariciando o braço a guitarra. E segundo os especialistas, somente ele consegue tocar certo com o slide, que é no dedo mínimo - o outro que faz assim, se minha memória não falha, é Dickey Betts, ex-Allman Brothers Band, o segundo maior guitarrista de blues elétrico da história, cabeça a cabeça com Duanne Allman. O restante, inclusive Clapton, adapta para o dedo anelar. Enfim, não existe jeito certo ou errado, o que existe é bom gosto. Mas Johnny e Dickey tocam mais certo que os certos.
Johnny estava divulgando o disco Red, Hot and Blue, que é subestimado até hoje. Talvez porque esperassem dele algo mais na direção dos clássicos John Dawson Winter III, Saints & Sinners ou Still Alive and Well. Mas quando o pau quebrou, começando por Bonnie Moronie, todo mundo esqueceu de banda nova, disco novo, o escambau. Todos ficaram hipnotizados com aquele quarteto fabuloso, executando clássicos do blues e de Bob Dylan de forma impecável.
Aliás, sobre Johnny, Dylan certa vez falou: "Ele é insuportável. pega minhas músicas e toca de um jeito que fica tão melhor que depois eu mesmo não consigo tocá-las". É verdade. É só ver a versão de Highway 61: é uma outra música e considero que foi Johnny quem a tornou definitiva. O ritmo acelerado, vibrante, os versos entrecortados com pequenos solos, que se abrem para um solo maior - tudo é sensacional. Claro que não faltou Still alive and well, Cheap tequila, Good morning little schoolgirl, Broken down engine, Rollin' and tumblin' e outros clássicos do cancioneiro "johnnyano".
Uma noite fabulosa de blues e rock. Johnny é, sobretudo, um cara generoso musicalmente: o segundo guitarrista não faz base para ele, mas divide os solos. E para tocar com Johnny, o sujeito tem que ter estatura, como foi o caso de Rick Derringer, Floyd Radford ou Pat Rush, que utilizou duas Gibson - uma Les Paul suburst e uma 345 vermelha. Atrás, Torello descia a ripa numa Ludwig Vistalite alaranjada, com dois bumbos de 24" (ou 22"; as medidas de longe são difíceis de avaliar), dois tons, dois surdos e vários pratos da Zidjian. Concluindo a linha de frente, Paris mandava brasa com um Fender Precision preto de escudo branco - vez por outra ainda sacava uma gaita do bolso. Atrás, alguns Marshall e Ampegs empurravam a banda, clássica até mesmo na hora de escolher com o quê fazer o som.
Coisas que a cabeça de um garoto com 17 anos jamais esquece. A platéia, eclética como um show de blues deve ser, com pretos, brancos, azuis, homens, mulheres e assemelhados boquiabertos. De pau quebrando, deve ter sido mais ou menos 1h30. Mas pareceram horas. Vi outros bluesmen depois: Smokin' Joe Kubeck, Tony Duarte, Son Seals, Clapton (na Praça da Apoteose!, Turnê do disco Journeyman), Albert Collins (e sua Fender Telecaster), Robert Cray, Tinsley Ellis, Dave Hole (que toca com a mão por cima do braço da guitarra)... Enfim, a lista é vasta. Mas esse show é insuperável.
Aliás, Johnny é insuperável.
Meu primeiro disco desse que para mim é o maior guitarrista de blues elétrico em todos os tempos (respeito todos, de Clapton a Gallagher, dos Kings [BB, Albert e Freddie] a Guy, e deles tenho vários discos) foi Austin: Texas, uma reedição de The Progressive Blues Experiment. E quando o vi, foi exatamente no local em que gravou este disco histórico: o Vulcan Gas Company, que era uma espécie de casa de shows, exatamente em Austin, capital do progressista estado de Tejas. O nome se explica porque ali funcionava uma companhia de gás liquefeito de petróleo que foi incorporada, creio, pela Gulf & Western. Removidas algumas paredes, o prédio baixo acabou servindo a um restaurante popular de manhã e uma boate de música ao vivo, à noite. Que rapidamente tornou-se o templo do blues texano.
Quando aconteceu o show, Johnny estava consolidando a nova banda. Floyd Radford, segunda guitarra, deu lugar a Pat Rush; Richard Hughes abriu a vez para Bobby Torello na bateria; e Jon Paris entrou no lugar de Randy Jo Hobbs no baixo, agregando ainda a gaita. Exceto por Radford, Johnny vinha tocando com Hobbs e Hughes há séculos.
Quem nunca viu Johnny se assusta com o tipo físico: magérrimo, branco feito neve, cabelos ralos e branquíssimos, estatura pelo metro e setenta; parece que vai ser levado ao menor pé de vento. Fez das Gibson Firebird "invertidas" sua marca registrada. Tiver a oportunidade de pegar uma certa vez: é pesada, de madeira sólida, até um pouco incômoda. Outras Gibson que segurei são um pouco mais leves. Mas o que importava a Johnny era a sonoridade única das Firebird, que se destaca das SG, das Explorer, das Les Paul, até mesmo das Firebird "straight".
Naquela noite, Johnny tocou com duas: uma toda branca e uma de madeira avermelhada e escudo preto. Lindas! Vê-lo executar o slide é uma verdadeira aula de destreza e de bom gosto. Não tem nota perdida, show de técnica gratuita. A mão de Johnny desliza acariciando o braço a guitarra. E segundo os especialistas, somente ele consegue tocar certo com o slide, que é no dedo mínimo - o outro que faz assim, se minha memória não falha, é Dickey Betts, ex-Allman Brothers Band, o segundo maior guitarrista de blues elétrico da história, cabeça a cabeça com Duanne Allman. O restante, inclusive Clapton, adapta para o dedo anelar. Enfim, não existe jeito certo ou errado, o que existe é bom gosto. Mas Johnny e Dickey tocam mais certo que os certos.
Johnny estava divulgando o disco Red, Hot and Blue, que é subestimado até hoje. Talvez porque esperassem dele algo mais na direção dos clássicos John Dawson Winter III, Saints & Sinners ou Still Alive and Well. Mas quando o pau quebrou, começando por Bonnie Moronie, todo mundo esqueceu de banda nova, disco novo, o escambau. Todos ficaram hipnotizados com aquele quarteto fabuloso, executando clássicos do blues e de Bob Dylan de forma impecável.
Aliás, sobre Johnny, Dylan certa vez falou: "Ele é insuportável. pega minhas músicas e toca de um jeito que fica tão melhor que depois eu mesmo não consigo tocá-las". É verdade. É só ver a versão de Highway 61: é uma outra música e considero que foi Johnny quem a tornou definitiva. O ritmo acelerado, vibrante, os versos entrecortados com pequenos solos, que se abrem para um solo maior - tudo é sensacional. Claro que não faltou Still alive and well, Cheap tequila, Good morning little schoolgirl, Broken down engine, Rollin' and tumblin' e outros clássicos do cancioneiro "johnnyano".
Uma noite fabulosa de blues e rock. Johnny é, sobretudo, um cara generoso musicalmente: o segundo guitarrista não faz base para ele, mas divide os solos. E para tocar com Johnny, o sujeito tem que ter estatura, como foi o caso de Rick Derringer, Floyd Radford ou Pat Rush, que utilizou duas Gibson - uma Les Paul suburst e uma 345 vermelha. Atrás, Torello descia a ripa numa Ludwig Vistalite alaranjada, com dois bumbos de 24" (ou 22"; as medidas de longe são difíceis de avaliar), dois tons, dois surdos e vários pratos da Zidjian. Concluindo a linha de frente, Paris mandava brasa com um Fender Precision preto de escudo branco - vez por outra ainda sacava uma gaita do bolso. Atrás, alguns Marshall e Ampegs empurravam a banda, clássica até mesmo na hora de escolher com o quê fazer o som.
Coisas que a cabeça de um garoto com 17 anos jamais esquece. A platéia, eclética como um show de blues deve ser, com pretos, brancos, azuis, homens, mulheres e assemelhados boquiabertos. De pau quebrando, deve ter sido mais ou menos 1h30. Mas pareceram horas. Vi outros bluesmen depois: Smokin' Joe Kubeck, Tony Duarte, Son Seals, Clapton (na Praça da Apoteose!, Turnê do disco Journeyman), Albert Collins (e sua Fender Telecaster), Robert Cray, Tinsley Ellis, Dave Hole (que toca com a mão por cima do braço da guitarra)... Enfim, a lista é vasta. Mas esse show é insuperável.
Aliás, Johnny é insuperável.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Se sumir, não fará falta
Vocês conhecem o ditado: "só mudam as moscas, porque...". A entrada de Gastão Vieira no Ministério do Turismo, em substituição a Pedro Novais, é a troca de seis por meia-dúzia. E não é porque ambos contam com a bênção de José Sarney, a cuja facção pertencem no Maranhão. Mas porque um ministro que já entra dizendo que não é "genérico" é exatamente isso: genérico. Além da pouca qualificação, fica clara a ideia de que o governo também não tem critérios (que não sejam os políticos) para preencher o cargo.
Nesse jogo de erros que dificilmente serão corrigidos, já que competência não é a qualidade para alguém ocupar um cargo no primeiro escalão de Dilma, há lances assustadores, estarrecedores. Tal como a tentativa, feita pelo líder Henrique Eduardo Alves, de emplacar o deputado Manoel Júnior no ministério, acusado de estar envolvido com a pistolagem. Vou repetir: acusado de estar envolvido com a pistolagem. Seria a mesma coisa que indicar Natalino ou Jerominho, ex-deputado estadual e ex-vereador no Rio e chefes da Liga da Justiça - milícia que manda em várias favelas cariocas - para o cargo.
Quer dizer: o substituto de Pedro Novais já assumiria nas mesmas condições do antecessor, tendo de dar explicações do seu envolvimento com a criminalidade. É de se perguntar se Henrique Eduardo Alves estava de brincadeira ou é irresponsável assim mesmo. Porque alguém que indica um ciadadão com ficha corrida para comandar um ministério só pode ser louco. Não é o caso nem de a presidente desconsiderar a sugestão, mas de chamá-lo às falas de perguntá-lo qual a intenção de apresentar alguém com um histórico desses.
São lances assim que atestam a completa desnecessidade do Ministério do Turismo - uma invenção do presidente Itamar Franco para abrigar o amigo e ex-banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira. Fosse algo sério, Pedro Novais nem sequer teria sido cogitado. Mas como tem que se criar pastas na estrutura federal para poder agradar os aliados, vale qualquer coisa. De sugestão imprópria a um genérico que lá está para alavancar seu partido.
Nesse jogo de erros que dificilmente serão corrigidos, já que competência não é a qualidade para alguém ocupar um cargo no primeiro escalão de Dilma, há lances assustadores, estarrecedores. Tal como a tentativa, feita pelo líder Henrique Eduardo Alves, de emplacar o deputado Manoel Júnior no ministério, acusado de estar envolvido com a pistolagem. Vou repetir: acusado de estar envolvido com a pistolagem. Seria a mesma coisa que indicar Natalino ou Jerominho, ex-deputado estadual e ex-vereador no Rio e chefes da Liga da Justiça - milícia que manda em várias favelas cariocas - para o cargo.
Quer dizer: o substituto de Pedro Novais já assumiria nas mesmas condições do antecessor, tendo de dar explicações do seu envolvimento com a criminalidade. É de se perguntar se Henrique Eduardo Alves estava de brincadeira ou é irresponsável assim mesmo. Porque alguém que indica um ciadadão com ficha corrida para comandar um ministério só pode ser louco. Não é o caso nem de a presidente desconsiderar a sugestão, mas de chamá-lo às falas de perguntá-lo qual a intenção de apresentar alguém com um histórico desses.
São lances assim que atestam a completa desnecessidade do Ministério do Turismo - uma invenção do presidente Itamar Franco para abrigar o amigo e ex-banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira. Fosse algo sério, Pedro Novais nem sequer teria sido cogitado. Mas como tem que se criar pastas na estrutura federal para poder agradar os aliados, vale qualquer coisa. De sugestão imprópria a um genérico que lá está para alavancar seu partido.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A culpa maior é de quem escolhe
A demissão de Pedro Novais do Ministério do Turismo expõe uma face dramática do governo Dilma: como são ruins seus auxiliares. Quem não caiu de podre - e já não importa aqui se alguns personagens foram ou não herdados de Lula -, saiu por postura incompatível com o cargo. Sem contar aqueles que balançaram, seja por abusar nas diárias, seja por irrigar currais eleitorais, ou mesmo quem simplesmente trocou de lugar por absoluta inépcia, impressiona a reforma ministerial que a presidente foi obrigada a fazer pela má qualidade da equipe que montou.
Isso dá um desalento que faz pensar no seguinte: se esses eram ruins, imaginem aqueles que virão para substituí-los. Claro, se fossem figuras de valor, já teriam sido lembrados antes. Não me ocorre uma reforma do primeiro escalão feita por causa da incompetência na escolha e pela incapacidade de vários ministros andarem em linha reta. Sabe-se de reformas que são realizadas porque os titulares dos ministérios têm pretensões políticas, seja ao Legislativo, seja ao Executivo, ou até mesmo para assumirem outros cargos - como o Tribunal de Contas da União. Mas porque foram flagrados em postura vergonhosa, se servindo do erário, é a primeira vez, caso a memória não esteja me traindo.
A saída de Pedrinho - permitam-me chamá-lo assim, seja pela estatura física, seja pela moral - já era cantada em verso e prosa há tempos. Desde que a Polícia Federal descobriu a roubalheira que corria sob suas barbas, vinha cambaleando - embora, nesse episódio, tivesse uma desculpa: boa parte da bandalheira aconteceu na gestão do seu antecessor, chegadíssimo à senadora Marta Suplicy (PT-SP), que até se escondeu no banheiro para não enfrentar os repórteres e dar explicações sobre o caso.
Só que Pedrinho é um incorrigível. A Folha de S.Paulo mostrou que ele não coçava o bolso para pagar a governanta, tampouco o chofer que servia à madame mulher do ministro. Ou seja, um predador dos cofres públicos, desses que se puderem empurrar para o contribuinte a conta do motelzinho com as mariposas, empurra. Talvez por inspiração de seu mestre e mentor, o senador José Sarney, que há anos privatizou o Maranhão, tornando-o uma enorme e paupérrima propriedade particular.
Pedrinho já era ruim desde a indicação, que foi disputada com faca nos dentes e sangue nos olhos pelo PMDB. Quando o senador Gim Argello (PTB-DF) afirmou, ao Jornal de Brasília - eu estava lá e editei a matéria -, que o Ministério do Turismo seria do seu partido, o que se viu foi uma sessão de pancadas que o obrigaram a se recolher com o rabo entre as pernas. Não que Argello ou o PTB não tivessem merecido, mas porque, no jogo pesado da política, o PMDB queria abocanhar uma pasta altamente irrigada por causa da Copa e da Olimpíada.
A indicação, inclusive, demorou. Até que surgiu esse Pedrinho, tirado do bolso do colete pelo senador Sarney. Deputado veterano, mas do baixo clero, era figura inexpressiva e manteve-se assim mesmo depois que tornou-se titular de um ministério que poderia catapultá-lo. Mas gestão não é o forte do ex-ministro, a não ser quando estão em jogo as finanças próprias. Aí ele se mostra um mestre na arte de explorar o que é de todos.
Some-se a isso o fato que a presidente o recebeu uma única vez. Maior sinal de desprestígio, impossível. Mas, nesse caso, a culpa também é de Dilma, que de nariz tapado o aceitou por injunções políticas. Sabia que Pedrinho era ruim, que era do tipo de empurrar conta de motel para o erário, mas, mesmo assim, o colocou no ministério e tirou ao lado dele a foto oficial.
A culpa maior é sempre de quem escolhe. Ou Dilma vai entoar aquela que se tornou a oração-mor do cinismo? - que não sabia de nada.
Isso dá um desalento que faz pensar no seguinte: se esses eram ruins, imaginem aqueles que virão para substituí-los. Claro, se fossem figuras de valor, já teriam sido lembrados antes. Não me ocorre uma reforma do primeiro escalão feita por causa da incompetência na escolha e pela incapacidade de vários ministros andarem em linha reta. Sabe-se de reformas que são realizadas porque os titulares dos ministérios têm pretensões políticas, seja ao Legislativo, seja ao Executivo, ou até mesmo para assumirem outros cargos - como o Tribunal de Contas da União. Mas porque foram flagrados em postura vergonhosa, se servindo do erário, é a primeira vez, caso a memória não esteja me traindo.
A saída de Pedrinho - permitam-me chamá-lo assim, seja pela estatura física, seja pela moral - já era cantada em verso e prosa há tempos. Desde que a Polícia Federal descobriu a roubalheira que corria sob suas barbas, vinha cambaleando - embora, nesse episódio, tivesse uma desculpa: boa parte da bandalheira aconteceu na gestão do seu antecessor, chegadíssimo à senadora Marta Suplicy (PT-SP), que até se escondeu no banheiro para não enfrentar os repórteres e dar explicações sobre o caso.
Só que Pedrinho é um incorrigível. A Folha de S.Paulo mostrou que ele não coçava o bolso para pagar a governanta, tampouco o chofer que servia à madame mulher do ministro. Ou seja, um predador dos cofres públicos, desses que se puderem empurrar para o contribuinte a conta do motelzinho com as mariposas, empurra. Talvez por inspiração de seu mestre e mentor, o senador José Sarney, que há anos privatizou o Maranhão, tornando-o uma enorme e paupérrima propriedade particular.
Pedrinho já era ruim desde a indicação, que foi disputada com faca nos dentes e sangue nos olhos pelo PMDB. Quando o senador Gim Argello (PTB-DF) afirmou, ao Jornal de Brasília - eu estava lá e editei a matéria -, que o Ministério do Turismo seria do seu partido, o que se viu foi uma sessão de pancadas que o obrigaram a se recolher com o rabo entre as pernas. Não que Argello ou o PTB não tivessem merecido, mas porque, no jogo pesado da política, o PMDB queria abocanhar uma pasta altamente irrigada por causa da Copa e da Olimpíada.
A indicação, inclusive, demorou. Até que surgiu esse Pedrinho, tirado do bolso do colete pelo senador Sarney. Deputado veterano, mas do baixo clero, era figura inexpressiva e manteve-se assim mesmo depois que tornou-se titular de um ministério que poderia catapultá-lo. Mas gestão não é o forte do ex-ministro, a não ser quando estão em jogo as finanças próprias. Aí ele se mostra um mestre na arte de explorar o que é de todos.
Some-se a isso o fato que a presidente o recebeu uma única vez. Maior sinal de desprestígio, impossível. Mas, nesse caso, a culpa também é de Dilma, que de nariz tapado o aceitou por injunções políticas. Sabia que Pedrinho era ruim, que era do tipo de empurrar conta de motel para o erário, mas, mesmo assim, o colocou no ministério e tirou ao lado dele a foto oficial.
A culpa maior é sempre de quem escolhe. Ou Dilma vai entoar aquela que se tornou a oração-mor do cinismo? - que não sabia de nada.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Ufa, que morra para sempre!
Ideia de jerico a gente deve deixar sair por onde entrou. A volta da CPMF, com um nome mais bonitinho e de peruca loura, morreu antes mesmo de nascer - para o nosso próprio bem. Quem levantou a proposta é uma questão controversa: A) foi o governo, pelo tanto que teve de ministro defendendo a defendê-la, apesar de o ministro Alexandre Padilha, que é da área, não ter emitido um único pio; B) foram os governadores, temerosos em ter de colocar mais recursos na saúde caso a Emenda 29 seja aprovada - seriam obrigados a tirar de outras rubricas que servem para garantir as trocas políticas; e C) foi a própria presidente Dilma, que reconheceu a necessidade política de todas as frentes em dispor de mais dinheiro para o setor, mas queria fazer a coisa sem parecer que estava quebrando uma promessa de campanha.
Acertou quem marcou opção B. Mesmo assim, como ninguém assumiu a paternidade, naturalmente de olho nas eleições de 2012, e a opinião pública reagiu pessimamente ao balão de ensaio, pelo menos por ora a CPMF com botox e megahair foi arquivada.
Mas, se serve de alerta, o governo pode desistir da ideia não por agora, nem pelo ano que vem, mas definitivamente. Ninguém quer pagar mais imposto, sobretudo pelo caminho tortuoso que costuma fazer. O que vai para a saúde acaba irrigando tudo quanto é campo, menos o da saúde. Enquanto a CPMF vigorou, houve dinheiro de sobra para botar hospitais públicos, centros de saúde e etc. nos eixos. Colocou? Não. O governo dispôs como bem entendeu desses recursos, bancando todo tipo de projeto. Mas não era para a saúde? Em tese, sim, só que todos esquecem que estamos no Brasil e aqui sempre há uma brecha, um jeito, de colocar um trem num apartamento de cobertura.
Nem mesmo para combater a corrupção a CPMF serviu. Corrupto é tudo, menos burro. Ninguém mete a mão em cheque ou deposita em conta, dando ciência do rastro do dinheiro. É grana viva, em pacotes, maços iguais ao da Jaqueline Roriz. Quem permite que o dinheiro seja rastreado é o assalariado, que não se importa com certos segredos, mas quer ver empregado direitinho aquilo que paga de imposto. Ao bandido de colarinho branco taxação não assusta.
Se em 2012 a chance de a CPMF voltar é nula, vão deixar para 2013? É sempre bom lembrar que, para um imposto passar a vigorar, deve haver um hiato de um ano. Quer dizer, se aprovada em 2013, passaria a valer em 2014. Alguém vai correr o risco desse desgaste? Em ano eleitoral mesmo é que ninguém quer colocar a mão em cumbuca, mesmo porque a partir de abril o Congresso praticamente fecha as portas e todos passam a se dedicar às campanhas.
Dilma disse que antes de sair criando imposto primeiramente tem que se administrar melhor a saúde. É verdade: verba de sobra num setor mal gerido é poço sem fundo. Podem empregar o quanto quiserem que o dinheiro jamais será suficiente. O Brasil precisa realmente de gestão, de fazer limonadas doces com limões galegos duros. Já passou da hora de gastar direito.
Mas então por quê Dilma não tirou o porrete e o colocou na mesa, avisando que não descumpriria uma promessa de campanha? Pressões, sobretudo em função da Emenda 29. Os governadores não querem botar mais coisa alguma na saúde de seus estados e ficarem com o caixa menor para gastar com os favores políticos e outras gracinhas. Pressionaram suas bancadas, que pressionaram o Palácio do Planalto, que jogou a bola para a sociedade. Que disse não. Além disso, os governadores se desdobraram em eufemismos e ginásticas mentais para fingir que estavam propondo algo que não eram a CPMF. E não ficarem com a conta, que, claro, nós pagaríamos.
Aí a presidente jogou como se deve: ou é CPMF ou não é nada. Claro, vamos parar de frescura e esperteza de empurrar para outro a conta pelo prejuízo. Por mais que concorde com a iniciativa, o governo não quer (nem pode, nem deve) segurar um rojão desses. O Congresso também, já que muitos ali são candidatos a prefeitos no próximo ano. Ou os governadores diziam que a iniciativa era deles, e todos entravam em conjunto e rateavam o desgaste, ou ficava como está. Melhor assim que o excesso de esperteza trabalhou em favor da sociedade.
O único a defender a CPMF foi Sérgio Cabral (sempre ele!), que de bobo alegre disse que o fim do imposto foi um "crime" contra a população. Que crime, governador? O senhor que aprenda a administrar melhor um estado que lhe deu a reeleição.
Acertou quem marcou opção B. Mesmo assim, como ninguém assumiu a paternidade, naturalmente de olho nas eleições de 2012, e a opinião pública reagiu pessimamente ao balão de ensaio, pelo menos por ora a CPMF com botox e megahair foi arquivada.
Mas, se serve de alerta, o governo pode desistir da ideia não por agora, nem pelo ano que vem, mas definitivamente. Ninguém quer pagar mais imposto, sobretudo pelo caminho tortuoso que costuma fazer. O que vai para a saúde acaba irrigando tudo quanto é campo, menos o da saúde. Enquanto a CPMF vigorou, houve dinheiro de sobra para botar hospitais públicos, centros de saúde e etc. nos eixos. Colocou? Não. O governo dispôs como bem entendeu desses recursos, bancando todo tipo de projeto. Mas não era para a saúde? Em tese, sim, só que todos esquecem que estamos no Brasil e aqui sempre há uma brecha, um jeito, de colocar um trem num apartamento de cobertura.
Nem mesmo para combater a corrupção a CPMF serviu. Corrupto é tudo, menos burro. Ninguém mete a mão em cheque ou deposita em conta, dando ciência do rastro do dinheiro. É grana viva, em pacotes, maços iguais ao da Jaqueline Roriz. Quem permite que o dinheiro seja rastreado é o assalariado, que não se importa com certos segredos, mas quer ver empregado direitinho aquilo que paga de imposto. Ao bandido de colarinho branco taxação não assusta.
Se em 2012 a chance de a CPMF voltar é nula, vão deixar para 2013? É sempre bom lembrar que, para um imposto passar a vigorar, deve haver um hiato de um ano. Quer dizer, se aprovada em 2013, passaria a valer em 2014. Alguém vai correr o risco desse desgaste? Em ano eleitoral mesmo é que ninguém quer colocar a mão em cumbuca, mesmo porque a partir de abril o Congresso praticamente fecha as portas e todos passam a se dedicar às campanhas.
Dilma disse que antes de sair criando imposto primeiramente tem que se administrar melhor a saúde. É verdade: verba de sobra num setor mal gerido é poço sem fundo. Podem empregar o quanto quiserem que o dinheiro jamais será suficiente. O Brasil precisa realmente de gestão, de fazer limonadas doces com limões galegos duros. Já passou da hora de gastar direito.
Mas então por quê Dilma não tirou o porrete e o colocou na mesa, avisando que não descumpriria uma promessa de campanha? Pressões, sobretudo em função da Emenda 29. Os governadores não querem botar mais coisa alguma na saúde de seus estados e ficarem com o caixa menor para gastar com os favores políticos e outras gracinhas. Pressionaram suas bancadas, que pressionaram o Palácio do Planalto, que jogou a bola para a sociedade. Que disse não. Além disso, os governadores se desdobraram em eufemismos e ginásticas mentais para fingir que estavam propondo algo que não eram a CPMF. E não ficarem com a conta, que, claro, nós pagaríamos.
Aí a presidente jogou como se deve: ou é CPMF ou não é nada. Claro, vamos parar de frescura e esperteza de empurrar para outro a conta pelo prejuízo. Por mais que concorde com a iniciativa, o governo não quer (nem pode, nem deve) segurar um rojão desses. O Congresso também, já que muitos ali são candidatos a prefeitos no próximo ano. Ou os governadores diziam que a iniciativa era deles, e todos entravam em conjunto e rateavam o desgaste, ou ficava como está. Melhor assim que o excesso de esperteza trabalhou em favor da sociedade.
O único a defender a CPMF foi Sérgio Cabral (sempre ele!), que de bobo alegre disse que o fim do imposto foi um "crime" contra a população. Que crime, governador? O senhor que aprenda a administrar melhor um estado que lhe deu a reeleição.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Carta a um amigo
No post anterior, falei de um cara sensacional: o Velório. Eduardo era o nome dele e morava perto de mim, na Presidente Baker, coração de Icaraí. Ia sempre à casa dele naquela época em que trocavamos discos, emprestávamos fitas cassete e todos nós estavamos abrindo nossas mentes para o rock. Velório era um cara informado, talvez por estar um ano mais adiantado que eu no colégio. Seu pai, se não me engano, tinha uma charutaria na Visconde de Rio Branco, a "Rua da Praia", no Centro de Niterói. De praia, já naquela época, a rua não tinha nada: era local de comércio popular, popularíssimo, com todos os ônibus que iam para os subúrbios de Niterói e, sobretudo, São Gonçalo, parando de qualquer maneira ao longo do calçadão. E nem sombra de praia ou faixa de areia, já que ali estava a estação das barcas, de água suja de restos jogados pelos passageiros e de diesel vazado dos motores das lanchas. A isso ainda se somava o xixi de muitos que não tinham pudores.
Velório, grande sujeito. Foi na casa dele que conheci o Rush, que então tinha discos editados aqui na surdina. Para variar, no Brasil tudo é uma zona. Naquela época, para que ele completasse a coleção, era preciso comprar o primeiro da banda, simplesmente Rush. Detalhe: o Hemispheres, o sétimo, já tinha sido lançado aqui, um trabalho diametralmente oposto ao orgânico LP de estreia do trio canadense.
Com Velório soube de dois discos do Black Sabbath, até então ignorados por mim: o fabuloso Sabotage e o ótimo Technical ecstasy. Aporrinhei-o até conseguir, à base de troca, esses dois LPs. O Technical ele nem gostava tanto assim e consegui convencê-lo com relativa facilidade, mas o Sabotage eu tive de suar a camisa. Nem lembro o que entrou no negócio, mas não foi fácil, sobretudo porque éramos loucos pela faixa Sympton of the universe. Não os tenho mais, substituídos que foram por edições em CDs. Acho que ambos estão com meu irmão, Leonardo.
Ouvimos Uriah Heep juntos, assim como AC/DC (um colega comum, o Hans, tinha todos os disponíveis no Brasil), Foghat (razão de um terrível mal-entendido entre nós) e Deep Purple, cuja coleção eu começava a encorpar. E muita coisa mais: Grand Funk Railroad, Led Zeppelin, Rainbow, Yes, Emerson, Lake & Palmer... Até mesmo bombas, como Golden Earring - uma estranha banda holandesa, que fazia um rock insosso -, ou Automat - um sub-Kraftwerk italiano, cuja música principal do LP abria o antigo Jornal da Globo -, ou ainda Paul McCartney - lembro que ele tinha o Band on the run -, a gente colocava no 3 em 1 National Panasonic que ele ganhara do pai de presente de Natal. Eu também tinha um da mesma marca, que meu pai importara do Japão, mas que vivia quebrado devido à má qualidade do aparelho.
E as várias fitas cassetes que trocavamos? Eu gravava um monte de coisas de madrugada e, no sábado, passava lá para ouvirmos juntos aquilo que eu e ele conquistávamos em termos sonoros. Tardes regadas a muito Hollywood, que consumíamos em boas proporções. Sem cerveja, só papo, muito papo sobre música.
Tempos ingênuos, tardes generosas. O irmão de Velório, Rafael, era apenas um menino, assim como meu irmão era um pós-bebê. Eu o levava comigo para nossas jornadas sonoras. Leonardo adorava, ficava quietinho, brincando com carrinhos ou só ouvindo música. Já naquela época o garoto estava sendo criado à base de Kansas, Queen, Purple, Zeppelin, Sabbath, Lynyrd Skynyrd, Motorhead, Iron Maiden e uma porrada de outras coisas.
A vida nos levou para longe. Ainda estudante, lembro que Velório foi trabalhar no banco Bamerindus, cuja agência era pegada ao Plaza Shopping, no Centro de Niterói, em frente à extinta megaloja da Mesbla. Eu fui estudar no Rio, era tempo de pré-vestibular. Para nos separar, um disco do importado Foghat, que eu detestava - e troquei com ele -, nos deixou estremecidos. Nos encontramos algumas vezes depois disso, mas foi uma coisa meio sem graça, da minha parte e da dele. Enfim, vida que segue.
Escrevendo sobre música, revendo minhas memórias, reencontrei o Velório e seu rosto de semplante tristonho, mas que não justificava o maldoso apelido colocado pela rapaziada do São Vicente de Paulo. Grande cara. Sempre foi. Um amigão. E esteja onde estiver, receba um abraço desse amigo saudoso daquelas tardes e daqueles papos.
Velório, grande sujeito. Foi na casa dele que conheci o Rush, que então tinha discos editados aqui na surdina. Para variar, no Brasil tudo é uma zona. Naquela época, para que ele completasse a coleção, era preciso comprar o primeiro da banda, simplesmente Rush. Detalhe: o Hemispheres, o sétimo, já tinha sido lançado aqui, um trabalho diametralmente oposto ao orgânico LP de estreia do trio canadense.
Com Velório soube de dois discos do Black Sabbath, até então ignorados por mim: o fabuloso Sabotage e o ótimo Technical ecstasy. Aporrinhei-o até conseguir, à base de troca, esses dois LPs. O Technical ele nem gostava tanto assim e consegui convencê-lo com relativa facilidade, mas o Sabotage eu tive de suar a camisa. Nem lembro o que entrou no negócio, mas não foi fácil, sobretudo porque éramos loucos pela faixa Sympton of the universe. Não os tenho mais, substituídos que foram por edições em CDs. Acho que ambos estão com meu irmão, Leonardo.
Ouvimos Uriah Heep juntos, assim como AC/DC (um colega comum, o Hans, tinha todos os disponíveis no Brasil), Foghat (razão de um terrível mal-entendido entre nós) e Deep Purple, cuja coleção eu começava a encorpar. E muita coisa mais: Grand Funk Railroad, Led Zeppelin, Rainbow, Yes, Emerson, Lake & Palmer... Até mesmo bombas, como Golden Earring - uma estranha banda holandesa, que fazia um rock insosso -, ou Automat - um sub-Kraftwerk italiano, cuja música principal do LP abria o antigo Jornal da Globo -, ou ainda Paul McCartney - lembro que ele tinha o Band on the run -, a gente colocava no 3 em 1 National Panasonic que ele ganhara do pai de presente de Natal. Eu também tinha um da mesma marca, que meu pai importara do Japão, mas que vivia quebrado devido à má qualidade do aparelho.
E as várias fitas cassetes que trocavamos? Eu gravava um monte de coisas de madrugada e, no sábado, passava lá para ouvirmos juntos aquilo que eu e ele conquistávamos em termos sonoros. Tardes regadas a muito Hollywood, que consumíamos em boas proporções. Sem cerveja, só papo, muito papo sobre música.
Tempos ingênuos, tardes generosas. O irmão de Velório, Rafael, era apenas um menino, assim como meu irmão era um pós-bebê. Eu o levava comigo para nossas jornadas sonoras. Leonardo adorava, ficava quietinho, brincando com carrinhos ou só ouvindo música. Já naquela época o garoto estava sendo criado à base de Kansas, Queen, Purple, Zeppelin, Sabbath, Lynyrd Skynyrd, Motorhead, Iron Maiden e uma porrada de outras coisas.
A vida nos levou para longe. Ainda estudante, lembro que Velório foi trabalhar no banco Bamerindus, cuja agência era pegada ao Plaza Shopping, no Centro de Niterói, em frente à extinta megaloja da Mesbla. Eu fui estudar no Rio, era tempo de pré-vestibular. Para nos separar, um disco do importado Foghat, que eu detestava - e troquei com ele -, nos deixou estremecidos. Nos encontramos algumas vezes depois disso, mas foi uma coisa meio sem graça, da minha parte e da dele. Enfim, vida que segue.
Escrevendo sobre música, revendo minhas memórias, reencontrei o Velório e seu rosto de semplante tristonho, mas que não justificava o maldoso apelido colocado pela rapaziada do São Vicente de Paulo. Grande cara. Sempre foi. Um amigão. E esteja onde estiver, receba um abraço desse amigo saudoso daquelas tardes e daqueles papos.
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Sons para se ouvir no carro VI
Há muitos anos, nas tardes de sábado, eu ia para a casa de um amigo, o Velório, ouvir um programa de rock que existia na antiga Rádio 98, no Rio de Janeiro. A 98 era herdeira direta da antiga Eldopop, que velhuscos saudosistas como eu até hoje enchem a boca para homenagear. O programa, creio, era das 3 às 4 da tarde e foi nele que ouvi, pela primeira vez, Stone dead forever, um porradão do Motorhead que curto até hoje, 30 anos depois.
Mas o som que ouço agora no carro começou com um susto. Assim: a guitarra fazia dueto com uma voz rouca, cheia de trejeitos e todo o tempo praguejando. Até que a voz desaparecia. Fazia-se um breve silêncio até que BROOOM-UOOOOON-UEMMMMMM-ROOOOOOOM-ZIIIIIIIIUUUUUUU (essa é minha interpretação onomatopeica para as notas gordas que eram tiradas)... e fechava, com o prato e o baixo, para que imediatamente começasse um solo alucinado. As palhetadas eram velocíssimas, os dedos voavam pelo braço da guitarra.
"Porra, Velório, que som é esse?"
"Sei lá, vamos ver se o locutor anuncia".
E anunciou. "Van Halen, Everybody wants some". Caraca, o Van Halen tinha se superado em matéria de peso e esporro. Não preciso nem dizer que, nas semanas seguintes, depois de passar fome no colégio, lá estava eu com minha edição do LP Women and children first, o terceiro da banda. Como comprei uma das primeiras prensagens no Brasil, tive direito a um pôster de David Lee Roth, o cara da voz rouca, numa pose supergay, de joelhos e com as mãos amarradas por correntes a uma grade. O pôster dei para minha irmã, que, evidentemente, o perdeu. (Quanto não deve estar valendo essa edição hoje...)
Voltando ao LP. Ainda hoje não o considero melhor que o Van Halen I, que pode ser considerado, no mínimo, histórico. Women é um bom disco, melhor que o VH II, que decepcionou muita gente, inclusive a mim. Mas, ouvindo-o agora com ouvidos mais apurados, trata-se de um trabalho cheio de erros, só que com o pecado de ser pretensioso. As grosserias que fazem de VH I um clássico, com sua produção raçuda e semi-tosca - algo deliberadamente traçado por Ted Templeman e Don Landee, que já haviam trabalhado com outros megaartistas, como The Doobie Brothers -, nesse Women parecem desleixo. Parecem a necessidade de corrigir rápido um erro, tal como foi VH II.
Têm execelentes faixas, como Everybody wants some, ou Tora, Tora, ou Take your whisley home. Loss control ou Romeo delight também são estupendas, mas o disco abre em marcha lenta com And the craddle will rock. Ainda que a intenção fosse dar um ar de crescendo ao LP, se já começasse com um porradão, quebrava aquela impressão inicial de que se arrastaria por um rock pouco inspirado, como o de abertura.
Mas não é somente isso. Já ali o Van Halen começava a delirar com faixas como Could this be magic?, acústica e que serve somente para que Roth possa mostrar seu conhecimento do cancioneiro popular norte-americano. A partir disso, os discos do VH passam a mostrar algo do gênero, que pode ser até um exercício de bom-humor e criatividade para alguns, mas para muitos - como eu - são apenas desperdício de espaço e de vinil. São músicas que se fossem suprimidas dos LPs não fariam falta alguma.
Em Women, o VH também assume ares de grande banda, agregando elementos que tiraram a graça e a agressividade inicial do quarteto. Isso fica claro na capa e na contracapa, com Eddie Van Halen segurando uma Kramer feita especialmente segundo suas especificações. Para quem passou a sonhar com aquelas Fender Stratocaster mexidas pelo então pouco conhecido John Suhr, que podem ser vistas nos dois primeiros trabalhos, a troca pareceu um sacrilégio. "Onze entre dez" guitarristas queriam uma Fender daquelas, com aquele som que ninguém nem nenhum guitarrista conseguia reproduzir.
Continuo recomendando: Women não é um disco ruim, muito ao contrário. Ele custa a engatar e talvez seja isso que irrite. É um trabalho que, se um marciano chegasse hoje à terra e quisesse conhecer algo do van Halen, poderia não agradar. Infalível continua sendo o VH I. O VH II é controverso. Já Fair warning, Diver down ou 1984 é para quem já não se assusta mais com o Van Halen.
E evitem sempre conhecer a banda já na fase Sammy Hagar. Pode ser antipatia à primeira vista.
Mas o som que ouço agora no carro começou com um susto. Assim: a guitarra fazia dueto com uma voz rouca, cheia de trejeitos e todo o tempo praguejando. Até que a voz desaparecia. Fazia-se um breve silêncio até que BROOOM-UOOOOON-UEMMMMMM-ROOOOOOOM-ZIIIIIIIIUUUUUUU (essa é minha interpretação onomatopeica para as notas gordas que eram tiradas)... e fechava, com o prato e o baixo, para que imediatamente começasse um solo alucinado. As palhetadas eram velocíssimas, os dedos voavam pelo braço da guitarra.
"Porra, Velório, que som é esse?"
"Sei lá, vamos ver se o locutor anuncia".
E anunciou. "Van Halen, Everybody wants some". Caraca, o Van Halen tinha se superado em matéria de peso e esporro. Não preciso nem dizer que, nas semanas seguintes, depois de passar fome no colégio, lá estava eu com minha edição do LP Women and children first, o terceiro da banda. Como comprei uma das primeiras prensagens no Brasil, tive direito a um pôster de David Lee Roth, o cara da voz rouca, numa pose supergay, de joelhos e com as mãos amarradas por correntes a uma grade. O pôster dei para minha irmã, que, evidentemente, o perdeu. (Quanto não deve estar valendo essa edição hoje...)
Voltando ao LP. Ainda hoje não o considero melhor que o Van Halen I, que pode ser considerado, no mínimo, histórico. Women é um bom disco, melhor que o VH II, que decepcionou muita gente, inclusive a mim. Mas, ouvindo-o agora com ouvidos mais apurados, trata-se de um trabalho cheio de erros, só que com o pecado de ser pretensioso. As grosserias que fazem de VH I um clássico, com sua produção raçuda e semi-tosca - algo deliberadamente traçado por Ted Templeman e Don Landee, que já haviam trabalhado com outros megaartistas, como The Doobie Brothers -, nesse Women parecem desleixo. Parecem a necessidade de corrigir rápido um erro, tal como foi VH II.
Têm execelentes faixas, como Everybody wants some, ou Tora, Tora, ou Take your whisley home. Loss control ou Romeo delight também são estupendas, mas o disco abre em marcha lenta com And the craddle will rock. Ainda que a intenção fosse dar um ar de crescendo ao LP, se já começasse com um porradão, quebrava aquela impressão inicial de que se arrastaria por um rock pouco inspirado, como o de abertura.
Mas não é somente isso. Já ali o Van Halen começava a delirar com faixas como Could this be magic?, acústica e que serve somente para que Roth possa mostrar seu conhecimento do cancioneiro popular norte-americano. A partir disso, os discos do VH passam a mostrar algo do gênero, que pode ser até um exercício de bom-humor e criatividade para alguns, mas para muitos - como eu - são apenas desperdício de espaço e de vinil. São músicas que se fossem suprimidas dos LPs não fariam falta alguma.
Em Women, o VH também assume ares de grande banda, agregando elementos que tiraram a graça e a agressividade inicial do quarteto. Isso fica claro na capa e na contracapa, com Eddie Van Halen segurando uma Kramer feita especialmente segundo suas especificações. Para quem passou a sonhar com aquelas Fender Stratocaster mexidas pelo então pouco conhecido John Suhr, que podem ser vistas nos dois primeiros trabalhos, a troca pareceu um sacrilégio. "Onze entre dez" guitarristas queriam uma Fender daquelas, com aquele som que ninguém nem nenhum guitarrista conseguia reproduzir.
Continuo recomendando: Women não é um disco ruim, muito ao contrário. Ele custa a engatar e talvez seja isso que irrite. É um trabalho que, se um marciano chegasse hoje à terra e quisesse conhecer algo do van Halen, poderia não agradar. Infalível continua sendo o VH I. O VH II é controverso. Já Fair warning, Diver down ou 1984 é para quem já não se assusta mais com o Van Halen.
E evitem sempre conhecer a banda já na fase Sammy Hagar. Pode ser antipatia à primeira vista.
Guerra de guerrilha
Estar dentro de um órgão público é um exercício político muito interessante. Sobretudo quando começam a surgir na imprensa "recados", "notas", todas visivelmente plantadas e com a única intenção de desestabilizar o comandante desse mesmo órgão público. A má-fé de alguns veículos, seja porque se comprazem com o jornalismo especulativo, seja porque assumiram uma postura anti-governo pautada na mais absoluta cegueira, apenas ressalta o contorno de uma imprensa de segunda categoria. É aquela história: os caras ouvem o galo cantar não sabem onde, compram a primeira versão, fazem a fofoca e acham que isso é jornalismo, reportagem ou coisa que o valha.
Não, não mudei de posição. Da mesma forma que critico esse tipo de imprensa, ataco a imobilidade do órgão público, que, mastodôntico, perde tempo precioso deixando que a versão errada se consolide e vire verdade. Arrancar uma resposta, assertiva, rápida, direta, é um jogo de cautelas e medos difícil de entender. A coisa somente anda um pouquinho mais rápido quando tem cheiro de crise ou de articulação, que envolve mais de um jornal, que se deixam saborosamente aprisionar por supostas fontes. Aí o órgão público até se movimenta, mas com a agilidade de uma baleia - fora d'água!
Toda essa peroração aqui é por causa da mais rasteira política partidária, ou melhor, futrica partidária. A secretária chegou ao órgão público com ares de que seria a futura titular, num momento em que a titular jogava mal, chutando bolas para fora e deixando possibilidades de críticas por todos os lados. Também, pudera: o que foi fazer no Rio de Janeiro com dinheiro público e sem agenda clara? Pediu...
A secretária é ambiciosa e, como toda suposta gestora pública, tenha um palavrório impressionante, que dificilmente se traduz em ação concreta. Fala com aqueles jargões sociológicos e psicológicos típicos de quem leu direitinho as inúmeras teorias da comunicação, que têm muito de teoria e pouco de comunicação. É tida como intelectual e consegue mascarar bem a ignorância com uma militância partidária intensa, sem contar uma conexão com ONGs e outros grupos sociais tão caros a esse tipo de figura. É uma "agitadora", para usar um jargão carioca. Frequenta favelas (perdão, comunidades), dá a maior força para grupos que se formam para, evidentemente, levarem aquela voz para outras seções da sociedade e da opinião pública. Ou seja, a secretária é "gente finíssima", "pedra 90".
Já a titular do órgão público é uma figura frágil, de tradicional família intelectual. Não é a de maior destaque, que fica para o pai, o irmão mais velho e uma irmã que chegou a ter carreira internacional. Caçulinha, é boa menina desde sempre, profissional de dotes limitados na lida que abraçou. Mas, por conta das conexões políticas, chegou a um posto que desde muito vem sendo cobiçado por uma deputada e outros grupos político-partidários.
A secretária, por causa da ambição e das conexões na legenda à qual pertence, começa a enfrentar abertamente a titular do cargo. Claro, não está sozinha na aventura de criar saias-justas e factóides. Quanto mais, melhor, pois expõe a fraqueza da titular e a pouquíssima velocidade da máquina do orgão público em responder às ameaças que surgem pela imprensa. Nessa briga de quem pode mais, a secretária passa à condição de ex. E empreende uma verdadeira guerra de guerrilha por meio de jornalistas amigos, alguns mau intencionados, outro apenas ingênuos. Só que ambos servem de amplificador para uma guerra intestina.
Dentro do órgão público, a ex-secretária deixou um passivo de maus relacionamentos e trabalho de eficiência duvidosa. Mas, como transita bem no partido, expõe uma mal escrita carta aberta em perfil num desses instrumentos de rede social, que os cupinchas fazem questão de fazer circular. Utilizam para isso uma ferramenta formidável, o Tuíter, que é uma espécie de rádio de todo mundo: a pessoa fala a bobagem que quiser, por sua conta e risco, e replica aquilo que mais lhe convém, até mesmo mentiras. Exceto os verdadeiros veículos de imprensa, os demais não têm qualquer responsabilidade ou compromisso com a informação correta.
Eis aí um caldo interessante. A ex-secretária ambiciosa, turbinada por um grupo político, assume um estilo de bater e correr pelas redes sociais numa titular de órgão público conhecida por uma doçura que se mistura a uma certa ingenuidade política. De um lado, a estrutura vietcongue contra o gigante lento, obeso, que além de não saber criar agendas positivas, também não sabe agir rápido na contenção de crises fabricadas. O desgaste causado por essa estratégia, com os canais de que dispõe a ex-secretária, lhe são amplamente favoráveis. Pode não se beneficiar diretamente deles, mas consegue solapar a titular do órgão público, consolidando-lhe a má imagem. Não ganha, mas não deixa a outra ganhar.
Um empate com sabor de vitória.
Não, não mudei de posição. Da mesma forma que critico esse tipo de imprensa, ataco a imobilidade do órgão público, que, mastodôntico, perde tempo precioso deixando que a versão errada se consolide e vire verdade. Arrancar uma resposta, assertiva, rápida, direta, é um jogo de cautelas e medos difícil de entender. A coisa somente anda um pouquinho mais rápido quando tem cheiro de crise ou de articulação, que envolve mais de um jornal, que se deixam saborosamente aprisionar por supostas fontes. Aí o órgão público até se movimenta, mas com a agilidade de uma baleia - fora d'água!
Toda essa peroração aqui é por causa da mais rasteira política partidária, ou melhor, futrica partidária. A secretária chegou ao órgão público com ares de que seria a futura titular, num momento em que a titular jogava mal, chutando bolas para fora e deixando possibilidades de críticas por todos os lados. Também, pudera: o que foi fazer no Rio de Janeiro com dinheiro público e sem agenda clara? Pediu...
A secretária é ambiciosa e, como toda suposta gestora pública, tenha um palavrório impressionante, que dificilmente se traduz em ação concreta. Fala com aqueles jargões sociológicos e psicológicos típicos de quem leu direitinho as inúmeras teorias da comunicação, que têm muito de teoria e pouco de comunicação. É tida como intelectual e consegue mascarar bem a ignorância com uma militância partidária intensa, sem contar uma conexão com ONGs e outros grupos sociais tão caros a esse tipo de figura. É uma "agitadora", para usar um jargão carioca. Frequenta favelas (perdão, comunidades), dá a maior força para grupos que se formam para, evidentemente, levarem aquela voz para outras seções da sociedade e da opinião pública. Ou seja, a secretária é "gente finíssima", "pedra 90".
Já a titular do órgão público é uma figura frágil, de tradicional família intelectual. Não é a de maior destaque, que fica para o pai, o irmão mais velho e uma irmã que chegou a ter carreira internacional. Caçulinha, é boa menina desde sempre, profissional de dotes limitados na lida que abraçou. Mas, por conta das conexões políticas, chegou a um posto que desde muito vem sendo cobiçado por uma deputada e outros grupos político-partidários.
A secretária, por causa da ambição e das conexões na legenda à qual pertence, começa a enfrentar abertamente a titular do cargo. Claro, não está sozinha na aventura de criar saias-justas e factóides. Quanto mais, melhor, pois expõe a fraqueza da titular e a pouquíssima velocidade da máquina do orgão público em responder às ameaças que surgem pela imprensa. Nessa briga de quem pode mais, a secretária passa à condição de ex. E empreende uma verdadeira guerra de guerrilha por meio de jornalistas amigos, alguns mau intencionados, outro apenas ingênuos. Só que ambos servem de amplificador para uma guerra intestina.
Dentro do órgão público, a ex-secretária deixou um passivo de maus relacionamentos e trabalho de eficiência duvidosa. Mas, como transita bem no partido, expõe uma mal escrita carta aberta em perfil num desses instrumentos de rede social, que os cupinchas fazem questão de fazer circular. Utilizam para isso uma ferramenta formidável, o Tuíter, que é uma espécie de rádio de todo mundo: a pessoa fala a bobagem que quiser, por sua conta e risco, e replica aquilo que mais lhe convém, até mesmo mentiras. Exceto os verdadeiros veículos de imprensa, os demais não têm qualquer responsabilidade ou compromisso com a informação correta.
Eis aí um caldo interessante. A ex-secretária ambiciosa, turbinada por um grupo político, assume um estilo de bater e correr pelas redes sociais numa titular de órgão público conhecida por uma doçura que se mistura a uma certa ingenuidade política. De um lado, a estrutura vietcongue contra o gigante lento, obeso, que além de não saber criar agendas positivas, também não sabe agir rápido na contenção de crises fabricadas. O desgaste causado por essa estratégia, com os canais de que dispõe a ex-secretária, lhe são amplamente favoráveis. Pode não se beneficiar diretamente deles, mas consegue solapar a titular do órgão público, consolidando-lhe a má imagem. Não ganha, mas não deixa a outra ganhar.
Um empate com sabor de vitória.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Depois da Belíndia, o Subábue
O que é a Emenda 29? Simples. Se regulamentada, obriga os governadores a alocarem mais recursos na saúde. O que isso quer dizer? Se um governo estadual põe 10%, digamos, da sua receita líquida no setor, será obrigado a botar 15%. E de onde sai esse dinheiro? De outras rubricas. É só diminuir, por exemplo, gastos como os repasses ao Legislativo, contratações de apadrinhados políticos ou compras desnecessárias das administrações estaduais.
E o que está acontecendo? Eles não querem mudar um único centavo de lugar. Querem deixar como está e obrigar o governo federal a inventar mais um imposto para bancar a esperteza e a incompetência dos governadores. Chegaram a elaborar uma nota dizendo que é preciso mais recursos para a saúde, desde que o cidadão seja obrigado a contribuir com isso. É um crime, para dizer o máximo. É cinismo, para dizer o mínimo.
Sérgio Cabral Filho, que não é exemplo de gestão - afinal, gestão pressupõe eficiência -, disse que o fim da CPMF foi um golpe contra a população. Se não disse isso, quis dizer isso. Se eu soubesse antes, teria levado minhas contas para ele pagar. Faz cortesia com o chapéu alheio, com o nosso chapéu. É um brincalhão e é um dos maiores defensores de um novo imposto sobre o cangote do cidadão-contribuinte-eleitor.
A presidente Dilma assumiu um compromisso: o de não aumentar impostos. Disse isso durante a campanha e jogou para seu adversário, José Serra, a impressão de que ele, sim, defendia carga tributária maior. Como tudo grudava na careca do tucano, levou dias se explicando, enquanto Lula e o PT serviam como faróis da população na selva inóspita dos impostos. Dilma, porém, vem sendo pressionada e, dependendo dos interesses em jogo para as eleições de 2012, cederá.
O Congresso faz jogo duplo. Às vezes quer nova taxação, às vezes não. Testa a temperatura do eleitorado, que, é claro, é quente quando se trata de bancar algo cujo resultado continuará sendo abaixo da crítica. Dilma ainda tentou amenizar, dizendo que aceitaria a criação de um novo tributo, mas que não funcionasse nos moldes da antiga CPMF. Presidente: o brasileiro não quer imposto de forma alguma, nem que seja bem empregado. Já se disse que temos carga de Suécia e aplicação de Zimbábue. O Brasil já foi Belíndia, custos de Bélgica e serviços de Índia. Chegou o momento de sermos o Subábue.
Para Dilma, mais impostos representam um prego extra na sua popularidade. A presidente claudicou no caso Palocci, redimiu-se no de Alfredo Nascimento, consolidou-se no de Wagner Rossi, mas voltou a patinar no de Pedro Novais. Sua popularidade está no patamar de 60% do eleitorado. Com um novo imposto, a pretexto de bancar os gastos (que poderiam ser gatos) com a Saúde, tem tudo para chegar ao final do primeiro ano de governo com percepção abaixo dos 50%.
Péssimo. E comprometedor.
E o que está acontecendo? Eles não querem mudar um único centavo de lugar. Querem deixar como está e obrigar o governo federal a inventar mais um imposto para bancar a esperteza e a incompetência dos governadores. Chegaram a elaborar uma nota dizendo que é preciso mais recursos para a saúde, desde que o cidadão seja obrigado a contribuir com isso. É um crime, para dizer o máximo. É cinismo, para dizer o mínimo.
Sérgio Cabral Filho, que não é exemplo de gestão - afinal, gestão pressupõe eficiência -, disse que o fim da CPMF foi um golpe contra a população. Se não disse isso, quis dizer isso. Se eu soubesse antes, teria levado minhas contas para ele pagar. Faz cortesia com o chapéu alheio, com o nosso chapéu. É um brincalhão e é um dos maiores defensores de um novo imposto sobre o cangote do cidadão-contribuinte-eleitor.
A presidente Dilma assumiu um compromisso: o de não aumentar impostos. Disse isso durante a campanha e jogou para seu adversário, José Serra, a impressão de que ele, sim, defendia carga tributária maior. Como tudo grudava na careca do tucano, levou dias se explicando, enquanto Lula e o PT serviam como faróis da população na selva inóspita dos impostos. Dilma, porém, vem sendo pressionada e, dependendo dos interesses em jogo para as eleições de 2012, cederá.
O Congresso faz jogo duplo. Às vezes quer nova taxação, às vezes não. Testa a temperatura do eleitorado, que, é claro, é quente quando se trata de bancar algo cujo resultado continuará sendo abaixo da crítica. Dilma ainda tentou amenizar, dizendo que aceitaria a criação de um novo tributo, mas que não funcionasse nos moldes da antiga CPMF. Presidente: o brasileiro não quer imposto de forma alguma, nem que seja bem empregado. Já se disse que temos carga de Suécia e aplicação de Zimbábue. O Brasil já foi Belíndia, custos de Bélgica e serviços de Índia. Chegou o momento de sermos o Subábue.
Para Dilma, mais impostos representam um prego extra na sua popularidade. A presidente claudicou no caso Palocci, redimiu-se no de Alfredo Nascimento, consolidou-se no de Wagner Rossi, mas voltou a patinar no de Pedro Novais. Sua popularidade está no patamar de 60% do eleitorado. Com um novo imposto, a pretexto de bancar os gastos (que poderiam ser gatos) com a Saúde, tem tudo para chegar ao final do primeiro ano de governo com percepção abaixo dos 50%.
Péssimo. E comprometedor.
Sons para se ouvir no carro V
A gente vai ficando velho e vai admitindo um monte de coisas. Quando eu era mais garoto, não podia sequer me imaginar ouvindo Earth, Wind & Fire. Achava que eles eram a expressão da discoteca mais rastaquera, que acreditava ser música de péssima qualidade. Que bobagem! Fui vendo que os caras tocam pra caramba e que gosto não tem nada a ver com técnica. Resultado dessa minha mudança: adquiri vários discos do EW&F e digo sem medo de errar que eles são excelentes, dos arranjos ao domínio de cada um sobre seu instrumento.
Estou ouvindo um CD chamado "Greatest Hits Live", de 1996. Achei-o perdido numa mesa da redação do Jornal de Brasília, procurei seu dono e ninguém se apresentou. É um CD original, mas carecia da capa, que só descobri agora como é. Improvisei uma para que o bichinho, enjeitado, não tentasse o suicídio. É um discaço, com poucas passagens pelo gênero disco. O funk do EW&F dá a direção, o que quer dizer que o pau quebra todo o tempo.
Maurice White está à frente da banda, mandando ver nos vocais e na kalimba (um instrumentinho africano com teclas de metal), que ele usa em apenas uma música. Verdine, seu irmão, é o alicerce da banda, com seu baixo onipresente. Por ser negrão, poderia se imaginar que buscasse o protagonismo no instrumento, tal como Larry Graham (do Graham Central Station) ou Louis Johnson (do Brothers Johnson), dois dos maiores baixistas do funk. Verdine, porém, joga para o time, embora destile um domínio impecável das quadro cordas.
Como não tenho a capa original, não conseguiria dizer quem forma o restante da banda. Mas alguns caras se sobressaem, como o cantor e percussionista Phillip Bailey (com sua voz feminina), o baterista Sonny Emory (um craque das baquetas) e o sax alto de Scott Mayo (e seus agudíssimos). Com todo o perfeccionismo de times como esses, nem é preciso dizer que os demais são músicos de primeira linha.
Para quem acha que o repertório do EW&F é somente "September" ou "Boogie wonderland", com seus violinos de sintetizador, erra redondamente. Há grandes canções, como "Sun goddess", de autoria de Ramsey Lewis, e "That's the way of the world", que pertencem a trabalhos anteriores à época disco. Também têm baladas encantadoras, como "Reasons", na qual Bailey dá um show de vocal.
Não conseguiria dizer se este "Greatest hits Live" é melhor que "That's the way of the world - Live in 1975", que foi lançado há poucos anos pela Sony Legacy. Ambos são excelentes, embora o mais antigo seja funk e o recente tenha forte acento pop. De qualquer maneira, este trabalho de 1996 mostra o EW&F em forma grandiosa.
Se tivesse de dar uma nota, daria 10 tranquilamente. É um registro gostoso, que vale a pena, desta que é uma das grandes bandas de funk de todos os tempos. Menos louca que o Parliament Funkadelic, menos pop do que poderia se imaginar, mas com um balanço irresistível. E uma técnica avassaladora.
Estou ouvindo um CD chamado "Greatest Hits Live", de 1996. Achei-o perdido numa mesa da redação do Jornal de Brasília, procurei seu dono e ninguém se apresentou. É um CD original, mas carecia da capa, que só descobri agora como é. Improvisei uma para que o bichinho, enjeitado, não tentasse o suicídio. É um discaço, com poucas passagens pelo gênero disco. O funk do EW&F dá a direção, o que quer dizer que o pau quebra todo o tempo.
Maurice White está à frente da banda, mandando ver nos vocais e na kalimba (um instrumentinho africano com teclas de metal), que ele usa em apenas uma música. Verdine, seu irmão, é o alicerce da banda, com seu baixo onipresente. Por ser negrão, poderia se imaginar que buscasse o protagonismo no instrumento, tal como Larry Graham (do Graham Central Station) ou Louis Johnson (do Brothers Johnson), dois dos maiores baixistas do funk. Verdine, porém, joga para o time, embora destile um domínio impecável das quadro cordas.
Como não tenho a capa original, não conseguiria dizer quem forma o restante da banda. Mas alguns caras se sobressaem, como o cantor e percussionista Phillip Bailey (com sua voz feminina), o baterista Sonny Emory (um craque das baquetas) e o sax alto de Scott Mayo (e seus agudíssimos). Com todo o perfeccionismo de times como esses, nem é preciso dizer que os demais são músicos de primeira linha.
Para quem acha que o repertório do EW&F é somente "September" ou "Boogie wonderland", com seus violinos de sintetizador, erra redondamente. Há grandes canções, como "Sun goddess", de autoria de Ramsey Lewis, e "That's the way of the world", que pertencem a trabalhos anteriores à época disco. Também têm baladas encantadoras, como "Reasons", na qual Bailey dá um show de vocal.
Não conseguiria dizer se este "Greatest hits Live" é melhor que "That's the way of the world - Live in 1975", que foi lançado há poucos anos pela Sony Legacy. Ambos são excelentes, embora o mais antigo seja funk e o recente tenha forte acento pop. De qualquer maneira, este trabalho de 1996 mostra o EW&F em forma grandiosa.
Se tivesse de dar uma nota, daria 10 tranquilamente. É um registro gostoso, que vale a pena, desta que é uma das grandes bandas de funk de todos os tempos. Menos louca que o Parliament Funkadelic, menos pop do que poderia se imaginar, mas com um balanço irresistível. E uma técnica avassaladora.
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sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Sons para se ouvir no carro IV
Geralmente tenho mais de um CD no carro. Além daquele do remendado Thin Lizzy de que falei anteriormente, trago outro, este do baixista Jack Bruce: "Live in America".
Poderíamos atribuir à edição brasileira a pobreza do material, mas não seria correto. O CD já sai ruim da matriz, um desses bilhões de selos pequenos que editam trabalhos sem se preocupar muito com informações técnicas, qualidade do som e apresentação. Pior de tudo é que conta com a aquiescência do artista, nesse caso demonstrando pouco interesse pela própria obra.
"Live in America" começa mal. Não há qualquer menção ao início do show. Aquele tradicional "Ladies and gentlemen, please welcome...", nem pensar. Já entra com a voz de Bruce cantando e, pelo que se percebe logo de cara, numa fita retirada da mesa de som. Fica nítido quando a banda entra, pela falta de peso, de divisão do estéreo. Parece incrível, mas ainda há quem edite discos assim. É um pirata oficializado.
A banda, ah!, a banda. Tirando Bruce, que canta e toca o baixo, o restante do time é Clem Clempson (guitarra), David Sancious (teclados) e Billy Cobham (bateria). Como se vê, somente craques de bola, com fluência nas linguagens do rock, do jazz e do fusion. Não chega a ser algo inusitado, já que Bruce e Cobham, por exemplo, se cruzaram em discos de John McLaughlin e de Mose Allison.
Mas como se descobre que são esses quatro? Escutando atentamente às apresentações que Bruce faz, no intervalo de cada música. Ouve-se ainda uma segunda guitarra, que é de... Sancious. Não tinha a menor ideia de que ele também brincava nas seis cordas. E se sai muitíssimo bem, em alguns momento rivalizando com Clempson, que é um especialista na matéria. Nada disso está na ficha técnica, que, aliás, inexiste.
(Um parêntese para falar de Clem Clempson. É desse músicos subestimados, mas muito apreciado por quem realmente entende do assunto. Na época do Colosseum, uma banda que era abertamente de fusion, integrava-se a um time composto só de craques - Dick Hackstall-Smith, David Greenslade, Jon Hisemann, Chris Farlowe e Mark Clarke. Quando se juntou ao Humble Pie, muita gente achou que seria somente para substituir o bonitinho [na época] e talentoso Peter Frampton. Clempson, porém, fez mais, apesar da personalidade forte de Steve Marriott. Discos como "Smokin" ou "Thunderbox" merecem ser ouvidos com imenso carinho.
Fico imaginando se Clempson tivesse entrado no Deep Purple, com a saída de Ritchie Blackmore. Jon Lord mesmo disse que o guitarrista não se adaptou à banda, abrindo a chance para Tommy Bolin. Permitiu o pulo do gato de Bolin, que levou seu estilo totalmente diferente de Blackmore e fez um trabalho único. Talvez tenha sido esse o erro de Clempson: tentar calçar as sandálias do antecessor.)
Quem não se incomodar com a má qualidade sonora, vai ouvir boas versões para clássicos do Cream e sucessos da banda, além de números da carreira-solo de Bruce. Tem espaço para tudo, do rock pesado ao reggae, passando pela fusão com o jazz. Os quatro estão em excelente forma.
O disco foi gravado em algum lugar dos Estados Unidos e se as versões para as canções do Cream ("White room", "Traintime", "Politician") seguem a fórmula original, bem como as demais, há pelo menos uma novidade: "Theme from an imaginary western". Embora seja de Bruce e seu parceiro Pete Brown, fez parte do repertório do Mountain, banda com a qual o baixista mantinha ligação fraternal.
Na capa, um belo baixo Epiphone modelo SG, igual ao Gibson que Bruce usava. Mas isso não a faz bonita. O disco tem o quê de improviso que incomoda e não vale os R$ 20,00 que provavelmente custam por aí. Minha edição ganhei do amigo Guilherme Lobão, um conhecedor de música e cinema, com o qual sempre tive excelentes papos. Não compraria "Live in America" se o encontrasse nas minhas andanças, a menos que estivesse baratíssimo. E pelos motivos que listei.
Mas já que tenho, o melhor é ouvi-lo. E isso não dói nada.
Poderíamos atribuir à edição brasileira a pobreza do material, mas não seria correto. O CD já sai ruim da matriz, um desses bilhões de selos pequenos que editam trabalhos sem se preocupar muito com informações técnicas, qualidade do som e apresentação. Pior de tudo é que conta com a aquiescência do artista, nesse caso demonstrando pouco interesse pela própria obra.
"Live in America" começa mal. Não há qualquer menção ao início do show. Aquele tradicional "Ladies and gentlemen, please welcome...", nem pensar. Já entra com a voz de Bruce cantando e, pelo que se percebe logo de cara, numa fita retirada da mesa de som. Fica nítido quando a banda entra, pela falta de peso, de divisão do estéreo. Parece incrível, mas ainda há quem edite discos assim. É um pirata oficializado.
A banda, ah!, a banda. Tirando Bruce, que canta e toca o baixo, o restante do time é Clem Clempson (guitarra), David Sancious (teclados) e Billy Cobham (bateria). Como se vê, somente craques de bola, com fluência nas linguagens do rock, do jazz e do fusion. Não chega a ser algo inusitado, já que Bruce e Cobham, por exemplo, se cruzaram em discos de John McLaughlin e de Mose Allison.
Mas como se descobre que são esses quatro? Escutando atentamente às apresentações que Bruce faz, no intervalo de cada música. Ouve-se ainda uma segunda guitarra, que é de... Sancious. Não tinha a menor ideia de que ele também brincava nas seis cordas. E se sai muitíssimo bem, em alguns momento rivalizando com Clempson, que é um especialista na matéria. Nada disso está na ficha técnica, que, aliás, inexiste.
(Um parêntese para falar de Clem Clempson. É desse músicos subestimados, mas muito apreciado por quem realmente entende do assunto. Na época do Colosseum, uma banda que era abertamente de fusion, integrava-se a um time composto só de craques - Dick Hackstall-Smith, David Greenslade, Jon Hisemann, Chris Farlowe e Mark Clarke. Quando se juntou ao Humble Pie, muita gente achou que seria somente para substituir o bonitinho [na época] e talentoso Peter Frampton. Clempson, porém, fez mais, apesar da personalidade forte de Steve Marriott. Discos como "Smokin" ou "Thunderbox" merecem ser ouvidos com imenso carinho.
Fico imaginando se Clempson tivesse entrado no Deep Purple, com a saída de Ritchie Blackmore. Jon Lord mesmo disse que o guitarrista não se adaptou à banda, abrindo a chance para Tommy Bolin. Permitiu o pulo do gato de Bolin, que levou seu estilo totalmente diferente de Blackmore e fez um trabalho único. Talvez tenha sido esse o erro de Clempson: tentar calçar as sandálias do antecessor.)
Quem não se incomodar com a má qualidade sonora, vai ouvir boas versões para clássicos do Cream e sucessos da banda, além de números da carreira-solo de Bruce. Tem espaço para tudo, do rock pesado ao reggae, passando pela fusão com o jazz. Os quatro estão em excelente forma.
O disco foi gravado em algum lugar dos Estados Unidos e se as versões para as canções do Cream ("White room", "Traintime", "Politician") seguem a fórmula original, bem como as demais, há pelo menos uma novidade: "Theme from an imaginary western". Embora seja de Bruce e seu parceiro Pete Brown, fez parte do repertório do Mountain, banda com a qual o baixista mantinha ligação fraternal.
Na capa, um belo baixo Epiphone modelo SG, igual ao Gibson que Bruce usava. Mas isso não a faz bonita. O disco tem o quê de improviso que incomoda e não vale os R$ 20,00 que provavelmente custam por aí. Minha edição ganhei do amigo Guilherme Lobão, um conhecedor de música e cinema, com o qual sempre tive excelentes papos. Não compraria "Live in America" se o encontrasse nas minhas andanças, a menos que estivesse baratíssimo. E pelos motivos que listei.
Mas já que tenho, o melhor é ouvi-lo. E isso não dói nada.
Sons para se ouvir no carro III
Algumas bandas de rock, quando um dos seus integrantes sai (ou morre), acabam. Com o Led Zeppelin foi assim, com o The Doors, com o Queen, até mesmo com o Deep Purple e com o Black Sabbath que, a despeito de terem prosseguido sem dois integrantes fundamentais, se tornaram algo totalmente diferente daquilo que eram. Evolução? Às vezes sim, às vezes não. Na maioria das vezes, puro oportunismo. Uma marca de sucesso não se pode desperdiçar.
Esse preâmbulo todo se faz por conta do CD que ouço neste instante no carro, do Thin Lizzy. Mas não é "o" Thin Lizzy e sim um arremedo com alguns integrantes do Thin Lizzy. "One night only" é o nome do disco e quisera fosse verdade. Seria um único show, mas a história deu-se de forma bem diferente.
O Thin Lizzy era Phil Lynnott, baixista-cantor-compositor-líder-mentor espiritual. Ele morreu, a banda acabou. Simples. Simples? Não no show bussiness. Três ex-integrantes do Lizzy devem ter acertado um percentual da bilheteria e da vendagem do CD ao dono da marca (talvez a mãe de Lynnott, uma das herdeiras ou a herdeira legal do trabalho intelectual do filho), montaram uma boa banda e foram à luta. O resultado é satisfatório, mas desonesto.
Os tais três são John Sykes, Scott Gorham (guitarras) e Darren Wharton (teclados). Exceto por Gorham, que ficou mais de uma década no Lizzy, os outros dois eram recém-chegados. Oficialmente, fizeram apenas dois discos oficiais do Lizzy (as edições da BBC e outras não contam aqui), "Thunder and lightning" e "Live-life". Gorham, não. Participou não apenas desses dois, mas de outros nove que vieram antes. Mesmo assim, isso não lhe dava direito sobre a marca; somente a propriedade intelectual pelas composições que lhe são atribuídas.
Não sei de quem foi a ideia de ressuscitar esse Lizzy capenga, mas, dizem, não foi de Gorham. Exceto pela "cozinha" Tommy Aldridge (bateria)-Marco Mendoza (baixo) - cujas passagens incluem Ted Nugent e Whitesnake -, os outros três não vinham fazendo nada de relevante. Wharton é como milhares de tecladistas que existem no rock. Gorham tentou levantar uma banda, a 21 Guns, mas não foi muito longe. E Sykes, desde que saiu do Whitesnake - esteve com David Coverdale antes de Aldridge e Mendoza -, batalhou em vão pelo seu Blue Murder. E naufragou.
Atribuo a ideia desse "Lizzy" a Sykes porque deles são os principais solos, além do vocal. Vá lá que seja o único que canta (razoavelmente), mas, por ocupar duas funções de destaque, acaba sendo o nome maior. Na mixagem, os solos de Gorham estão mais baixos que o de Sykes e não creio que isso tenha sido por acaso. Na época de Lynnott claro que isso não aconteceria.
O disco é ruim? Não, ao contrário. É uma espécie de greatest hits, ou seja, sucesso certo. Nada, aliás, que não se tenha ouvido em discos anteriores do Lizzy. Não há qualquer inovação, como tirar faixas do fundo do baú, novas interpretações ou coisa assim. Não há risco.
Sykes se sai bem como cantor e a levada da cozinha Aldridge-Mendoza é reta, sem as filigranas de Lynnott e do baterista original, Brian Downey. Wharton faz sua parte direito e Gorham mostra por que ficou tanto tempo na banda: temperamento doce e adaptável a qualquer outro que completasse o par de guitarra - Brian Robertson, Gary Moore, Snowy White, Midge Ure ou o próprio Sykes. Era uma espécie de apoio de Lynnott na linha de frente.
"One night only" não saiu por aqui e as edições européias são geralmente caras. Eu paguei pelo original e não me arrependi pela relação custo-benefício. Sobretudo porque a melhor maneira de ouvi-lo é como um CD de tributo e não como um trabalho do Lizzy.
Ah!, por fim. Essa banda não durou uma única noite, como sugere o título do CD. Durou várias, muitas noites depois desta, que foi registrada na Alemanha. O que só reforça a desonestidade do projeto.
Esse preâmbulo todo se faz por conta do CD que ouço neste instante no carro, do Thin Lizzy. Mas não é "o" Thin Lizzy e sim um arremedo com alguns integrantes do Thin Lizzy. "One night only" é o nome do disco e quisera fosse verdade. Seria um único show, mas a história deu-se de forma bem diferente.
O Thin Lizzy era Phil Lynnott, baixista-cantor-compositor-líder-mentor espiritual. Ele morreu, a banda acabou. Simples. Simples? Não no show bussiness. Três ex-integrantes do Lizzy devem ter acertado um percentual da bilheteria e da vendagem do CD ao dono da marca (talvez a mãe de Lynnott, uma das herdeiras ou a herdeira legal do trabalho intelectual do filho), montaram uma boa banda e foram à luta. O resultado é satisfatório, mas desonesto.
Os tais três são John Sykes, Scott Gorham (guitarras) e Darren Wharton (teclados). Exceto por Gorham, que ficou mais de uma década no Lizzy, os outros dois eram recém-chegados. Oficialmente, fizeram apenas dois discos oficiais do Lizzy (as edições da BBC e outras não contam aqui), "Thunder and lightning" e "Live-life". Gorham, não. Participou não apenas desses dois, mas de outros nove que vieram antes. Mesmo assim, isso não lhe dava direito sobre a marca; somente a propriedade intelectual pelas composições que lhe são atribuídas.
Não sei de quem foi a ideia de ressuscitar esse Lizzy capenga, mas, dizem, não foi de Gorham. Exceto pela "cozinha" Tommy Aldridge (bateria)-Marco Mendoza (baixo) - cujas passagens incluem Ted Nugent e Whitesnake -, os outros três não vinham fazendo nada de relevante. Wharton é como milhares de tecladistas que existem no rock. Gorham tentou levantar uma banda, a 21 Guns, mas não foi muito longe. E Sykes, desde que saiu do Whitesnake - esteve com David Coverdale antes de Aldridge e Mendoza -, batalhou em vão pelo seu Blue Murder. E naufragou.
Atribuo a ideia desse "Lizzy" a Sykes porque deles são os principais solos, além do vocal. Vá lá que seja o único que canta (razoavelmente), mas, por ocupar duas funções de destaque, acaba sendo o nome maior. Na mixagem, os solos de Gorham estão mais baixos que o de Sykes e não creio que isso tenha sido por acaso. Na época de Lynnott claro que isso não aconteceria.
O disco é ruim? Não, ao contrário. É uma espécie de greatest hits, ou seja, sucesso certo. Nada, aliás, que não se tenha ouvido em discos anteriores do Lizzy. Não há qualquer inovação, como tirar faixas do fundo do baú, novas interpretações ou coisa assim. Não há risco.
Sykes se sai bem como cantor e a levada da cozinha Aldridge-Mendoza é reta, sem as filigranas de Lynnott e do baterista original, Brian Downey. Wharton faz sua parte direito e Gorham mostra por que ficou tanto tempo na banda: temperamento doce e adaptável a qualquer outro que completasse o par de guitarra - Brian Robertson, Gary Moore, Snowy White, Midge Ure ou o próprio Sykes. Era uma espécie de apoio de Lynnott na linha de frente.
"One night only" não saiu por aqui e as edições européias são geralmente caras. Eu paguei pelo original e não me arrependi pela relação custo-benefício. Sobretudo porque a melhor maneira de ouvi-lo é como um CD de tributo e não como um trabalho do Lizzy.
Ah!, por fim. Essa banda não durou uma única noite, como sugere o título do CD. Durou várias, muitas noites depois desta, que foi registrada na Alemanha. O que só reforça a desonestidade do projeto.
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