terça-feira, 8 de maio de 2012

Dias negros no jornalismo

Acompanho com atenção a briga Carta Capital-Veja-Globo-Record para chegar a uma fácil e simples conclusão: nenhum dos envolvidos tem autoridade para colocar o dedo na cara do outro. Por tudo o que fizeram no passado e fazem no presente, pelas ligações comerciais que têm, pelo ranço de ressentimento que os lados guardam mutuamente (e seus delfins fazem questão de botar a cabeça para fora, cada um verberando barbaridades do adversário), quem perde é a imprensa, o jornalismo, a reportagem, a opinião pública.

Recuso-me a falar em ética quando os dois times já mostraram que esse é um conceito parecido com o dos motores flex. Aliás, "ética" é uma palavrinha desmoralizada, que geralmente salga a boca de quem a profere.

Quando veículos de imprensa compram barulho de governos ou partidos, é sinal de que a isenção tornou-se uma farsa. O que vem a partir daí é produto da má-fé, da distorção, da angulação quase sempre caricata de um episódio. O jornalismo, no Brasil e lá fora, definitivamente não vive momentos felizes.

Uma coisa, porém, não se pode discutir: as melhores fontes são os bandidos, os vagabundos, os desonestos, os corruptos. Casos exemplares, nos quais bandos de marginais engravatados foram desbaratados, explodiram assim que figuras amorais abriram a boca. Inconfidências são sempre praticadas por comensais e serviçais.

Quero dizer que o delator é sempre um insatisfeito.

Já está provado que os honestos não são chamados a participar das crocodilagens que envolvem poder e dinheiro. Para ser quadrilheiro, tem que ter coragem. E não ter escrúpulos.

Conheço, sim, episódios nos quais jornalistas e fontes se tornaram sócias. Já estranhei alguns relacionamentos inúmeras vezes. Provar, porém, não consigo. Para isso, somente um inquérito seguido de processo seria possível. Já presenciei defesas apaixonadas que não custaram barato e que iam muito além de noticiar o fato em primeira mão. Já vi e já soube de muito "homem de imprensa" que trocou o respeito profissional por benefícios indiretos - até mesmo sexuais.

Mas volto a dizer: provar isso...

Claro que a relação fonte-repórter nem sempre chega a tal ponto. Aliás, tenho certeza de que na maioria das vezes não desce tão baixo. Só posso medir as coisas pela minha régua, pois meu âmbito de relacionamento profissional me levou a pessoas decentes, trabalhadores da notícia que fazem dela profissão de fé.

A partidarização do fato me assusta e me incomoda. Quem ler esse artigo poderá pensar: ficou no muro! NUNCA, DE FORMA ALGUMA! Tenho um lado muito claro, que não passa pela defesa de qualquer veículo, tampouco de agremiações ou governos. Estou do lado do jornalismo, gravemente aviltado por quem se diz seu defensor, mas que não tem envergadura para a tarefa.

(Aliás, nos últimos tempos, ficou provado que vestais guardam segredos inconfessáveis. O ainda senador Demóstenes Torres está aí para não me deixar mentir. Quem acompanhou sua trajetória estarreceu-se à vontade com o que viu, leu e ouviu sobre ele.)

A discussão, apesar dos atores de pouca credibilidade, está aberta, provocada pela polarização. Quero ver até que ponto realmente temos liberdade de imprensa e se essa liberdade está assentada em pilares sólidos - há quem queira trazer à tona a censura em forma de "regulação da mídia"; há quem deseje o escancaramento total para que as páginas sirvam de ringue de vale-tudo.

É tempo de avaliar relacionamentos profissionais. Os dias servem para estudar o quanto se precisa de veículos que sejam correia de transmissão de grupos, partidos, financiadores, personagens...

Antes que a imprensa não tenha mais jeito. E vire isso que se vê aí: um negócio dominado por quadrilhas.

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