sexta-feira, 13 de abril de 2012

A mãe do PAC diz que governo é uma coisa, PT é outra. Lamento informar: na CPI do Cachoeira, não serão

"'A agenda do PT não é a agenda de Dilma', diz um expoente do governo. A presidente, com a avaliação batendo sucessivos recordes, não teria interesse em brigar com a imprensa, um dos setores que o partido, para desviar o foco do mensalão, planeja envolver na CPI".

A nota foi publicada hoje no Painel, da Folha, a melhor coluna de pílulas políticas dos jornais diários nacionais. Foi ela quem levantou, na edição de ontem, a lebre de que a CPI do Cachoeira pode arrepiar muita gente se a construtora Delta também se tornar foco de investigação. PT e PMDB temem por isso e não é para menos.

O relator da CPI tem tudo para ser o senador Humberto Costa, aquele mesmo que foi escorraçado como ministro da Saúde do primeiro governo Lula. Ficou conhecido por entrar numa briga boçal com o governo Rosinha Garotinho por causa da dengue, que grassava no Rio.

(Sua atuação foi tão pífia, tão bisonha, que conseguiu fazer o governo federal perder a guerra da informação para os Garotinho! O casal fez de tudo para que a crise na saúde pública ficasse intensa para jogar a culpa no Palácio do Planalto. E conseguiu!)

Ou seja, no que depender de Humberto, a CPI vai tratar desde os tempos da construção de Brasília. Esperemos por um relatório final que não conclui coisa alguma. Será um festival de torpezas. O enredo a gente já conhece: a oposição não vai aceitar, apresentará um "relatório paralelo"...

...e segue o baile.

A questão é que o PT vai querer enrolar o governo nessa massaroca. Dependendo do rumo que a imprensa der a esse episódio - sim, ou alguém acredita que se fará alguma investigação da Delta, de Cachoeira etc.? -, começarão os apelos para o Palácio do Planalto descer do olimpo. A ministra Ideli Salvatti é particularmente sensível a argumentos do partido: sua atuação na CPI do Banestado a catapultou para a condição de uma das chefes da tropa de choque petista. Ideli é daquelas que dão "carrinho" pelas costas com a maior naturalidade.

Ainda que haja um PT ético, que quer aproveitar o momento para fazer uma depuração, e que a presidente e alguns ministros já tenham sinalizado que governo e questões partidárias não se misturam, não acredito que Dilma passará incólume, tampouco que conseguirá equidistância dessa que tem tudo para ser a crise que acabará com seu governo. Não porque ela queira, mas porque, mesmo com ordens expressas e explícitas, muita gente agirá por conta própria, colocando a máquina a favor da salvação do PT.

Sobretudo porque a CPI do Cachoeira expode com uma eleição municipal no horizonte. Em São Paulo, Lula antecipou o "fim da doença" para interferir nos rumos da campanha de Fernando Haddad, que não empolga. É dele também o sinal verde para o PT apoiar a CPI do Cachoeira, pois quer ver o governador Marconi Perillo (GO) ser tragado nessa queda d'água.

Ainda que enrolem, na tentativa de jogar os trabalhos da CPI o mais perto possível para o esvaziamento natural do Congresso com o começo das campanhas, o PT já está marcado para outubro próximo. Por conta das conexões que guarda com o governo de Agnelo Queiroz e pelo excesso de contratos que a Delta conseguiu de obras do PAC.

PAC esse, aliás, que tinha mãe: a atual presidente - conforme Lula várias vezes verberou. Se os jornais continuarem mostrando, como já começaram, a capacidade da Delta de fazer amigos e influenciar pessoas, vão começar a indagar como é que a construtora consegue "obrar" tantos milagres. E a mãe do PAC, nada sabia? Nem desconfiou?

Entenderam como será complicado para o governo ficar fora desse sanhaço?


PS - O DEM não pode rir de coisa alguma na CPI do Cachoeira. Além de tender ao desaparecimento, vai tomar uma dessas sovas históricas na próxima eleição por causa do Demóstenes.
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