quinta-feira, 12 de abril de 2012

Para onde se olhar, não se vê solução

O que esperar do governo do Estado do Rio? Nada. Isso eu já havia dito, várias vezes, em posts anteriores. São farsantes, galhofeiros travestidos de defensores do interesse público. Essas UPPs são história para boi dormir: saíram as armas pesadas entrou a surdina, a discrição. Os traficantes descobriram que dá para continuar vendendo cocaína sem chamar a atenção.

Mas a questão não é somente essa. Bandido, facínora, não desaparece simplesmente. Só quando morre. E quando continua vivo? Se foi expulso do morro, vai para outro lugar. Elementar, meu caro Beltrame. Ou disputa o ponto com a milícia ou com o bando rival. Para não ficar no prejuízo, vai para outro lugar controlado pela mesma facção.

Isso é óbvio, só que o Palácio Guanabara fingiu que não aconteceria. Fingiu que os traficantes expulsos do Alemão feito ratos, mais de um ano atrás, entrariam no mercado formal de trabalho.

"Mulher, cansei. Esse negócio de trocar tiro, de virar noite, de pagar arrego... Vou numa dessas agências de emprego. De repente, arranjo um de empacotador de supermercado. A gente vai viver de salário mínimo, mas, pelo menos, voltarei a ser um cara honesto".

Claro que um diálogo como esse jamais aconteceria. O bandido não nasce bandido, mas morre bandido. E bandido não se entrega, a menos que seja em condições extremas.

Quer dizer: aqueles ratos que figuram do Alemão iriam para algum outro lugar. Grande Rio, claro. Baixada? pode ser, mas o tráfico dá preferência a morros dentro da cidade, acessível a pessoas de poder aquisitivo. Niterói era a pedida óbvia.

E foram todos, ou quase todos, para lá. Muitos seguiram para a Região dos Lagos, local de Búzios e Cabo Frio. Outros tantos tomaram a região de Angra.

Niterói não chega a ser um apêndice do Rio, tal como Caxias. Foi capital de estado até 1974, quando houve a fusão de Guanabara e Estado do Rio. Tem uma população de alto poder aquisitivo e apresenta uma das maiores qualidades de vida do País, à frente até de Brasília. O niteroiense é bairrista e não gosta de ser confundido com o carioca, embora com ele divida espaços no trabalho, do outro lado da Baía da Guanabara.

Essa questão de qualidade de vida era até motivo de desprezo do niterioense pelo Rio. O cara que nasce e cresce em Niterói gosta de Niterói, até nos finais de semana. Vai às praias em Niterói, ao shopping em Niterói, aos restaurantes de Niterói.

Cenas da fuga do Alemão: e onde essa gente se enfiaria, Beltrame?
Sofre, porém, com sua própria "Caxias": São Gonçalo. Município vizinho, separado por uma linha de trem, é pobre, feio, violento e desorganizado como a Baixada Fluminense. Num primeiro momento, abrigou vários dos bandidos expulsos do Rio. Que jamais pensaram em voltar, diga-se. Estudavam uma forma de se instalarem em Niterói.

O resultado é o roubo de carros subindo mais de 500%, de assaltos a residências na mesma proporção, o aumento da violência nas ruas e, claro, a prosperidade do tráfico, que volta a viver os brilhantes dias de Rio. E só agora Beltrame, o homem da inteligência, o cerebral, o técnico, o antenado, o plugado, percebeu isso. E anunciou um pacote para combater a violência em Niterói.

Lógico que vai aparecer algum energúmeno dizendo que o governo do estado apostou na deterioração da segurança pública na cidade (administrada pelo PDT) para enfraquecer o sucessor que o atual prefeito (o mesmo da tragédia do Morro do Bumba) pretende fazer. Essa é uma conta que não soma coisa alguma, só diminui. Nem PT, nem PMDB lucram com o esgarçamento do tecido social.

Leio o principal jornal do Rio de Janeiro todos os dias e não há uma única menção de que o prefeito de Niterói tenha se entendido com o Palácio Guanabara, ante a percepção de que a violência na cidade subia. Dizem que o prefeito vive mais em outro país que na cidade que "administra". Não posso provar isso, mas talvez esteja aí a explicação para não notar a gravidade da situação.

O estarrecedor é que, para onde se olhe, não se vê administrador comprometido com o bem comum. Em partido algum, nem de situação, nem de oposição. Um vácuo moral precupante. Tenho sempre dúvidas se nossa democracia é forte o suficiente para impedir uma proposta aventureira. Já tivemos caçadores de marajás; não me supreenderia se surgisse alguém com um discurso radical.

Estão brincando com nossa liberdade. Pode parecer sinistrose, eu sei. Mas estou muito preocupado em ver que a irresponsabilidade e a amoralidade tomaram conta do País.  

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