terça-feira, 3 de abril de 2012

Querem mesmo fazer um espurgo?


Reproduzo abaixo os textos de dois impecáveis jornalistas e agrego o raciocínio que fiz num post, dias atrás, sobre a felicidade de alguns com a desgraça do Demóstenes Torres. Volto lá no final, novamente em preto.

Reynaldo Azevedo: “Mas por que os blogueiros (...) estão em festa? Seria só porque um senador da oposição quebrou a cara? É claro que não! A oposição já é raquítica hoje, com Demóstenes e tudo. (...) A turma que divide com o Zé bobó de camarão com caipirinha na casa daquele gigante do progressismo está celebrando outra coisa: “Ora, se até o senador Demóstenes caiu, e de maneira tão avassaladora, está provado que moral política não existe mesmo! Fica evidenciado que todos pecam. Mais ainda: os que mais falam em moral e retidão são os piores”.

É a vingança da imoralidade, vivendo seu momento de desrepressão. Eles não querem apenas ver Demóstenes morto politicamente. Isso, convenham, já aconteceu. Querem liquidar com a própria moralidade, como se todos os maus passos dados pelo senador na relação com Carlinhos Cachoeira fossem um desdobramento, uma consequência ou um apanágio da sua pregação e de sua atuação. E A VERDADE ESTÁ JUSTAMENTE NO OPOSTO: tudo o que ficamos sabendo dia após dia só nos diz que havia incongruência entre intenção anunciada e gesto. E é isso o que choca”.

Dora Kramer: “Abatidos ficaram os que acusaram um duro golpe na já combalida oposição; desapontados os que tinham nele uma referência de ética na política; exultantes mostraram-se aqueles que viram no episódio a chance de externar uma espécie de vingança à deriva contra ‘os moralistas de plantão’.

Para estes, Demóstenes Torres é a prova cabal de que os combatentes das boas causas devem ser vistos com desconfiança, pois dentro deles mora sempre um amoral. "São os piores", avisam sapientes.

O problema da premissa é o equívoco da tese: se as farinhas todas têm origem no mesmo saco, que se locupletem todos à vontade. Tudo estaria então permitido e a crítica antecipadamente interditada em obediência ao pressuposto da isonomia no quesito suspeição”.

Eu: “O segundo ensinamento que colho é que todos os governistas estão satisfeitíssimos com a derrocada de Demóstenes (parece até título de épico). Têm frouxos de riso, riem à bandeiras despregadas - como diria Nelson Rodrigues. Pouco importa se, no fundo, pensam assim: ‘Então, a vestal é bandida também?’

Ou seja, não quer dizer-lhes coisa alguma serem nivelados por baixo. Ou melhor, não se incomodam com isso. Eis que surge um par, um semelhante, um equivalente, do outro lado da porteira. A oposição tem suas laranjas podres também.

Demóstenes: estafeta de luxo prestando a serviço à contravenção
Que legal. Vejam àquilo que está reduzido o Senado: o time do Curinga contra o do Pinguim. Quando se pensava que havia super-herois, eis que surge uma espécie de quinta coluna, alguém que consegue enodoar os acusadores dos malfeitos do governo. E nem se diga que Demóstenes foi julgado sem direito a ampla defesa. Ninguém renuncia ao comando do DEM na Casa se não tiver perdido as condições de continuar liderando”.

É sempre bom estar em boa companhia intelectual, apesar de tanto Reynaldo quanto Dora não fazerem a menor ideia de quem sou. Isso não me incomoda. E insisto que o fio puxado nesse caso é apenas um começo, que vai certamente respingar em Brasília. Não por causa da proximidade geográfica, mas devido às confluências políticas.

Há empresários na cidade que acenderam velas, na eleição passada, tanto para Agnelo Queiroz quanto para Marconi Perillo, dois governadores que já apareceram na correnteza de Carlinhos Cachoeira, conforme a edição da Veja do final de semana passado. É bem possível que os negócios se cruzem, pois o contraventor mantinha conexões com PT e PSDB de cidades tão próximas. Além disso, o meio político goiano e brasiliense troca figurinhas, sobretudo na administração do Executivo.

Acredito plenamente que a desgraça de Demóstenes é só o começo da tragédia. Difícil prever se o Senado está realmente disposto a investigar isso (o Conselho de Ética, para dar um exemplo, não tem presidente. E quem vai querer segurar essa batata quente?). Talvez a Câmara queira cassar agora, para dar a resposta que ficou em branco no episódio de Jaqueline Roriz, aqueles deputados que já foram alcançados, alguns deles até cobrando uma colaboração de auxiliares de Cachoeira.

Mas sou rigorosamente cético em relação a punições, cassações, processos, perdas de mandato e coisas do gênero. O espírito de corpo prevalece, independentemente do desejo da oposição em se purificar (e não perder mais do que tem perdido) e do governo em se proteger. Os congressistas sabem que a pressão da sociedade só funciona mesmo quando podem colher algum dividendo político. 

Além do mais, estamos em abril. O Congresso vai funcionar mesmo até meados de maio. A partir daí se esvazia (com o beneplácito do Palácio do Planalto), mais interessados que estão deputados e senadores nas eleições municipais. Tempo para cassar essa turma, há. Quando querem, os processos políticos correm rápidos.

A questão aí é a vontade. Triunfará? (Mil perdões a Leni Riefenstahl pelo trocadilho.)

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