sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ministro come-e-dorme

O troca-troca entre Luís Sérgio e Ideli Salvatti me deixou estarrecido. Um ocupará o cargo que é do outro. Pode ser uma saída interessante para agradar o PT, mas certamente é uma prova de incompetência, das mais evidentes, passada por Dilma. Por que não se pensou nisso antes? Então Luís Sérgio desde o começo estava na função para ser um reles anotador de recados? E levou-se seis meses para se chegar a tais conclusões? Impressionante.
Evidentemente que colocar juntos Ideli e Palocci era correr risco de curto-circuito. Soube da existência da ex-senadora há alguns anos, na CPI do Banestado. Ainda era gordinha, bem diferente da silhueta esbelta que exibe hoje. Numa audiência, moeu um diretor do banco para que explicasse como é que os dólares cruzavam a Ponte da Amizade, de Foz do Iguaçu para Ciudad del Este. Eu fiquei constrangido pelo tal diretor. Ideli não deu trégua, mas, vale lembrar, naquela época o PT era oposição. E não dava trégua.
Depois, já no senado como líder, Ideli mostrou-se carne de pescoço. Quem costumava brincar com ela era o ex-senador Heráclito Fortes, sujeito bem-humorado que levava na galhofa muitos dos enfrentamentos e reações da ex-senadora. No fundo se gostavam, embora cada um envergasse a camisa do seu time.
Ideli foi parar no Ministério da Pesca sem jamais ter visto, na vida, uma rede, um samburá, um caniço ou um molinete. Não sabe a diferença entre isca viva e artificial. Tornou-se ministra por obra de graça das conexões partidárias e porque acabara de ser derrotada em Santa Catarina. Foi dirigir uma pasta que jamais entrou no mapa, tampouco tem peso político. Mas isso pouco importa.
Esse estranho ministério será ocupado por Luís Sérgio. Vai desaparecer das vistas da presidente, passar um tempo mergulhado (sem trocadilho, pois não falo aqui de pesca submarina) e jogar seu peso nas eleições municipais de Angra dos Reis (RJ), seu reduto eleitoral. No momento em que precisar voltar à disputa pela reeleição a deputado federal, Sérgio abandona o barco (de pesca?).
Ou seja, desde o começo ele foi colocado ao lado de Palocci para não ser coisa alguma. Ou melhor, um menino de recados de luxo. Na maldade da política, apelidaram-no de "garçom", aquele a quem o freguês entrega os pedidos. Só mesmo no governo isso acontece: depois de seis meses, se percebe que o cidadão foi colocado no lugar errado.
Na iniciativa privada, tal erro de montagem, quando acontece, é punido com a demissão do chefe. Claro, é ele que arruma as peças. Ao patrão cabe cobrar que a engrenagem funcione (e bem), seja com um ou com 100 elementos, estejam eles bem encaixados ou não. Mas quem demite Dilma? Nós, evidentemente. Essa colocação de pessoas erradas em lugares errados certamente passará despercebida. Em primeiro lugar, está a dissipação da crise. Mas e daí? Para quem assumiu o governo com a pecha de técnica competente, de tocadora de projetos, é um erro crasso sustentar num ministro come-e-dorme porque quem está ao lado dele tem muito mais capacidade. Ou o cargo era extinto ou seria criado agora, quando passa a ter um verdadeiro titular.
A presidente passa um segundo atestado público de incompetência, em pouquíssimo tempo. Não será o último. Espera-se somente que esse problema não se agrave.

Nenhum comentário:

Postar um comentário