segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Purple com Turner: eu estava lá

Estava dando uma olhada no Estadão quando vejo uma matéria sobre os 20 anos da vinda do Deep Purple ao Brasil. Pois é, meus amigos: EU ESTAVA LÁ. Em pleno Maracanãzinho, com um som embolado e sem definição, vi aquela versão da minha banda predileta maculada pela presença de Joe Lynn Turner nos vocais. Para variar, Ian Gillan tinha puxado o carro por causa das inúmeras brigas com o insuportável Ritchie Blackmore. Pior para o Purple e seu público.
Mas eu não estava nem aí. Tais reflexões faço agora, quando considero que o Purple deveria ter encerrado a carreira ali mesmo nos anos 70. Não acho Perfect Strangers um discaço, como muita gente pode pensar. Acho até bem mediano. The House of the Blue Light, então, é de chorar. Nobody's Perfect, que veio depois e era ao vivo, é bem ruizinho. Enfim, já ouviram o ditado de que "quem sai aos seus não degenera"? Degeneraram.
Turner entrou no Slaves & Masters, que é péssimo e não tem a menor chance de ser lembrado dentro de uns anos como um disco injustiçado. Foi com esse trabalho que eles desembarcaram por aqui.
Comprei o ingresso para ver, pela primeira vez, um show do Purple. Nem estava ligando para a presença de Turner, tamanha era minha fome por Blackmore-Glover-Lord-Paice. A fila interminável foi amenizada pelo encontro com um amigo de colégio, Leonardo Pires, o Pirão Bangu (não sei porque tal apelido). Ficamos ali, naquele papo interminável sobre Purple e coisa e tal.
Entramos juntos e fomos para perto da mesa de som. Tinha eu a vã ilusão de que ali conseguiria ser menos afetado pela histórica péssima acústica do Maracanãzinho. As luzes se apagaram, a banda entrou e atacou, se não me engano, Burn. Aí vejo de longe o Turner brigando com alguém na primeira fila, gesticulando e apontando para a plateia, embaixo. Algum babaca deve ter estendido uma faixa ofensiva a ele ou elogiando Ian Gillan. É o tipo da coisa que não faz diferença. Um show desses não é para protestos. E se sabia que o cantor era o Turner, o babacão da plateia foi por quê?
Eu e Pires cantamos o show inteiro e ainda tomamos um baculejo da segurança, que estava prendendo vagabundo que fazia tráfico lá dentro. Cheiraram nossas mãos no meio da apresentação e nos "liberaram". Quem eram aqueles caras? Policiais, claro, fazendo segurança particular e sem ter direito algum àquilo. Mas como a gente não estava a fim de discussão e apenas fumavamos o "oficial", o show seguiu para nós dois. Mas teve neguinho grampeado. Com que autoridade, repito, vai saber...
Como Joe Lynn Turner entrou no Purple é fácil de entender. Vinha tocando com Blackmore desde os tempos do Difficult to Cure, do Rainbow, um disco de que até gosto muito. Seguiram Straight Between the Eyes e Bent out of Shape, que são apenas medianos. Tem ainda uma coletânea, Finyl Vinyl, cuja presença maior é de Turner sobre Ronnie James Dio ou Grahan Bonnett. Quer dizer: Blackmore o considerava um cara leal, com o qual podia fazer o que quisesse.
Daí que, quando Gillan se encheu (e fez discos igualmente ruins nesse período, como Naked Thunder ou Toolbox), Turner era a opção mais à mão. Dio estava bem com sua própria banda e Bonnett, cansado de tentar dar sustentação ao seu Alcatrazz, se juntou ao xaroposo Chris Impelliteri com seus 925 dedos.
Mas Turner durou pouco e Gillan voltou logo em seguida, no também ruim The battle rages on. Quer dizer: o Purple vinha caindo pelas tabelas, confirmando aquilo que sempre disse sobre a banda - que deveria ter feito da morte de Tommy Bolin um exemplo e um epitáfio, pelo menos uns 18 anos antes.
O curioso é que o fechamento do ciclo Blackmore veio com um disco ao vivo de que gosto muito, Come Hell or High Water. Os caras estavam tão enojados de Blackmore e da picuinha que ele sustentava com Gillan que tocam com raiva, nas coxas, alto, sujo. No CD e no vídeo, Blackmore leva pelo menos uns três minutos para entrar em Highway Star e, quando entra, faz uma barulheira impressionante, como se estivesse ajustando a guitarra. E ainda atira um desses pratos de isopor na direção de Gillan só para sacaneá-lo. O cantor abaixa a cabeça em tom de deboche.
No final, tem ainda um discurso de Jon Lord, figura normalmente pacífica e passiva. Diz que a banda não aguenta mais as diatribes do "Sr. Blackmore" e que dali para diante os quatro seguiriam um rumo diferente daquele que o guitarrista tomaria.
Resumo: a turnê foi completada por Joe Satriani, antes da entrada de Steve Morse como membro permanente no bom Purplendicular. Que os trouxe novamente ao Brasil, para um show no extinto Metropolitan. E eu, claro, ESTAVA LÁ.
Mas essa é outra história.

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