terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Da bobagem ao fato

Entramos entrando na "silly season", a temporada dos bobos. É quando, por falta absoluta de notícias, repórteres e colunistas exercitam a arte do chute. A exemplo da lenda que gira em torno de Zico, que colocava uma camisa no alto do travessão como alvo e cujo perfeccionismo em tentar acertá-la fez dele um exímio cobrador de faltas, muitos acreditam que será assim que vão derrubar ministros e influir nas decisões de governo. Não vão. Para alguém do primeiro escalão cair, a munição tem que ser pesada.
Lupi foi o último, depois de um festival de bravatas e mentiras. Admito que cair agora ou em janeiro, quando haverá a reforma ministerial (única coisa verdadeira nesse universo de chutes a gol), não fazia muita diferença. Já estava ferido de morte, como Mário Negromonte, por enquanto esquecido.
O mais recente a dar entrada na UTI é Fernando Pimentel. Não quer dizer que vá morrer, mas a condição não é das melhores.
A rigor, o titular do MDIC está na mesma situação de Palocci, que desceu do pedestal de primeiro-ministro por consultorias fora de hora. Pimentel também atuou naquele período pré-governo, época em que esteve na campanha de Dilma como um dos coordenadores. Já vimos esse filme em maio: Palocci negou que tivesse havido tráfico de influência até o final, assim como Pimentel está negando. Não funcionou.
* A faxina ética que vem sendo feita pela imprensa (registre-se e ressalve-se: Dilma tem somente atendido à condenação da opinião pública) vai dando imensa munição aos candidatos da oposição a importantes prefeituras. São Paulo é um caso típico: como candidato escolhido pelo PT, Haddad terá dificuldades em se defender contra o ataque adversário. Além do passivo que acumulou à frente do Ministério da Educação, ainda terá de explicar como é fazer parte de um governo que, em 11 meses, demitiu sete ministros, sete deles por envolvimento com corrupção. Não chega a oito porque Negromonte já está com o bilhete azul na mão e sai em janeiro. E não chegará a nove porque o recesso de fim de ano vem aí e Pimentel tem a chance de se manter no cargo. Mas sobrevive em janeiro?
* Esses, porém, são casos claros. Têm os escuros, cuja saída vem sendo pedida não se sabe ao certo por quê. Nessa condição está Ana de Hollanda. Ainda que ela não se ajude muito e dê imensas chances aos seus críticos, do outro lado também atua um time de fascistóides que impressiona pela virulência e falta de conteúdo. Os integrantes dessa charanga se consideram os donos da cultura do país e, como crianças mimadas, acreditam que um governo deve seguir a agenda deles, não a do governo.
Têm conseguido bater bumbo porque a ministra (aliás, não apenas ela, mas todos aqueles que são tidos e havidos como demissíveis por incompetência) optou por uma relação complicada com a imprensa. Disse para um colega que tenho aprendido muito com o mau jornalismo praticado por alguns veículos, que respaldam teses que desenvolvem abrindo espaço para os eternos críticos e insatisfeitos. A balança deles está sempre desregulada e pende para o lado do desejo de fazer onda de qualquer maneira.
* Mal entramos na "silly season". Quando o governo começar a parar, veremos gente chutando com as duas e com as quatro pernas por meio de reportagens sem fontes, repletas de "offs" e com dados requentados, trazidos de matérias que saíram várias vezes nas últimas semanas.
É a  falta de notícia travestida de notícia. Isso só acontece porque o governo é fraco e permissivo. Especulações viram verdades; chutes se tornam fatos. O Palácio deu a pauta. Dilma podia estar preparando, a essa hora, o balanço de 12 meses de gestão, um festival de números que poucos entendem, mas todos engolem. No momento em que divulgar isso, parecerá frio e desprovido de sentido. Porque os jornais já terão colocado na rua uma fileira de lembranças das lambanças (sem jogo de palavras) desse primeiro ano.

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