O Chicago (que já tinha deixado de ser Chicago Transit Authority por processo judicial movido pelo Departamento de Trânsito da Windy City, berço do blues elétrico e da Chess Records, e palco das vilanias de um certo Alfonse Capone) acompanhava aquela trilha que misturava rock com jazz, sem fazer jazz-rock ou fusion. O rock estava ali, assim como o blues, mas com uma levada diferente, dissonâncias e aspectos da música orquestral. O Blood, Sweat & Tears de David Clayton-Thomas, Bobby Colomby, Al Kooper e Mike Bloomfield fazia algo semelhante e brilhante o suficiente para durar pouco e entrar para a história.
Voltando ao Chicago. Girando em torno do excelente guitarrista Terry Kath (que, reza a lenda, fez Jimi Hendrix babar na gravata), tinha um trio de metais de tirar o chapeu (James Pankow, trombone; Lee Loughnane, trompete; Walt Parazaider, saxes e flautas), um baixista seguro (Peter Cetera), um baterista de bom nível com feedback de jazz (Danny Seraphine) e um tecladista, compositor e cantor que fazia a diferença (Robert Lamm). Quando se ouve composições como Does anybody really knows what time is?, Questions 68 & 69, Begginings ou 24 or 6 to 5, se percebe uma maturidade impressionante. Ainda que estivessem no conservatório de música desde cedo, a criatividade nos arranjos e a estrutura das canções é invulgar.
Os quatro CDs - na verdade três são o show original e o quarto é de sobras da temporada no Carneggie - dão imenso prazer. Boa parte das canções faz parte do repertório ao vivo do Chicago, que as executa ainda hoje com pequenas alterações. Sinal de que não foi preciso atualizá-las por estarem datadas. Muitas bandas fizeram rearranjos com o intuito de buscar novos públicos, penetrar em faixas etárias menores para segurar público. Esse material do Chicago passou no teste do tempo.
Claro que o CD quadruplo não saiu no Brasil. Vi-o certa vez na Fnac, numa caixa luxuosa, que custava mais de R$ 200. Um exagero evidente, que me fez recorrer à pirataria na internet, mas que por alguma estranha razão não materializei
Mas isso pouco importa.
É um disco impressionante, já que a banda consegue reproduzir exatamente aquilo que fizera
E não digam que a morte de Terry Kath foi a responsável por essa guinada, pois participou dela. Tampouco se pode atribuir a feição pop à entrada do brasileiríssimo e competentíssimo Laudir de Oliveira na percussão. É evidente sua colocação na banda justamente por causa do acento mais palatável que o Chicago assumiu.
Hoje a banda está na enésima formação, mas girando em torno de Lamm, Pankow, Parazaider e Loughnane. Alguns dos integrantes que vieram depois já estão completando quase 20 anos de grupo (como o baterista Tris Imboden ou o baixista e cantor Jason Scheff) ou 30 (como o cantor, guitarrista e tecladista Bill Champlin). Guitarristas foram vários, desde Donnie Dacus (que substituiu Kath logo após sua morte) a Michael Landau, passando Dawayne Bailey.
Dos integrantes originais, Peter Cetera chegou a fazer bem sucedida carreira-solo por conta da boa aparência e a inconfundível voz de falsete. Danny Seraphine formou uma banda de jazz na California e deixou o circuitão. E Laudir, que entrou no grupo ainda com Kath vivo, se encheu dos compromissos pesados do supergrupo: com a boa aposentadoria à base de direitos autorais, voltou para o Rio, onde toca com quem quer e bem entende. É possível vê-lo nos bares da cidade dando aula de ritmo para a moçada mais nova.
Chicago IV marca o fim da primeira fase da banda, que já taxiava rumo ao estrelato.
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