terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Do medo à sinistrose

Já faz alguns dias desde meu último post e, se a situação da reforma ministerial mudou (comenta-se que Dilma troca somente os ministros que vão disputar a eleição municipal, mais o novo titular do Trabalho, o que representa que até Mário Negromonte tem chances de ficar), a da Europa vai de mal a pior. Estava zapeando a internet quando me deparei com o artigo de Paul Krugman, que avisa dos riscos de uma guinada à extrema direita se a crise do euro continuar no mesmo diapasão. Leia-se: uma ditadura nos moldes de Hitler, Mussolini, Salazar ou Franco.
Compartilho somente de parte do pessimismo do economista. A direita, seja ela mais moderada ou extremista, jamais desapareceu da Europa. Agora mesmo a Espanha escolheu um governo conservador, já que os conservadores são tidos com controlados e suficientemente corajosos para tomar medidas impopulares. A Itália, depois do vendaval Berlusconi, também tem um governo conservador, sob comando de Mario Monti, que já começa a enfrentar as primeiras resistências por causa do xarope amargo que quer fazer descer goela do povo abaixo.
Esse mesmo conservadorismo é visto na Grécia, no governo do economista Lucas Papademos. O premier belga, Elio di Rupo, que embora tenha origens no partido socialista, tenta fechar uma coalizão com os conservadores. Sarkozy tem uma eleição pela frente na França e, embora esteja atrás do socialista François Hollande na última pesquisa, avançou alguns pontos por causa da participação nas negociações para evitar o naufrágio do euro. A sondagem coloca Marine Le Pen, do abominável Front National, com 17% das intenções de voto.
De alguma forma, a direita vem sendo convocada a dar sua contribuição na busca de uma saída da crise. E é aí que as coisas se enrolam. Não diria que se verá a ascenção de um novo Hitler, mas o discurso racista e discriminatório voltará com força à medida que os conservadores avancem. E terão o endosso dos socialistas, tidos como progressistas, que diante da dimensão do problema terão de aceitar as restrições. Imigrantes de todos os continentes, sobretudo os africanos, os europeus do leste e os muçulmanos de qualquer continente, estarão na lista dos enjeitados preferenciais.
A crise econômica historicamente escolhe bodes expiatórios. Já foram os judeus, como os imigrantes africanos tiveram vez. Depois, os muçulmanos. Ciganos também entraram na dança e foram deportados às carradas da França, meses atrás. Um doido na Noruega saiu atirando em inocentes afirmando que era preciso parar a invasão islâmica. É a velha história de que o imigrante tira o espaço do nativo. A justificativa é idiota e racista, adjetivos, aliás, quase sinônimos.
Mas quem é da terra se recusa a fazer certos serviços, entregues aos que vêm de fora.
Haverá convulsões, sim, mas por razões diferentes. Dos trabalhadores contra o governo, que não vão aceitar reduções de programas sociais e benefícios (como aumento do tempo para se aposentar ou tetos de aposentadoria), por mais anacrônicos que pareçam para uma Europa em crise. Dos trabalhadores contra os trabalhadores imigrantes, que serão acusados de tirar-lhes postos, ignorando que alguns serviços subalternos e insalubres há muito são proibidos por esses mesmos sindicatos de trabalhadores. Dos imigrantes contra o governo, pois não vão aceitar novamente ser bucha de canhão, culpados de uma crise que não construíram. Dos governos contra os governos, pois alguns considerarão (como já consideram) impensável que outro país intervenha na sua economia diretamente, impondo ditames e regras. Da Europa contra Ásia (leia-se China, por mais anacrônico que isso possa parecer), África e América Latina, colocando restrições cada vez mais estúpidas aos produtos que vêm desses continentes, além de impedimento ao trânsito de pessoas.
A tragédia europeia está somente começando, mas a democracia não parece ameaçada. Dessa vez, não há um discurso fácil, capaz de galvanizar uma nação inteira, tampouco oposições fracas e países indiferentes a decisões insensatas. O mundo hoje é um só e a Europa está coladinha na China, ainda que não geograficamente. Eles espirram e nós nos gripamos, coisa que não acontecia na década de 20 ou 30 do século passado, quando a terra era maior e os países mais distantes.
Para sair do atoleiro, os europeus precisam do restante do mundo. Mas a tentação de se fecharem é grande.

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