quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Patos mancos

Os comentaristas políticos brasileiros sabem bem o que significa a expressão "lame duck". É o "pato manco", aquele que pode escapar agora da mira do caçador, mas vai morrer logo adiante. Os políticos americanos usam esse jargão como forma de mostrar que fulano não dura muito e que, mais dia, menos dia, vai cair. Pode-se dizer o mesmo de Carlos Lupi.
Fico pensando se tirá-lo agora, como sugeriu a Comissão de Ética, ou daqui a um mês, faz alguma diferença se o cara vai sair mesmo. Creio que, a rigor, não. A reforma ministerial vem aí em janeiro e ele é nome certo para sair na barca dos demitidos. Se não sair, aí é grave, dona Dilma.
Li uma colunista que afirmou tudo isso ser uma imensa palhaçada; que a presidente desautorizou a Comissão. Discordo. A Comissão não fez nada que o Palácio do Planalto não soubesse que faria. Se tivesse liberado o Lupi, achava estranho. O roteiro do ministro está traçado. Passa o Natal e o Ano Novo no cargo por pura brincadeirinha. Até porque, a partir do dia 10, aqui em Brasília, o ritmo é devagar quase parando. Vai tudo funcionar à meia-boca.
Não posso assegurar, mas Lupi deve estar aos poucos limpando as gavetas. E se valer a mesma máxima de Negrão de Lima, tomando cafezinho frio nesse que é seu final de governo. Ali pelo dia 15 segue para o Rio, festeja o final de ano em família e entre amigos e já sabe que não volta. Fará figuração no Ministério até ser comunicado da decisão da presidente. Pelo ritmo de saída, processos importantes já começam a dormitar nas gavetas, esperando a assinatura do próximo titular do Trabalho.
A tal colunista estava indignada. Só passarei a esse estado se a reforma ministerial for transferida para depois do carnaval. Estou indo pelo senso comum de que, em janeiro, as cabeças rolam. Até lá, tem tempo de dona Dilma articular as mexidas que pretende fazer no tabuleiro. Dizem que nem todos os tidos e havidos como demitidos vão sair, mas apenas remanejados de lugar. Até lá, é tempo de sugerir nomes, soltar balões de ensaio para colher as reações e muita, mas muita, especulação.
Tirando a turma que vai se candidatar às prefeituras (Haddad, Iriny), tem o pessoal que foi pego com a boca na botija (Lupi, Negromonte) e o pessoal que não disse a que veio (Ana de Hollanda, Afonso Florence). Em relação aos dois primeiros grupos, percebo que o noticiário os mantêm sob fogo cerrado, mesmo porque as notícias que os envolvem são sólidas. Mas começo a ter dúvida sobre aqueles considerados ineptos.
Lendo ontem um jornalão, numa sub-retranca (para quem não sabe: uma das matérias agregadas à principal), um repórter tratava com muito cuidado a saída de Ana de Hollanda. Colocava vários "se", "pode" e "deve". Não afirmava, não cravava. Dias atrás, o senso geral é de que ela seria uma das primeiras a rodar. Agora, vejo cuidados em relação a esse vaticínio.
Mesmo porque, convenhamos: a ministra tomou muita traulitada, mas foi especialmente feliz quando disse que era a imprensa que a estava tirando, não o Palácio. Não mandou o "Dilma, eu te amo" do estabanado Lupi, mas mostrou que tem intenção de ficar no cargo. E se tem intenção é porque alguém sinalizou que a possibilidade é boa, que tem muito glacê e pouco bolo nas reportagens que estão saindo.
Não existe demissão antecipada, isso é certo. Existe o boato, a conversa à boca miúda, mas aquele negócio de o cara dizer hoje que vai demitir daqui a seis meses é pura balela. É o tipo do negócio que ninguém  anuncia. Ana vai dançar? Tenho minhas dúvidas.
Como se afere a competência quando o assunto é governo? Batendo bumbo? Alardeando os feitos? Mas isso não é marketing? Ah, é justamente o contrário, ficando caladinho e trabalhando em silêncio, igual mineiro? Mas isso não é omissão? Lula conseguiu tal popularidade apenas porque trabalhou ou porque subiu no palanque e berrou seu governo pelo megafone?
Pois é. Nas casas de aposta de Londres, eu botava a mesma quantia na saída e na permanência de alguns nomes tidos como patos mancos.

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