sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Que mérito, que nada

O café da manhã de ontem de Dilma com os jornalistas que cobrem o Palácio mostrou que o governo começa a fazer a engenharia reversa. Ou seja, quanto mais um assunto é incômodo, mais se insiste na teoria de que nada será feito resolvê-lo. É o caso de Fernando Pimentel: as provas de que fez tráfico de influência são tão grandes ou maiores que as de Antônio Palocci, mas vai continuar tudo como sempre esteve porque a presidente quer aprender a conviver com a pressão de comandar um governo corrupto.
Isso, claro, é péssimo. Para quem diz que é intolerante com malfeitos, Dilma faz o caminho oposto. Prefere manter uma amizade de 40 anos com uma pessoa acusada (acusada, não; as provas estão surgindo aos borbotões) de corrupção do que se dar ao respeito pelos milhares de eleitores que a colocaram lá. A presidente aprendeu o pior do corporativismo.
A menos que a Dilma seja muito esperta e esteja fazendo a política de deixar cair de podre, Pimentel come as castanhas de Natal e bebe o champanha de Ano Novo em frente ao mar de Copacabana, numa cobetura.
Disse ela que o problema é do ministro e não do governo, uma retórica rastaquera de disfarçar que a mão não pertence ao braço. Não se justifica que outros alcançados em flagrante delito tenham deixado a Esplanada pela porta dos fundos e Pimentel não. É claro que o problema era deles, mas é sobretudo do governo quando mantém no cargo alguém suspeito de tráfico de influência.
Talvez fosse mais honesto Dilma dizer que não quer demitir Pimentel porque são camaradas de longa data, em vez de usar eufemismos ridículos. Que somente reforçam a crescente impressão de que o governo pretende tolerar, sim, alguma parcela de corrupção em nome de velhas amizades.
A presidente também falou da reforma ministerial, afirmando que não vai fazê-la. Já não é de hoje que venho dizendo aqui que tinha dúvida de que algumas pessoas, dadas como demissíveis certos, fossem sacadas do governo.
É o típico caso de não mexer no vespeiro: se removesse nomes e mantivesse o confrade Pimentel, a lógica seria quebrada e haveria revolta entre os partidos atingidos pela troca. Ao dizer que não vai mudar coisa alguma, Dilma abre o guarda-chuva e manda todos ficarem sob ele.
A reforma ia sair, mas surgiu um pimentão (perdão: Pimentel) no caminho. Ninguém comenta um assunto com insistência se não houver uma parcela de verdade. Havia a insatisfação com nomes (embora, nesse processo, tenham sido vários os repórteres que se dedicaram à nobre arte de dar chutes no ar), gestões vinham sendo feitas, figurinhas pedidas e sugeridas.
Até que alguém chegou perto demais da presidente. Enquanto se falava na terceira pessoa, Dilma não esquentava a cabeça. Passou a se preocupar à medida que um ministro que ela mesma tirou do bolso do colete não era a figura ilibada que dizia ser. Parou tudo.
Ela voltou até mesmo a se consultar com Lula, que dias atrás a recomendou que, se tivesse de mexer no time, fosse devagar. Esperasse a manifestação dos que vão sair para disputar eleições muncipais, nomeasse o definitivo ministro do Trabalho e parasse por aí. Nem mesmo Mário Negromonte seria removido. Aqueles contra os quais pesa a acusação de ineficiência (Ana de Hollanda, Afonso Florence) seriam aprovados na recuperação.
Até ministérios que seriam suprimidos e secretarias que caminhavam rumo à extinção continuarão a existir. Por questões de prudência, não seria interessante encurtar espaços que são dos partidos, em pleno ano eleitoral. Usarão entes públicos para se cacifarem e jogarem a máquina nas eleições em favor de si mesmos e dos seus.
Vou além: tais pastas servem para abrigar os enjeitados nas urnas, os companheiros vencidos. É um prêmio de consolação que os ajuda a não perder o controle sobre diretórios e zonais.
Dilma, enfim, é rigorosamente igual a Lula e mostra isso ao distribuir presentes de Natal para quem não marece. A meritocracia que a presidente se farta em exaltar não serve para o governo dela.

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