sexta-feira, 27 de maio de 2011

País do deboche

No jornal da uma da tarde, foi mostrada reportagem de um grupo de soldados dançando o Hino Nacional em ritmo de funk. A introdução da música é feita, mas ali pelo terceiro verso entra aquele batuque eletrônico desprezível, próprio desse tipo de música de péssima qualidade. Fardados, começam a rebolar acompanhando o ritmo e levando um dos símbolos nacionais na galhofa. Detalhe: tudo feito dentro de uma unidade militar, no Rio Grande do Sul.
É fácil entender as razões da brincadeira e do descompromisso. O Brasil é pátria-mãe gentil somente no Hino que virou motivo de chacota. Dá pouco e cobra muito dos seus filhos. Não lhes dá segurança, saúde, educação e ainda por cima o achaca com uma carga tributária absurda, razão de críticas de todos os que têm bom-senso. O Brasil só se une na Copa do Mundo. Nem nas tragédias, pois, em 2009, em Santa Catarina, se viu gente roubando doações às vítimas da enchente que devastou parte do Estado. Aqueles que estavam incumbidos de distribuir os donativos escolhiam tênis, camisetas, bermudas e outros itens de vestuário como se estivessem num shopping.
Isso só acontece num país sem educação, sem civismo. Num país em que existe máfia de desvio de medicamentos que deviam ser distribuídos gratuitamente para a população necessitada. Num país em que se permite construir em encostas de morros e ainda se cobra IPTU por considerá-las áreas nobre. Num país que estimula a se fazer casas e barracos em cima de um lixão - e vem tudo abaixo na chuva mais forte. Num país em que filhos de um ex-presidente da República ganham, no apagar da luz do seu governo, passaportes diplomáticos, prometem devolver e não devolvem.
Num país em que a elite não dá exemplo. Ao contrário: explora, vilipendia, cobra, exige, humilha.
Esse é o Brasil, no qual um grupo de soldados vão servir á pátria sem terem a mínima noção do que signifique nação, país. Resumo do desprezo que o estado brasileiro devota às suas futuras gerações.
A mesma emissora exibiu, durante uma semana, reportagens sobre a situação da educação. Apesar das ilhas de excelência, bem se vê que o futuro, a depender da instrução que é dada aos meninos de hoje, está seriamente comprometido. As escolas formam milhares de analfabetos, por mais contraditório que isso possa parecer. Numa matéria, um menino já pré-adolescente escrevia algo que não sabia o que significava. Não sabia interpretar.
O que será dessa criança? Que tipo de cidadão virá daí? À medida que o país avança, vê-se uma quantidade maior de vagas a serem ocupadas por falta de pessoal qualificado. A tecnologia é um bicho indomável que engole gerações e mais gerações de brasileiros. Hoje, para uma tarefa modesta, se exige escolaridade de alguma qualidade.
Para piorar a situação, o Ministério da Educação ainda adota um livro didático em que se estimula o jovem a acreditar que existe uma língua culta e uma língua popular. Nesta segunda, você pode falar tranquilamente "os peixe", "a gente fomos", "nós sou", "os carro" que não estaria errado; simplesmente trataria-se de uma opção de expressão. Impressionante como a ignorância, a boçalidade, a tacanhez, a mediocridade e a miopia são estimuladas pelo estado.
Quer dizer: amanhã pode surgir também uma matemática culta, que permite que operações básicas de aritimética tornem-se diferentes daquelas consagradas. Tudo certo como dois e dois são cinco.
Esse é o Brasil, país do deboche, nação da galhofa. Você se incomodou com a dancinha dos soldados e com o Hino Nacional em formato funk? Não devia. É o resultado de um país deitado em berço esplêndido.

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