sexta-feira, 27 de maio de 2011

Reloginhos e relojões

Contei aqui, num post anterior, minha paixão por relógios. A coisa começou com uma viagem, ano passado, à Suíça. Quando voltei, com dois Tissots no pulso - o segundo comprei no freeshop de Munique, pouco antes de embarcar para Paris - por pura paúra de ser arrochado na Alfândega, quando aqui desembarcasse, comecei a olhar com mais carinho para essas máquinas espetaculares e que muita gente julga insignificantes.
É um erro. Um relógio automático, que funciona simplesmente com o uso, com o balanço do braço, é o mais próximo que se conhece de um moto perpétuo. Uma máquina de, uma vez colocada para funcionar, funciona por si mesma. Poderão dizer que, se tirado do braço, o relógio para. Sim, da mesma maneira que o moto perpétuo pararia se algo interrompesse seu funcionamento.
O relógio automático vem do final da década de 40, início da de 50, pelo menos oficialmente. Quem o inventou, sinceramente não sei dizer. Muitos reivindicam a paternidade e, no final das contas, parece ser o caso de que várias pessoas chegam ao mesmo resultado, ao mesmo tempo. Foram os japoneses que inventaram o relógio a quartzo, que os colocou na frente dos suíços em matéria de tecnologia e precisão. Tanto que grandes marcas suíças tiveram de se adaptar à nova regra, que sobretudo barateia custos.
A partir da minha volta ao Brasil comecei a me interessar pelo assunto. Não sou um especialista, sou apenas um fã e com algum conhecimento para saber que, mesmo no universo da relojoaria, há boas e más relações de custo-benefício. Há muito valor percebido que não justifica o que é cobrado, enquanto outros são extremamente subestimados, embora entreguem produtos de qualidade finíssima.
Naturalmente que grandes marcas serão sempre motivo de admiração e voltadas para poucos. Claro: a elas não interessa se tornarem populares, se fazerem comuns. Quanto mais exclusivas, maior valor agregado. Não se compra um Jaeger LeCoultre Amvox por menos de R$ 10 mil. Mas para quem já teve um nas mãos, o reconhece como obra de arte.
Começando pela JLC, são vários os grandes ateliêres. Quem está de fora credita à Rolex o status da exclusividade. Posso dizer sem medo de errar que trata-se apenas de mais uma das altas marcas. Existem algumas ainda mais exclusivas. A lista é relativamente pequena e, de cabeça, citaria as que me lembro, como a própria JLC, Patek Phillippe, Vacheron Constantin, Breguet, Blancpain, A. Lange & Sohne, Zenith, Officine Panerai, Girard-Peregaux, IWC, Glashütte Original, Omega e Audemars Piguet. Grandes grifes, como Piaget, Cartier, Bulgari, Louis Vuitton e Chanel, embora venham do mundo da moda, têm seus representantes no segmento AAAA dos relógios. Aliás, estão mais para este universo do que para produtos acessíveis ao mortal médio.
Se você que me está lendo chegou até aqui, deve estar perguntando se há algo "mais em conta", mas sem perder qualidade. Sim, há. Aí, depende daquilo que você deseja. Há marcas como Glycine, Bremont e Raymond Weil que oferecem produtos de primeira linha, embora não sejam das mais badaladas por aqui. Outras, como Breitling, Baume & Mercier, Graham ou TAG Heuer, são as prediletas entre aqueles que pretendem se destacar, em frequentar, em ser vistos. Popularizaram-se como da moda e pelo agressivo marketing que fazem, usando atores de primeira linha de Hollywood, como Andy Garcia ou Leonardo Di Caprio.
E tem algo ainda, digamos assim, mais barato? Tem, claro. Os Tissot são conhecidos por serem populares e extremamente honestos. Fazem relógios que considero bem distintos. Nessa gama colocaria os Oris, igualmente excelentes, ou os Hamilton, marca norte-americana que migrou para a Suíça. Têm os Christopher Ward, ingleses, pouco conhecidos por aqui. Ou os Movado, cujos modelos Tempomatic são queridos e respeitados.
O resumo dessa ópera é que nenhuma dessas peças é barata e eu concordo que, mesmo aquelas que em tese seriam marcas de entrada no universo da relojoaria, não podem ter qualquer preço. Japoneses e chineses inundam o andar de baixo com instrumentos de boa qualidade e confiáveis, jogando o preço no chão. Então, quem busca um relógio suíço, inglês ou alemão pretende algo num patamar acima.
É como uísque. Se você quer tomar um drinque descompromissado, um Johnnie Walker rótulo vermelho é uma boa pedida. Se você é um apreciador, vai em busca de um Dimple, um Consulate, um President ou algo ainda mais exclusivo. Mas se o negócio é tomar porre sem se preocupar em acordar com a cabeça inchada no dia seguinte, qualquer Royal Label serve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário